quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O MERCADO COMO COERÇÃO SOCIAL


imagem retirada do Google.


Nos últimos dias refleti sobre várias coisas que me chamaram a atenção em relação ao que vivo e sinto. Talvez o que vou escrever seja polêmico, mas trata-se de uma análise muito pessoal e que vou publicar porque talvez possa ajudar outras pessoas. 

Tenho me sentido muito sozinha, mas encontrei uma forma de lidar com isto que é o atelier. Mas só falo da solidão aqui por estar relacionada ao que pude perceber no mundo. 

Dias atrás ouvi uma declaração do Pe. Fábio de Melo sobre a crise de pânico e ansiedade que ele está vivenciando. Enquanto ouvia me veio - mas, afinal, o problema dele é algo interno nele? ou a causa é o Outro. Coloco com maiúscula mesmo, para diferenciar do outro - outra pessoa. Ele ia falando e dizendo que gostaria de estudar, mas não conseguia, que gostava muito de fazer academia, mas que não podia porque as pessoas dizem que academia não é lugar para padre, e assim foi. E tudo isto foi me chamando a atenção. 

Alguns dias depois vejo uma postagem da Martha Medeiros sobre as mulheres onde ela faz uma crítica feroz a como a mulher precisa ser para ser amada. Ela se refere aos homens, mas no fundo como várias disseram nos comentários, é a mulher mesmo que cobra isto das outras ou impõe isto. E principalmente a competição entre as mulheres. E o mais triste foi ler nos comentários muitas defesas sobre fazer cirurgias dos mais variados tipos para estar sempre jovem alegando que são livres e donas de si, será? 

A sociedade sempre foi coerciva, sempre impôs regras e normas de conduta e comportamento. Mas o que venho notando é que antes estas regras e normas vinham da família, da religião, da comunidade, do Estado, da escola. Estas eram o Outro. E quando alguém destoava, havia espaço para acolhimento, entre as chamadas ovelhas negras, grupos alternativos. Quando se seguia a imposição, você era aceito e acolhido. Quando não seguia, ainda assim não desistiam de você, pegavam no pé para te trazer de volta. 

Hoje o que estou vendo é uma coerção vindo do mercado, do consumismo, do financeiro, ou seja, do capitalismo. Só que estas instituições não acolhem, não aceitam, apenas impõe. Antes o que se buscava era a possibilidade de convivência pacífica, de organizar a sociedade, hoje é lucro, sucesso e felicidade, e acima de tudo, consumo. 

Será que as mulheres que alegam liberdade para optar por querer parecer ter 20 anos quando já tem 40 se dão conta que no fundo o que está ocorrendo é uma perda de identidade? Sim, porque antes tínhamos altas e baixas, gordas, magras, roliças, seio pequeno, seio médio, seios grandes, bunda achatada, bunda grande e assim vai. Hoje a tendência é ser tudo igual - seios melões, bundas grandes, tudo siliconado, pele esticada sem rugas, mas também sem identidade. E vai muito além, porque até a vagina passa por isto para parecer de menina, para apagar os traços de um parto. 

Antes você ao se opor seria um rebelde que precisa ser trazido de volta ao rebanho. Hoje se você aceita as imposições de fora, ninguém liga, tá tudo certo, você está consumindo, mas não há acolhimento nem aceitação, até porque o mercado precisa continuar funcionando, então serão sempre mais cobranças e críticas. E se você é um rebelde, então a coisa fica séria, porque não há uma tentativa como antes de que você se emende, mas ao contrário, a resposta ou é a indiferença e a exclusão ou o discurso de ódio que não aceita diferenças. 

Agora volto a solidão e me pergunto se ainda é possível não estar só neste mundo. Se você anda com o rebanho, ainda assim não é uma conexão íntima, uma relação forte, mas apenas um agrupamento para se divertir, ter sucesso e felicidade, mas, ao contrário, se não anda, é excluída e não aceita, além de ser agredida por ser diferente. 

Claro, nem tudo é tão negro assim, ainda temos a família que consegue se manter um pouco fora disto, mas nem tanto, porque já estão com o mercado regendo também e exigem dos filhos que sejam aceitos, e para isto lhes impõe padrões que nem sempre são os que os filhos desejam.

Não se trata de uma crítica à vaidade feminina, esta sempre existiu e vai existir, mas na falta de consciência ao defender algo como sendo liberdade que não é, pois é uma imposição que vem de fora, uma exigência mercadológica e competitiva que tem causado a massificação dos seres. E também impedido que as pessoas aprendam a lidar com frustrações e com aquilo de que não aprecia.

Antes quando os seios eram pequenos, podíamos até não gostar e desejar que fossem grandes, mas ao final iríamos achar uma forma de lidar com isto e valorizá-los. Claro, é muito bom para quem sofre muito com isto ter uma maneira de resolver a questão. Mas o que me assusta é que hoje se modifica o corpo como antes íamos da saia curta para a longa. E o pior é ver muitas consequências ruins disto tudo, pessoas que fizeram cirurgias e que depois sofrem efeitos colaterais que afetam sua saúde, ou pior, não tem condições financeiras de ir a um bom médico e acabam nas mãos de pessoas inescrupulosas  podendo até morrer.

E toda esta insatisfação e a impossibilidade de fazer o que se deseja, seja pessoal ou imposto de fora, acaba gerando muita ansiedade, inseguranças e medos. Este controle imposto com suas exigências de aparência, comportamentos que visam muito mais ao mercado do que ao ser humano acaba nos levando a uma crise interna que por não ser conhecida e falada gera pânico, ansiedade generalizada ou depressão, ou tudo isto junto, como eu vivi há um tempo atrás.

E para resolver tudo isto, o mercado tem outro produto - anti-depressivos e ansiolíticos. Ao invés de nos perguntarmos o que causou nosso sofrimento, corremos ao psiquiatra para ter uma receita destes remédios e continuar correndo atrás do que nos é imposto.

O que precisamos é nos analisar, nos perguntar o que causa o sofrimento, por que sofremos, por que desejamos algo, será que isto é tão importante assim? por que não faço o que desejo? o que me retém? Por que preciso de seios e bunda grandes? por que tenho que ser magérrima?

A resposta não é simples nem fácil. Não está ali acessível, é preciso ir fundo e descer nas camadas do inconsciente para descobrir o que realmente nos move ou nos bloqueia. Mas vale a pena!!


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MUDANÇAS - A transição no trabalho e o medo que isto gera


                                              foto retirada da net - google imagens. 



Como é difícil mudar, assusta, temos medo, receios, e com isto vamos tocando uma vida que muitas vezes já não é prazerosa ou nos satisfaz. 

Quando eu era menina e adolescente eu amava desenhar e pintar. Depois quando tinha em torno de 20 anos cheguei a abrir uma loja para vender peças que eu pintava que acabei fechando pouco tempo depois, pois não tinha como cuidar da loja e ao mesmo tempo fazer as peças. 

Fiz faculdade, formei-me em Administração e comecei na hotelaria através de um estágio. Foram 18 anos. Virei uma executiva, viajava muito, negociava, era estrategista. Trabalhei para grandes hotéis do Brasil em Minas, Nordeste, São Paulo e até Buenos Aires e Santiago de uma grande rede de Hotéis mexicana. Até o dia que sofri um ataque de pânico. Acordei sem respirar. Ou achei que não respirava, até hoje não sei. Fiz um check up completo e nada apareceu. Fui parar num médico psicossomático que me medicou naquele momento, mas deixou claro que não estava curando a causa e indicou a terapia. 

Lá fui eu fazer análise com um psicanalista. Já faz 10 anos agora. A análise realmente leva tempo, mas aprendi que o grande benefício é que ela realmente muda as coisas, e não apenas desloca para outro lugar. Quando mexe em algo é pra valer. Não é fácil mudar coisas que estão encalacradas na gente, que vem de anos atrás, que se cristalizaram, que viraram uma espécie de ordem e lei. 

Durante a análise me voltei para o intelectual, fui fazer a faculdade de Filosofia que desejava, e estudei antropologia em um grupo por 03 anos. Aprendi muito. Eu sempre me sentia meio burra quando lia artigos com aqueles temas filosóficos, ou palavras que eu não conseguia interpretar. Então valeu a pena. A antropologia me ensinou muito mais sobre a vida e como viver do que sobre a ciência em si. 

Mas continuava um buraco dentro de mim. Eu ficava rodopiando em volta e nada o preenchia, satisfazia. Foi um processo longo, difícil, mas que é possível de travessar. Eu já havia voltado a pintar, comecei como um lazer, uma diversão. Então começou a vender. Abri uma loja no ELO7 e foi vendendo. Mas o que me faltava era coragem de acreditar que se pode viver disto, que se pode trabalhar com arte e artesanato e conseguir com isto uma autonomia financeira. 

Percebi o quanto eu estava presa a um sistema que dizia que tudo tem que ser produção = lucro, e quando comecei a produzir somente peças que vendiam eu literalmente murchei, e fiquei bloqueada. Eu vi diante de mim uma linha de montagem e não mais de criação. E ouvia comentários dizendo que tinha que ser assim, para dar lucro. Eu também sentia medo de não dar certo e ser cobrada por isto. Ter que pedir ajuda aos outros. E acabou acontecendo. Foram dois meses que fiquei parada e entrei num processo depressivo, de solidão. Fiquei triste, e sentia uma dor profunda dentro de mim. 

Como é difícil assumir seu desejo e mudar. Fazer o que realmente queremos. E o mais difícil, acreditar nisto e confiar de que o resultado vem e é possível sim ganhar seu sustento com este trabalho. O momento é difícil, é de crise, a venda de artesanato é algo mais supérfluo, mas as pessoas continuam comprando uma peça ou outra. Há formas de oferecer produtos que sempre vão ser desejados porque atendem também a algo muito importante para a pessoa, como seu casamento, o nascimento de uma criança, ou uma peça bonita que vai decorar sua casa e também não é algo que custe uma exorbitância, está dentro das possibilidades financeiras das pessoas.

Nesta segunda retomada consegui fazer uma divisão no meu trabalho. Hoje mantenho o que chamei de linha de montagem, apesar de que cada peça é única, e sempre feita com muito amor e dedicação, não é algo massificado. Só que não preciso mais criar em cima dela, já sei o que tem que ser feito e como. Por outro lado abri mais ainda o espaço para a criação. E o grande passo foi abrir o espaço interno, ou seja, deixar a mente fluir e a criatividade vir, sem medo do que os outros irão achar ou se vai vender. E o incrível é que cada vez que faço algo assim é justamente a peça que vai receber mais elogios e comentários. Aí ela se torna uma peça de "linha de montagem" rsrsrs.

E a arte, a criatividade, a criação autoral é algo gratificante e libertador acima de tudo. E reflete em nossas vidas. Vamos nos sentindo mais livres, menos presos ao sistema ou a certas regras que nem sei porque inventaram, porque não trazem benefícios, apenas controlam os outros para que nada mude, nada se crie de novo.

Saí do mundo executivo onde o que imperava era a estratégia, a competição, o resultado e os lucros para um mundo criativo, enriquecedor, mais livre, e que também gera lucro. E traz prazer, contato com pessoas mais leves, com ideias ótimas, também criativas. Só posso dizer que valeu a pena  apesar do medo que senti na travessia neste modo de viver e de ganhar a vida. Aprendi a acreditar no meu trabalho e a valorizá-lo, coisa que antes eu não consegui devido à competição existente. Sempre tinha que ser O melhor, vencer, competir e ganhar. Como valorizar algo num mundo assim? Na arte cada peça é uma, ela não compete com a outra. E há vários gostos, sempre há alguém que vai querer uma peça roxa ou magenta, e tem aquela que gosta do azul clarinho, do branco. Então não há como dizer que a azul clara é mais bonita que a roxa.

Alguns irão gostar de algo simétrico e outros do assimétrico. Alguns querem peças bem formadas com curvas redondas e outros preferem uma moldagem em barro torta, sem muitas definições. E neste leque você tem espaço e liberdade para ir criando. Tenho meu gosto pessoal, mas posso também libertar minha criatividade para fazer coisas diferentes disto, e aprender a apreciar outras coisas. Já me aconteceu de um cliente me pedir algo que de início pensei - que estranho vai ficar e quando pronto fiquei encantada com a peça.

Por isto, apesar do medo, da insegurança é preciso enfrentar e ir em busca daquilo de que realmente gostamos e nos faz bem. 


A VIDA EM UM JARDIM



Ontem coloquei um prato de cerâmica novo para alimentar os passarinhos aqui em casa. Já estrearam hoje de manhã. Agora no inverno eles vem em maior número, há menos frutas nos pomares e por isto eles buscam alimentos em outros lugares. Já notei que na maioria das vezes são os mesmos que vem. 

Estes pequeno seres "penudos" como os chamo são interessantes de observar. Há rivalidade entre eles, mas também tem os casais que vem sempre juntos. Mas ao final tem para todos. Sou péssima quando se trata de nomes de passarinhos, mal sei identificá-los. Tem dois amarelinhos que não são canários que formam um casal e todos os dias ficam aguardando e quando coloco as sementes e quirera eles vem. Tem várias rolinhas, estas conheço. 

Mas quero aumentar este jardim vivo. Alguns comem no chão, mas tem outros que precisa ser no alto. Para estes ainda não tenho nada. Já o João de Barro está sempre aqui, mas nunca o vi comer do que dou, ele está sempre ciscando a grama. 

Eu amo acordar e ouvir o canto dos pássaros. Mas eles tem que estar livres. Foram feitos para voar e enfeitar o mundo. Nada mais triste do que um pássaro em uma gaiola. E eles voltam sempre, não são pássaros diferentes todos os dias, pelo contrário, eles se acostumam e vem. Eles ficam por perto sempre. Eu noto inclusive que eles engordaram. E este é um ponto muito importante, quando se começa a alimentar os passarinhos não se deve parar. Então me pergunto, para que mantê-los em gaiolas? tirar a liberdade destes pequenos seres apenas para garantir que fiquem ali. Não precisa, eles estão sempre por perto de quem os trata bem. Chega ao ponto de um dia virem na mão. 

Tem também o beija-flor que está sempre por aqui, ele vai direto nas flores que tenho. O bem-te-vi e o sabiá. 

Para tê-los no jardim não é apenas colocando sementes e água para eles, mas certas flores e árvores frutíferas os atraem. Eu também vejo alguns se alimentando em minha horta, eles adoram uma folha de alface e couve. 

Mas um jardim não é apenas pássaros, ali temos vários insetos que são benéficos para as plantas e para nós. As joaninhas, por exemplo. Eu tenho um pé de alfavaca que é o paraíso das abelhas. Chego perto e ouço elas trabalhando. E nunca me atacaram, mesmo quando vou lá e mexo na planta. Ando no meio delas, e não me fazem nada. E faço questão de mantê-las. Estão em extinção e são elas que polinizam meu jardim. 

Tenho outro morador, este pode ser o verdadeiro horror de algumas pessoas, mas eu gosto muito dele, é um sapo. Só uma vez ele me causou um problema quando resolveu transformar o pote de água das cachorras em piscina. Minha labradora ficou extremamente indignada e ficou latindo sentada ao lado do pote e olhando para aquele ser dentro de seu pote até eu ir lá e retirá-lo. Tive que passar álcool no pote para tirar o cheiro do sapo. Mas até ela com o tempo se acostumou com o sapo, e teve dias que ela dormia ao lado do pote e o sapo se banhava tranquilamente. Tive então que colocar outro pote com água para as cachorras e deixar a piscina do sapo. 

O sapo come insetos que não são desejáveis ter por perto. E não faz nada para ninguém. Ele pode ser feio, principalmente o comum que é marrom e bege, mas é muito útil. Acho interessante que algumas pessoas colocam sapos em cerâmica no jardim, mas se tem um vivo saem gritando. Além de comer insetos o meu avisa quando vai chover, ele começa a coaxar e eu digo que ele está chamando chuva. 

Tive o privilégio de crescer no interior. Então formigas, aranhas, sapos não me assustam. Só tenho pavor de cobras, apesar de terem tentado me ensinar que as cobras se deve falar com elas, eu saio correndo e peço socorro. 

Atualmente a vida nas grandes cidades nos tira estes pequenos prazeres. Mas estes pequenos seres vivem nas cidades também. Basta uma sacada com plantas, flores e lá estão alguns deles. Coloque um pratinho com sementes na varanda ou sacada e os passarinhos irão vir. Nos parques e nas árvores nas ruas eles estão lá. Nós é que não temos mais tempo para perceber isto. 

Mas um jardim vivo com plantas que nascem, crescem, dão flores ou frutos,  morrem, é o ciclo da vida e nos ensina muito. Pequenos animais, insetos, pássaros, tudo isto está ali, vivendo pertinho de você. Se aprendemos a observá-los vamos conhecer a natureza, vamos saber quando vai chover, quando há perigo no ar, quando tudo está bem. 

Criar um jardim vivo, deixá-lo colorido e acolhedor é uma arte e um imenso prazer. Uma terapia estar em contato com a terra, e eu não uso luvas para isto, pois gosto de sentir a terra nas mãos. Podar, cortar os galhos mortos, tirar as folhas secas, e que você pode ainda utilizar para fazer compostagem. E o prazer de ver as flores se abrindo, colorindo tudo. Não consigo me imaginar em uma casa sem flores.

Tenho pés de lavanda, que deixo secar para fazer sachês e perfumar a casa, as roupas. Plantas medicinais e temperos que colho na hora que preciso. As flores sou um pouco beija-flor, gosto muito de flores vermelhas. Gosto da mistura do verde com o vermelho, deixa a casa alegre e quente.

Nada é mais gratificante para a alma do que ter um jardim vivo, com vida, sejam pássaros, insetos, pequenos animais, e as plantas. É um bálsamo. 





quarta-feira, 26 de julho de 2017

AS AVÓS

Hoje, dia dos avós, aproveito para falar destes seres tão especiais e importantes em nossas vidas.

Feliz é a criança que pode ter contato em vida com seus avós, infelizmente muitas só os conhecem de fotos, mas as histórias que contam sobre eles ficam registradas e são de vital importância. Eu só conheci meu avô materno, os outros já haviam falecido. E o vi pouco, ele morava na Bélgica e eu aqui no Brasil. Mas mesmo assim guardo lembranças dele que são muito importantes e que não vou esquecer jamais. Mas minha avó paterna tem uma história incrível e é justamente com ela que me identifico. Por aí podemos ver como as histórias contadas sobre eles são de suma importância. 

Quando falamos de avôs sempre nos vem uma imagem de velhinhos de cabelos brancos. De um avô que ensina a pescar, cuidar do jardim, que faz um balanço no quintal para nós e de uma avó que faz quitutes deliciosos, nosso bolo preferido, tricota blusas, e nos dá presentes além daquele colo maravilhoso de avó. 

Mas atualmente os avôs mudaram, muitos ainda são bem jovens, estão em pleno vigor de suas vidas, trabalham, viajam. Alguns estão separados e se casaram novamente, outros namoram. Meu neto costumava apontar para os aviões e dizer - vovó. Quando ele era pequeno eu ainda trabalhava na hotelaria e viajava muito. Quando ele nasceu eu tinha 41 anos. Fui mãe muito jovem. 

Esta situação muda um pouco a relação com os avós que já não estão disponíveis o tempo todo e levam uma vida ativa, mas por outro lado enriquece a relação por estarmos no mundo vivenciando o mesmo que eles. O importante é conseguir aquele tempinho para os netos, por mais difícil que seja. 

Costuma-se dizer que avós estragam a criança. Delícia isto, não precisar ficar educando e poder curtir os netos, brincar, e até protegê-los da bronca dos pais. Mas existe um outro lado muito comum atualmente, onde se vê os avós no papel de pais. Muitos filhos trabalham e são os avós quem cuidam do neto e acabam educando-o. Isto acaba tirando os avós de seu papel fundamental na vida das crianças para transformá-los em pais, e estas acabam tendo duas mães ou dois pais, quando não elegem a avó ou avô como pais e olham para seus pais como irmãos inconscientemente. 

Por outro lado os pais também acabam tendo uma tendência em transformar seus pais nos pais de seu filho. Vivem na correria, mal tem tempo de cuidar da criança, e só estão presentes, quando estão, nos fins de semana. Ou então moram todos juntos, e aí é que o papel de irmãos acaba se consolidando mais, porque os avós já não estão em seu papel normal, mas são eles os donos da casa, os que regem o lar. 

Agora o mais triste são os avós que são deixados de lado, por falta de tempo, por preconceito com a velhice, por darem trabalho. E quando os pais agem assim, a criança também aprende a achar a velhice algo que incomoda e é chato. E todos se esquecem que irão envelhecer também. 

Os avós são fundamentais em nossas vidas, seja pela presença deles ou pelas histórias sobre eles. Nos marcam, nos constituem, são referência, são identificação. Os avós personificam a sabedoria, o amor, o acolhimento, a paz. Nada como um avô ou uma avó quando algo de ruim nos acontece. 

Claro, existem  alguns avós que são difíceis de lidar, são pessoas rabugentas, teimosas, ou então querem ter autoridade sobre tudo e todos se valendo de sua experiência e de ser mais velho. Mas eu ainda acredito que avós assim usam tudo isto como uma defesa, um escudo para se manterem vivos e reconhecidos. Então vale a pena observar melhor a situação e tentar compreender porque estes avós são assim. Talvez tenham dificuldade em envelhecer, se sintam sozinhos ou inúteis, se sintam abandonados. Ou então se sentem sendo invadidos pelos filhos que pensam que eles não são mais capazes de cuidar de si e de tomar decisões. Filhos que acham um absurdo seu pai ou sua mãe quando sozinhos se apaixonarem por alguém nesta idade, que acham que pai e mãe são assexuados e devem ficar quietos em casa vendo TV ou tricotando. 

Também temos pais que afastam seus filhos dos avós. Não os levam para visitá-los, não os convidam, vivem falando mal deles, e isto é tremendamente prejudicial para a criança que precisa deste entorno e referências, além do amor dos avós e de amá-los. 

O nascimento de um neto é algo inexplicável. Parece que sai de nós também. É uma prolongamento, uma extensão de nós mesmos. A emoção é muito forte e aquele pequeno ser que acaba de vir ao mundo, nós o sentimos como saindo de nossas entranhas. Nos apaixonamos, amamos, e sentimos que valeu a pena viver, que ali está nossa continuidade, a herança que deixamos e que irá se perpetuando através das gerações vindouras como os bisnetos e assim por diante. 

E vale lembrar aqui agora os Bisavós, Tataravós e do quanto estas pessoas fazem parte de nós. Também nascemos deles e somos parte deles. Os carregamos em nós, temos suas histórias em nós. 

Esta foto é da minha tataravó Matchuli, referência até hoje para toda minha família materna. 

terça-feira, 25 de julho de 2017

A DIFÍCIL TRAVESSIA DA LIBERTAÇÃO DO OUTRO

Desde pequenos fazemos de tudo para ser amados, e isto nos condiciona a sempre querer agradar ao outro para ser amado. Pensamos que sendo bonzinhos, prestativos, atenciosos garantimos este amor. 

Claro que ser bom, prestativo e atencioso é importante, mas tem um limite. E este limite é o que chamo de meu território, meu espaço e o respeito ao que eu sou e desejo. Mas como é difícil colocar os limites neste território. Até os animais fazem isto, tem seu território e seus limites. E mesmo um cachorro, que ama incondicionalmente, quando algo lhe desagrada ele pode não reagir ao seu dono, mas nós percebemos que ele não está gostando. 

Mas nós estamos sempre querendo o reconhecimento, o amor do outro, queremos ser elogiados, admirados, temos medo de desagradar ao outro, temos medo que o outro nos vire as costas. Trazemos em nosso inconsciente esta dependência infantil, do bebê humano que depende do outro para sobreviver, do desejo do amor dos pais que iremos reproduzindo e projetando durante nossa vida adulta. 

E mesmo que racionalmente saibamos que o outro que nos ama, ama com todos os defeitos também, do contrário não é amor, quem disse que agimos de acordo com isto. Quanta dificuldade para se posicionar e não sentir mal estar, culpa. Mesmo fazendo isto muitas vezes voltamos atrás, damos o braço a torcer, e achamos que valeu a pena, pois o outro voltou a sorrir para nós. 

Mas nestas relações há um gozo de ambos os lados. É o famoso sadomasoquismo. O que goza por ter autoridade sobre o outro e o que goza ao sofrer com isto. E o mais interessante é que buscamos relações assim sem o perceber. 

O caminho para a libertação disto e de poder suportar que uma relação de gozo se rompa no momento em que nos libertamos é longo. Sim, porque o mais provável é que realmente o outro vai deixar de "gostar" de nós, porque ele também precisa desta relação neurótica de estar por cima, de achar que é amado porque sabe tudo, porque é a autoridade, ou seja, o pai ou a mãe. 

Muitas mulheres buscam amigas que eu chamo de "grandes mães". É aquela que sabe tudo melhor que você, que sempre tem razão, que te critica sem parar, que dificilmente te fará um elogio, e que quer acima de tudo que os desejos dela sejam realizados e não os seus. Uso o termo mãe porque falo de uma mãe imaginária que criamos dentro de nós. Aquela mãe que achamos que nunca conseguimos conquistar o amor como queremos. Aquela mãe que achamos que nunca está satisfeita com o que fazemos e vive nos cobrando mais. 

Mas você vai percorrendo o caminho da libertação e chega um dia que consegue. Neste momento é quase 100% certo que esta amiga irá se afastar. Não fará mais sentido para ela ter sua amizade, porque ela também vive a relação neurótica com você. E isto acontece em muitas relações, casamentos, com chefes etc. 

Quantas vezes você não conseguiu dizer não? quantas vezes se calou mesmo discordando? quantas vezes pediu desculpas mesmo achando que não devia? quantas vezes ficou de cabeça baixa diante do outro para depois se remoer de raiva? quantas vezes deixou de fazer algo que queria porque o outro criticou ou desprezou o que você desejava? quantas vezes você sentiu sarcasmo ou deboche na voz do outro e isto te incomodou profundamente? 

E nem sempre este outro o faz por inveja ou maldade. É realmente aquele lugar de grande mãe que deseja que o filho ou filha seja médico e este resolve ser bailarino. É o lugar da mãe que sonha com um casamento com alguém de alta posição social ou intelectual e você se apaixona por um hippie. Nas amizades isto também funciona assim. Sua outra grande mãe deseja que você siga por um caminho que na opinião dela seria o melhor, ela quer te moldar à imagem dela, e age desta forma. E se você "escorregar" pronto, vem a crítica, o deboche, o sarcasmo. Você já não corresponde mais ao ideal dela. 

E penso que realmente buscamos estas grandes mães para poder fazer a libertação. Projetamos nestas pessoas aquilo que está dentro de nós, em nosso imaginário. Claro que sempre as encontramos e quase sempre serão assim, até o dia em que você se libertar e perceber que existem outras pessoas que já se libertaram disto também e serão capazes de respeitar as diferenças, o desejo do outro, e te apoiar em vez de criticar. 

Acontece também de no momento que você rompe isto o outro também sofra uma mudança, afinal a projeção dele também sobre um abalo, e com isto a relação ser possível de ser mantida. Mas o mais comum é que se rompa neste momento. Dificilmente os dois estarão traçando o mesmo percurso em busca de uma libertação. Por que ser a grande mãe também é uma prisão, é não ser capaz de respeitar o outro como um ser único com suas singularidades e diferenças. É querer que o outro atenda aos seus desejos e com isto invadindo o outro, se transformando em uma grande sombra em cima do outro. 

A satisfação e o bem estar que gera poder finalmente ser quem você é, fazer o que deseja, suportando as críticas ou desaprovações do outro, suportando afastamentos que isto irá provocar, mas ao mesmo tempo abrindo novas oportunidades e novas relações, de finalmente poder ter um gozo saudável, de algo que lhe traz prazer e satisfação, tudo isto não tem preço. 

Quando estamos libertos o reconhecimento e o elogio tem outro sentido, é a valorização do que você é ou fez, não um prêmio de amor ou consolo, do tipo mamãe gostou, que bom, ela me ama e mamãe fica feliz porque você fez algo que ela gostou ou queria que fizesse. Quando estamos libertos já não precisamos brigar com unhas e dentes para fazer o que desejamos, podemos fazer, e no máximo rosnamos para afastar quem quer invadir ou ocupar este espaço dentro de nós, como um alerta, pode parar, não vou fazer o que você acha que devo fazer. 

Agora esta libertação requer maturidade e responsabilidade. Requer a capacidade de arcar com as consequências do que você faz ou é. E este é o ponto crucial a ser atravessado. Ter a coragem para isto. Nada de correr para o colo do outro se der errado, esperando que o outro resolva para você o que fez. Buscar uma palavra amiga ou apoio é uma coisa, mas querer que o outro assuma seu erro é que não pode. Você tem que ser capaz de rir inclusive de seus erros ao invés de chorar. Aceitar que erramos, que não deu certo, avaliar e analisar o que foi que aconteceu ao invés de se culpar ou querer receber um consolo do outro. Se for preciso fique quieto alguns dias, até pode chorar para aliviar a frustração. Depois respire e aja, faça algo, mude, esqueça, transforme, desista, mas não antes de analisar tudo. 

Esta libertação requer que não desejemos envolver o outro conosco para dividir com ele a responsabilidade, ou pior, fazer com que ele arque com isto. Precisamos ter a coragem de fazer e assumir, de ser e assumir. 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O PRAZER DE MORAR EM CIDADES PEQUENAS


Esta é a vista que tenho de minha varanda. Isto é uma benção. As árvores, as araucárias, ao fundo a serra. O balão, em dias claros nos fins de semana sempre tem balões passando. É um passeio que sai dos Campos Gerais. 

O por do sol é algo maravilhoso visto de minha casa. As noites de luar, sem falar nos pássaros, até mesmo uma coruja branca já vi no meu murro. 

No inverno é mais frio, não tem prédios que segurem o vento, e ele "canta" aqui. Quando tem temporais o trovão é mais forte. A geada deixa tudo branco. Quando tem arco iris é lindo. Podemos respirar, e encher os olhos com esta vista. 

Faz 04 anos que optei sair de uma capital e retornar para uma vida mais interiorana. Não me arrependo em nenhum momento. E esta cidade que escolhi fica a apenas meia hora da capital. Muitas pessoas que moram aqui trabalham em Curitiba e vice versa. Continuo tendo acesso a tudo que uma cidade menor não ofereceria, como teatro, shows, museus, exposições e cinema com filmes mais cults, apesar de termos aqui também um bom teatro e até um festival e escola de teatro, temos um museu e exposições, e feiras da mulher e da porcelana. 

Eu sempre amei a vida no campo, o rústico, os sítios, as fazendas, os bosques, as florestas. E como fizeram falta, apesar de que Curitiba tem uma grande diversidade de parques e ainda mantém imensas áreas verdes. 

Campo Largo é a terra das cerâmicas, brancas ou de terracota. Também é a terra da porcelana. As cerâmicas não são industrializadas, são sítios, barracões com um ou dois fornos. Geralmente é a família quem trabalha ali. Você tem contato direto com o dono. A porcelana já é industrializada. 

Há muitas colônias em volta, sítios e chácaras. Você pode ir e comprar ali mesmo, e mais, pode colher o que quer. Queijos feitos em casa, leite de vaca puro, pães pretos, manteiga e nata. Todo sábado tem uma feira no centro da cidade dos colonos. 

Você vê pessoas à cavalo na cidade. Tem muitas festas de Santos nas diversas igrejas das colônias em volta da cidade. 

Mas é uma cidade que oferece coisas sofisticadas também. Tem excelentes confeitarias, restaurantes, lojas muito boas e em breve terá um shopping, o que eu pessoalmente não faço questão, mas enfim.... E possui uma dos maiores hospitais da região. Muitos vem da capital para este hospital. É moderno e muito bem equipado. Temos excelentes médicos aqui e todo mês passam na minha casa as moças do SUS para ver se estou bem. 

A cidade oferece algo que aprecio muito. Não tem características da cidade grande, mas também não é tão provinciana onde o povo controla tudo, sua vida e a vida social. É um meio termo, talvez por estar bem próxima de uma capital.

Fica a 25 km de Curitiba e como é triste ouvir pessoas dizendo que moro no mato. O desprezo pela opção por uma vida mais calma, menos estressada, sem aquele trânsito da capital, sem a correria, as filas, sem o estresse dos outros. Aqui vou ao Detran na hora do almoço e resolvo tudo em 10 minutos. Vou ao Banco do Brasil pagar o licenciamento do carro e tem duas ou três pessoas na frente. Vou ao INSS e sou atendida no horário agendado. Quanto tempo ganho em minha vida com isto?

No supermercado ainda há garotos que levam a compra até o carro. E o que mais me surpreendeu, a caderneta para marcar o que você comprou. Nada de fichas, documentos, aprovação de crédito. Existe uma confiança no outro que já não há em grandes centros urbanos. Foi logo quando cheguei que vi isto a primeira vez, precisava de uma antena para a TV e fui num sábado olhar e disse que iria voltar durante a semana depois que recebesse. O que? e vai ficar sem TV no fim de semana? não, to mandando o técnico daqui a pouco na sua casa para instalar, depois você passa aqui e me paga. Não tive que assinar nada. Há várias lojas que funcionam ainda com a caderneta, anotam no caderno o que você levou. Só pedem teu telefone. E eu aprendi a confiar novamente nas pessoas.

Hoje faço Santas e as deixo no local combinado, passo lá depois para pegar o dinheiro que a pessoa deixa. Às vezes levam as Santas, e depois deixam o dinheiro. Não conheço os clientes, apenas de falar no telefone. Pego ração para as cachorras e eles anotam num papel, depois passo e pago. Claro, há calotes aqui também, mas as pessoas primeiro confiam.

Tem pessoas que não vem me visitar aqui, querem que eu vá para a "civilização". Este preconceito que várias pessoas tem em relação às pessoas do interior é algo triste e eles não sabem o quanto é muito melhor viver longe das cidades grandes. A qualidade de vida é muito superior. É muito mais saudável tanto para o físico como para a mente e o psiquismo.

Acordo com passarinhos cantando e aliás, me aguardando, porque todos os dias de manhã eu os alimento. Chegam a pousar na minha janela e me olham quando acontece de eu demorar. Ficam pousados no fio elétrico me aguardando. O sol bate na casa toda, não há sobrados ou prédios grudados. O cheiro do ar é do mato, da natureza. O único barulho estridente que temos aqui são os quero-quero, que vivem dando seus gritos, inclusive no meio da noite, principalmente se estiverem com filhotes.

Sou muito mais feliz morando aqui, olhando esta natureza a minha volta que me enche os olhos, me traz paz. A natureza é algo que nos renova, dá energia, disposição e ao mesmo tempo acalma. Valeu a pena mudar para cá. 

quarta-feira, 19 de julho de 2017

PINTURA EM TELA x VIVER



As vezes pensamos que não temos capacidade para tanto, mas quando colocamos a mão na massa com amor e dedicação vai saindo algo e quando olhamos nem acreditamos no que fizemos. 

Muitos anos atrás eu fiz um curso rápido de pintura em tela. Eu tinha em torno de 13/14 anos e pintei 03 telas. Depois o curso acabou e confesso que nunca me senti segura para pintar telas apesar de um enorme desejo. 

Então este ano procurei algum lugar que tivesse um curso e encontrei aqui mesmo onde moro no Atelier da Ariane com a artista Angela Moreira Costa. E lá fui eu. Este quadro acima é o primeiro que estou tentando fazer, a Angela tem dando suas pinceladas nele para me ajudar e mostrar como fazer e estou adorando. Não está finalizado ainda, mas em breve estará. E vou continuar por ali para ir aprendendo cada vez mais e me aperfeiçoando nesta arte. 

É muito diferente de pintar gesso, cerâmica e MDF que já faço. E isto nos ensina sobre viver também. Nas peças que faço há limites bem definidos, e mesmo no Bauer você está dentro de um espaço definido e pinta em formato de gotas puxando a tinta por cima da outra. Já a pintura em tela te ensina a mesclar, esfumaçar, salpicar, sombrear. As tintas entram uma na outra, os limites nem sempre são definidos, há um esboço que nos guia, mas tirando as paredes da casa e da ponte o restante ocupa um espaço sim, mas não é definido de forma exata. 

E isto te dá uma liberdade muito maior, libera sua mão. É interessante eu perceber o quanto é difícil liberar a mão, deixá-la ir, arriscar nas misturas e ver o efeito. E aí fico pensando no quanto na vida também acabamos andando em espaços delimitados, agindo de maneira conhecida e sem sair muito destes riscos ou espaços que criamos e temos. Também arriscamos pouco em mesclar as coisas, misturar, esparramar, salpicar na vida. Sempre ouvimos que temos que ser mais objetivos, seguir uma linha, um mestre, uma rota, um caminho traçado e atingir a meta lá no final. 

Ainda ontem ouvi que quero fazer muito, mesclar muito. Sim, exato, estou aprendendo a mesclar, a soltar, a liberar, a sair fora de linhas demarcadas. Somos tão automáticos. Sempre fazemos o mesmo caminho para casa, nunca mudamos de rua, sempre vamos na mesma padaria, que até pode ter um pão gostoso, mas porque não experimentar outra para ver o que tem, vestimos sempre um mesmo estilo, mas porque não experimentar, nem que seja no provador, outro estilo ou cores? receitas novas de culinária, outro jeito de fazer, assistir um tipo de filme ao qual não estamos acostumados, como no meu caso ver uma ficção científica. 

O sombrear nos ensina que há sombras sim na vida, que nem tudo é claro e brilhante. Mas também percebemos que as sombras são necessárias e acabam dando mais vida. Esfumaçar as coisas que pesam demais, deixar as cores se misturarem em nossas vidas também, e o mais legal, a tinta a óleo é muito fácil de misturar para criar outras cores, então vamos criar coisas novas em nossas vidas com o que já temos a disposição. 

O ato de pintar uma tela liberta nosso cérebro, nossa mão, e é aí que percebemos o endurecimento, o automático, ao invés do fluir, do soltar. 

Além disto é interessante porque temos que primeiro fazer o fundo da tela, então pintamos o azul e o branco do céu com nuvens, para somente depois dar forma a isto com pinceladas, salpicadas, chapiscando, espatulando. E isto nos ensina que algo que pode parecer sem graça, básico pode se transformar em algo muito bonito e interessante. 

Conheci uma artista que tinha imensa dificuldade em dar vida a um rosto, ela mesma comentava que não conseguia deixar o rosto leve, fluido. Quando penso nas características desta pessoa, de como ela levava sua vida, na forma como pensava e agia, percebo que ela não vai conseguir enquanto não se soltar, aceitar que as coisas podem se mesclar, sair da linha. Ela é muito sistemática, mas pinta flores maravilhosamente bem, talvez por amar a natureza e compreendê-la melhor que ao ser humano. 

Estas aulas de pintura estão me fazendo um bem enorme, e além disto tudo é muito prazeroso passar um tempo em meio a mulheres que falam, conversam, choram e morrem de rir. 


terça-feira, 18 de julho de 2017

AS AMIZADES FEMININAS

Fico sempre me perguntando por que é a mulher a maior inimiga da outra mulher? Vejam bem, de onde vem as maiores críticas que recebemos? 
- Você precisa fazer um regime
- Você precisa pintar o cabelo
- Você precisa colocar botox
- Você precisa....... 
E assim vai. 

Além disto em geral as mulheres comentam com as outras e principalmente com os homens suas críticas às outras mulheres. Normalmente é uma mulher que irá condenar, criticar, ridicularizar a outra em primeiro lugar. 

Por que tem que ser assim? Que competição é esta? Ao invés de serem unidas, solidárias, criarem uma conexão entre as mulheres. 

Historicamente isto vem do patriarcalismo que tratou de isolar a mulher no lar. A religião que confina a mulher ao casamento e à criação de filhos. Toda uma norma social onde o homem é para a rua e a mulher para a casa. A divisão entre a mulher dita direita e a outra, a prostituta. Vem de uma época onde a mulher ou casava, ou entrava para um convento, ou em último caso ficava em casa para cuidar dos pais idosos e era conhecida como "tia". Ficou para tia. 

As coisas mudaram, a mulher conseguiu direitos, foi trabalhar fora, se emancipou, adquiriu independência financeira, e hoje é na maior parte dos lares a provedora. Mas então? porque seu relacionamento com as outras mulheres continua preso neste sistema patriarcal e machista? 

Até que ponto então nos emancipamos? nos tornamos independentes? Ainda queremos o marido, o homem que cuide de nós? a nova linguagem vai dizer que não, que queremos um companheiro. Sim, mas a conquista deste companheiro ainda se baseia na extrema competição com as outras mulheres. E isto é insegurança, falta de amor próprio, medo de ficar para tia. 

Fico observando, os homens costumam ter um grupo de amigos que se encontram, seja no futebol, seja no boteco, um grupo que viaja junto e assim vai. Agora as mulheres, onde estão os grupos das mulheres? Tenho visto alguns, mas o que percebi é que a maioria destes grupos é formado pelas esposas do grupo dos homens. E olha, dá confusão! e o pior, as mulheres brigam, se separam, mas os homens continuam amigos. 

O que vemos são grupos de mulheres que trabalham juntas ou na mesma área que vez ou outra se reúnem para um café, um almoço, um happy hour. Mas a partir do momento que uma delas saia do trabalho ou da área, ela se afasta do grupo ou é excluída do grupo. 

Eu já tentei formar grupos de mulheres. Mas o que ocorreu foi que logo uma se desentendeu com outra, e começou a boicotar as reuniões. Se fulana for eu não vou. Ou então até ia, mas ficava de cara feia e dando espetadas na outra. Parece que temos que ter amigas, mas não podemos juntá-las. Vai dar encrenca, uma não vai gostar do jeito da outra. Agora, os homens fazem isto? só se o cara for muito chato e ainda assim são capazes de levar na brincadeira e aturar o cara. 

Claro, existem grupos de mulheres que se mantém, são mais difíceis de encontrar, mas não é inviável. A mulher tem uma tendência a se unir a uma amiga, e tem ciúmes de todas as outras que se aproximam, são rivais, e estas amigas são para desabafar, para falar de seus problemas e dúvidas, e algumas vezes para se divertir. As mais jovens até tem um grupinho para as baladas, mas assim que uma delas começa a namorar se afasta do grupo. Já o homem vai continuar dando um jeito de encontrar seus amigos. 

O que é raro é um grupo de mulheres que se conheceu quando solteiras e se mantiveram unidas e juntas por toda uma vida, encontrando-se, reunindo-se. Acompanharam a vida uma das outras, os filhos, os casamentos, mortes, doenças, e fizeram muitas coisas boas juntas. Apoiaram-se, nutriram-se, estão presentes em qualquer momento. 

A mulher tem normalmente o que chama de amiga íntima, já o homem não tem o amigo íntimo, ele tem amigos em quem confia, com os quais pode contar quando precisa. 

Penso que precisamos mudar isto, tentar nos libertar destes velhos grilhões impostos e procurar olhar a outra mulher como amiga, não como uma rival com a qual tenho que competir. Estar presente na vida de uma amiga para ajudar, acolher, não para fazer críticas. 





FIM DE SEMANA CRIATIVO



Fazendo o que mais amo - Criando!!! Isto renova minha alma e me traz uma grande paz, satisfação, prazer. 

Na semana passada andei pelas cerâmicas, fui aos fabricantes de MDF e aos gesseiros em busca de peças novas que eu pudesse fazer algo diferente. Esta etapa já é imensamente prazerosa, desperta a criatividade, faz a mente funcionar, a imaginação, a criatividade. 

Depois é hora de sentar no atelier, colocar a peça diante de mim e olhar, olhar muito até conseguir imaginar o que desejo fazer com ela. Às vezes é muito rápido, só de olhar já sei o que quero, outras demora mais, tem vezes que demora dias até, vai aos poucos, detalhe por detalhe. 

Tenho uma linha de peças que são as que mais vendem e que já tiveram seu momento criativo lá atrás, mas o que mais amo é justamente criar uma peça, ver o resultado e depois colocar na loja ou então guardá-la para mim, colocar na minha casa. 

Este processo que aqui descrevo no artesanato é o mesmo quando estou criando um jardim novo ou refazendo a horta. Primeiro a escolha das mudas, de quais flores, quais plantas, quais verduras ou legumes vou plantar. Depois como vou dispor isto na terra. Também é o mesmo em artes manuais, na culinária, ou se resolvo mudar um pouco a decoração da casa. 

O atelie é um local de trabalho para me dar uma renda, mas é acima de tudo um lugar de criação. Já recebi críticas por isto, que deveria focar somente no que vende, mas não consigo, se eu não tiver o espaço da criação, eu bloqueio. E aí não sai mais nada, nem o que vende, nem o novo. 

Esta é a diferença da produção exclusivamente comercial para a de arte criativa. Do contrário vira uma linha de montagem, e isto não seria prazeroso o suficiente para alimentar minha alma. Não abriria novos espaços, novas ideias. 

Este processo também é algo que devemos cultivar em nossas vidas, por mais que tenhamos uma rotina da qual não podemos escapar, temos que encontrar os momentos, as brechas da criatividade, de abrir espaço para o novo, da renovação. 

terça-feira, 11 de julho de 2017

TER UM DIÁRIO


imagem retirada do Google. 


Atualmente já não se vê muito isto, mas o diário pessoal já foi algo que muitas grandes personalidades mantinham. E por mais que ao falarmos em diário pensemos logo em mulheres, naqueles cadernos de capa dura cor de rosa com cadeado que se costumava presentear meninas ou moças até seus 15 anos em tempos passados, os homens sempre mantiveram diários, e dos mais interessantes como fez Goethe ao relatar sua viagem à Itália, incluindo desenhos, kafka, Chateaubriand com seu magistral "Memórias de além tumulo" entre tantos outros. 

Sempre mantive um diário desde meus 12 anos. Tudo começou quando li o Diário de Ana Maria e o Diário de Dany no início de minha adolescência. Comecei então a escrever, sempre em cadernos de 200 páginas da Tilibra, que hoje sofro para encontrar para comprar. Quando os encontro já compro uns 05 de uma vez. Vou alterando a cor deles. 

Raramente volto a ler, a não ser quando desejo lembrar de algo. Mas pretendo reler todos eles quando estiver mais velha. Por enquanto a principal função do diário é o desabafo, é de tirar a ansiedade, de extravasar. E funciona. 

Quantas vezes não consigo compreender algo que acontece comigo e ao escrever parece que vem, aos poucos, a cada linha, até que surge. Ou quando estou extremamente excitada com algo, a ansiedade a mil, nada melhor do que contar para o diário o que estou sentindo, já reduz um bom tanto a ansiedade e equilibra a felicidade que está no grau de euforia a ponto de explodir. O Diário também é uma forma de registrar sentimentos, momentos, alegrias, sensações, viagens, passeios, de por para fora as angústias, tristezas, dores. E isto nos faz bem. 

Além do diário pessoal há outras formas de diário, e que são muito bons de fazer também. Temos, por exemplo, o diário de leitura onde anotamos os livros que lemos, as impressões que nos ficam do livro, observações, o que nos marcou mais no livro. É interessante isto quando anos depois relemos o mesmo livro e vamos notar o quanto mudamos na maioria das vezes nossa impressão sobre o livro, o quanto nos projetamos no livro de acordo com o momento que vivemos e nossa maturidade. 

Podemos ter um diário assim sobre filmes, sobre viagens, sobre observações diárias na rua. Muitos usam cadernetas ou blocos que carregam consigo para fazer estas anotações, ou usam a tecnologia que temos hoje, com seus celulares, tablets etc. Grandes arquitetos costumam fazer isto, administradores, e os escritores claro. 

No livro "A elegância do Ouriço" de Muriel Barbery, temos Paloma que mantém dois cadernos de anotações - Um sobre pensamentos profundos e o outro é o Diário do movimento do mundo. Ela busca um sentido para a vida para não se suicidar. Ao final descobrirá que o sentido nunca está fora de nós mesmos. No livro "Hambre del Alma" sobre o qual falei recentemente aqui no blog, o diário está misturado junto às receitas de culinária, nos cadernos que as mulheres mantinham. Minha mãe costumava fazer anotações em seus cadernos de tricô, onde anotava as receitas. 

Um diário é algo muito pessoal e cada um pode escolher a melhor forma de fazer isto se quiser ter um. Mas eu falo por mim, é uma forma excelente de visualizar melhor o que sentimos, o que nos aflige e funciona como um excelente diminuidor de ansiedade. Além de ser um companheiro para as horas solitárias. Muitas vezes ajuda a impedir que façamos bobagens, diminui nossa raiva para que não tomemos decisões ou tenhamos atos movidos por esta emoção. Além de ser um excelente guia pessoal de nossa vida ou de projetos e planos que tenhamos como sempre foram os diários de bordo. 

Apesar de não se falar muito em diários atualmente, que talvez estejam sendo substituídos pelos blogs, penso que são extremamente válidos. Os blogs são ótimos, porém não há como expor ao público muitas das coisas que sentimos e pensamos. Somente um diário pessoal serve para isto, portanto, se for viajar, por exemplo, você pode sim manter um blog como um diário da viagem para compartilhar, mas tenha o seu diário de bordo, o seu pessoal também. 

Quem nunca fez ou teve um diário digo que vale a pena experimentar e colher seus efeitos. 



quarta-feira, 5 de julho de 2017

A BELEZA DE UM CORPO


imagem retirada do Google imagens 


Quantas neuras e até mesmo doenças vemos por aí em função de obter um corpo escultural ditado pela mídia e pela cultura. Que tortura é esta? que correntes são estas que nos tiram a liberdade e nos impõe um modelo de corpo que temos que ter a qualquer preço? 

Claro que um corpo saudável é fundamental, e gordura em excesso é prejudicial, mas daí a ter que ser magérrima, há um grande espaço. Penso sinceramente que todos nós sabemos quando passamos do peso, nos sentimos mal com o próprio corpo, sentimos peso, a respiração que falta, as roupas apertam, fica difícil vestir uma meia. Mas ser o que chamam de gordinho, não é nenhum crime. 

O que se esquece é que não existe apenas um tipo de corpo, há mulheres maiores e menores, com estrutura óssea maior e menor, mais esguias e mais roliças. E tudo isto é a beleza da mulher. Os homens também sofrem desta ditadura, mas a mulher sofre além das cobrança, com a competição com as outras mulheres. E o pior, normalmente são as mulheres que debocham das outras, fazem comentários maldosos, e criticam uma pessoa que não corresponde àquilo que pensam que seja o corpo correto, ideal. Correto???? ideal???? 

As academias agradecem, os cirurgiões de bariátricas também, as nutricionistas também, porque já não se trata de um desejo pessoal ou pela saúde, é uma necessidade que se impõe, ser magra. Uma vez fui a uma nutricionista para emagrecer um pouco, eu queria perder 10 kilos. E ela me apresentou um programa sacrificial. Olhei para ela e perguntei o que era aquilo? E ela me respondeu, era novembro, que era para eu poder ir para a praia em janeiro magra. Quem disse que eu quero perder 10 kilos em 03 meses? quem lhe disse que eu quero ir para a praia? Estava tão bitolada com este tipo de pedido que nem me perguntou qual era a minha necessidade, e o pior, ficou insistindo naquilo. E eu queria perder 1 kilo por mês. Até porque é mais saudável, e mais fácil de manter depois. O corpo vai emagrecendo aos poucos e se adaptando a esta mudança. Menos pele flácida. 

Mas a questão é a seguinte: por que não posso ter o corpo que eu tenho se me sinto bem nele? Para agradar aos outros? Pior, a maior neura da mulher é pensar que sem este corpo escultural ela deixa de ser desejada. Vai perder para as outras a possibilidade de encontrar um amor. Claro que existem muitos homens que também querem desfilar com uma mulher com um corpo escultural, de fazer inveja dizem eles. Querem que os amigos babem. Será que este homem é o que é capaz de nos amar? 

O corpo é um templo sagrado. É onde habitamos, e mais, temos a tendência em pensar no corpo como algo separado. Por que dizemos meu corpo? ao invés de dizer eu? Eu sou o corpo. A mente, o corpo, a consciência, a alma, o espírito, o inconsciente, sou eu . É neste corpo que geramos nossos filhos, é com ele que fazemos amor, que amamentamos, que nos locomovemos, que sentimos, que amamos, é com ele que nos expressamos. O corpo é algo belo, de uma beleza incrível. Seja ele magro ou gordo, é onde você está, é você. Sem ele não existimos. 

Mas passamos a vida tentando emagrecer, mesmo quando nosso corpo não é feito para ser magérrimo. Há diferenças e muitas. Sou filha de belga e francês. Meu corpo tem uma estrutura óssea maior do que as brasileiras, por exemplo. Minha mãe tinha a mesma dificuldade, ao comprar um soutien dele ficar certo nos seios e não fechar atrás, e o que fechava ficar grande nos seios. A largura das costas, e que era ossos e o tamanho dos seios. Eu tenho braços mais curtos, e toda a vez que compro blusas de lã tenho que dobrar as pontas. Biquínis é outra tragédia para comprar, devido a minha estrutura óssea. 

Mas não é apenas o peso, os seios que devem ser "melões" e nada de seios "caídos", Rugas, inaceitáveis, botox nelas, nariz, lábios tem que ser cheios, bunda, e por aí vai. Já notou que parece que nunca gostamos de nosso corpo? que sempre falta algo? ou é demais ou de menos? Mas será assim mesmo? ou a questão é nossa dificuldade em nos amar como somos? Em ser capaz de achar nosso corpo belo do jeito que ele é? De ficarmos nos baseando no que dita a moda, mídia e sociedade? Já perceberam como isto muda no decorrer dos séculos? antes a mulher tinha que ter ancas largas para ser capaz de ter filhos, olhem só, e as que não tinham? faziam o que naquela época? 

Se nós mesmas não amarmos e acharmos belo nosso corpo nunca nos libertaremos de todas estas imposições que vem dos outros. Agora quando nos sentimos bem, quando amamos nosso corpo, vamos emitir sinais de alegria, de bem estar, de estar fluindo e isto, atrai muito mais que um corpo escultural, isto atrai o amor. Por isto vemos tantas gordinhas felizes e sendo amadas por seus homens. E também magérrimas que alguns chamam de saco de ossos, também felizes e sendo amadas. Nada é mais atraente do que alguém que transmite que se ama e está bem consigo. A feminilidade se mostra neste momento, e isto atrai. 

O difícil é acreditar nisto, aceitar seu corpo do jeito que ele é, corpo este que traz nele o registro de sua vida e também de todas as mulheres de sua família. Sim, porque você herda o corpo de suas ancestrais, e traz nele esta história também. E são estas histórias que nos dão estrutura, força, luz.

E a velhice, quando o corpo começa a dar seus sinais? quantas não correm fazer plásticas, colocar botox, dietas especiais para se manter jovem. Acabou a juventude, ponto final. E todos passarão por isto a menos que morram antes. A velhice tem a sua beleza, um corpo com muitas histórias registradas e para contar. Um corpo que amou e ama, que desejou e deseja, que passou por tantas experiências, doenças, alegrias, tristezas, lutos, felicidade e assim vai. Sim, ele vai ter pele flácida, as mãos estarão marcadas por inúmeros risquinhos na pele, manchas marrons irão aparecer, os seios provavelmente irão cair, principalmente se forem grandes, estrias, celulite, sim tudo isto aparece no corpo de muitos. Alguns escapam, mas pela natureza de seu corpo. Agora a grande dificuldade é assumir esta idade e este corpo em uma cultura que cultua a juventude e o corpo magro e digamos "liso".

Mas já repararam como uma mulher envelhecida mas que se ama, que brilha por dentro continua atraindo? Eu conheço uma mulher assim. Ela tem 70 anos e até hoje atrai olhares. Dias atrás foi a uma feira de artesanato em São Paulo e até um poema fizeram para ela. E esta mulher não vai a academias, nunca fez uma plástica, sofreu intervenções cirúrgicas nos seios devido a tumores, mas ela se ama. Ela reflete isto. Basta olhar para ela, seu olhar, seu sorriso e sua postura. Uma mulher bem jovem ficou encantada ao vê-la, admirada com sua beleza. Ela tem rugas, seus cabelos estão grisalhos e brancos, mas é algo que vem de dentro dela.

Penso que é hora de nos libertamos desta ditadura da beleza, do corpo, que é imposto, e aprendermos a amar nosso corpo do jeito que ele é, corrigindo apenas o que realmente nos incomoda, e para isto existem inclusive meios que não são invasivos nem exigem tantos sacrifícios assim. Me lembro que quando jovem e ia tirar a sobrancelha e isto doía muito, me diziam que para ficar bonita temos que sofrer. Hoje recuso este tipo de pensamento.











segunda-feira, 3 de julho de 2017

LIVRO: HAMBRE DEL ALMA - Escritoras e o banquete de palavras - CARLA CRISTINA GARCIA

Carla Cristina Garcia 

Garcia, Carla Cristina. 1ª ed. Limiar, 2007
149 páginas 

Falei na última postagem sobre este livro. Então segue um pouco sobre ele. 

Um belo livro sobre o feminino. Carla nos fala dos espaços e da criatividade. Sempre foi dito pela cultura patriarcal que a cozinha é um espaço de confinamento da mulher e o que a autora nos mostra é que pelo contrário, é um espaço de criatividade e libertação. 

A escrita também é uma forma de liberdade e normalmente também se produz na casa, mas é capaz de nos levar muito longe. 

A arte e a criatividade é uma forma de libertação e de possibilidade de um conhecimento que vai muito além do que podemos aprender na rua, no exterior, mas o mais importante é a união de ambos os lados. Garcia nos chama de volta ao corpo, não no sentido do culto da beleza do corpo, mas como a nossa morada e onde sentimos, temos percepções do mundo exterior e interior, o físico e o espiritual se unem no corpo. 

A Hambre del alma, a fome da alma, é algo que muitas mulheres sentem, e penso que os homens também, pois costumo ver o feminino como sendo algo que é do humano, assim como o masculino, e não separando isto, rejeitando desta forma a dicotomia cartesiana, a mente e o corpo, ou qualquer outra dupla, pois acredito no múltiplo. Somos muitos em um só.

Dentro da cultura patriarcal a mulher foi confinada ao lar e o homem ao mundo. Ele era o intelectual, o que escrevia, que criava, o ativo, e a mulher o passivo. O que Carla nos mostra neste belíssimo livro é que as coisas não foram exatamente assim, e as mulheres sempre encontraram formas de criar também, mas usaram outra linguagem. 

Ela nos fala das receitas e de comida. A comida que nos alimenta, tanto o físico como a alma. A sociedade dividiu a gastronomia internacional e seus chefs de um lado e considereou a culinária caseira como sendo nutrição, dia a dia, não uma arte. Mas será que é assim?

Na introdução há uma abordagem muito interessante sobre a anorexia que viria a substituir a histeria do século passado, ou seja, um protesto das mulheres contra sua situação cultural. "A anoréxica sente não ter domínio sobre o próprio corpo e almeja se tornar ditadora ou tirana desse reino só seu." O corpo da mulher é usado como uma forma de poder, de controle, o que acaba levando a compulsões como dietas, exercícios físicos até seus quadros mais graves como anorexia e bulimia. Outra faceta é a tentativa de manter seu corpo puro almejando a ascese espiritual, esquecendo que é justamente no corpo que as sensações se produzem, o amor, o prazer, aliás, este justamente é o grande vilão. 

Adélia Prado é citada no livro: "Se me dessem licença de comer eu me curava, virava gente grande". 

A mulher tem fome, é esfaimada. Garcia vai nos falar então de como escritoras saciaram esta fome da alma através da escrita, mas também da culinária e da arte. Nos fala de Virginia Woolf, Laura Esquivel e Nélida Piñon. A narrativa é uma cura, e os cadernos de receitas muitas vezes trazem diários embutidos neles, observações e frases; além de toda a arte, por que os grandes chefs são científicos, medem seus ingredientes, mas a mulher os coloca sentindo o sabor na boca, e ela sabe quando está pronto. A cozinha é um local de criatividade, de narração, as receitas contam histórias, a comida sociabiliza, acolhe, é amor, é nutrição para a alma. A comida une o público e o privado.

Infelizmente a modernidade afastou a mulher da cozinha, além de modismos, dietas que visam falsamente a purificar o corpo ou a alma, o que realmente importa é comer sem culpa e com isto alimentar a alma. 

Há vários filmes citados no livro como "Tomates Verdes Fritos", Como água para chocolate", "A festa de Babette" e também livros, todos atendendo esta fome.

O livro trata realmente de como fazer comida para a psique, de como alimentar esta alma esfomeada. Um belo livro.  
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UM CANTINHO PARA LEITURA




Ler é um dos meus maiores prazeres. Amo ler. Não vivo sem livros. Pessoalmente não gosto de ler em telas de computador, tablet ou celular. Gosto mesmo é de ter o livro nas mãos, poder marcar nele impressões, sublinhar o que me chama a atenção, colocar interrogação onde tenho dúvidas ou não compreendo bem. Faço isto sempre a lápis. Muitas vezes copio trechos ou frases que me tocam mais. 

Também faço isto quando estudo, mas aqui estou falando de literatura, de livros que alimentam a alma, que nos ajudam em momentos difíceis ou que nos relaxam em outros. Tenho uma biblioteca em casa com aproximadamente 3 mil volumes, e isto porque já fiz doações anteriores. 

Mas hoje quero falar daquele cantinho gostoso para ler. Meu sonho ainda não realizei que seria uma daquelas poltronas que se vendem para mães que amamentam, confortáveis, aconchegantes com um banquinho na frente de preferência que eu colocaria num cantinho com uma luminária ao lado. Mas ainda chego lá. 

Mas isto não impede que tenhamos nosso cantinho, ou lugares preferidos para leitura. Acho importante ter estes espaços, pois são locais de descanso e lazer, assim como um lugar sagrado é um local de meditação, relaxamento e recuperação de energias. 

E podemos ter mais de um, eu por exemplo, no verão amo ler na rede que penduro na varanda. No inverno gosto de ler na mesa no quintal para me esquentar ao sol. E sempre leio na cama antes de dormir. 

A leitura é uma terapia, tanto que quando criei este blog dei início a uma biblioterapia e cineterapia, dando dicas de livros e filmes para cada situação, que pretendo continuar daqui para frente, a medida que ler livros que sejam interessantes para nos ajudar, acalmar, alertar, informar, assim por diante, vou continuar dando dicas.

Livros são companheiros também, e costumam andar pela casa, rsrs, não ficam nas estantes, pelo menos não aqui em casa. Tem livros por todos os lados, em cima de uma mesinha, no criado mudo, na mesa de centro da sala, na estante, assim vai. Estão sempre por perto. 

Quando mergulhamos em um livro deixamos de lado todas as preocupações, problemas e podemos viajar, ir para outro lugar, nos projetar nos personagens, encontrar soluções para nossas questões, aprendemos, vivenciamos junto ao personagem situações. 

O que mais aprecio no livro é que ele nos obriga a usar a imaginação, diferente de um filme que nos traz as imagens e rostos de personagens, o livro nos faz imaginar, e quantas vezes não buscamos na internet o lugar para ver como é, ou informações sobre personagens verídicos. O livro nos faz ouvir o relato ao invés de olhar como um filme. Mas o filme também é excelente para nos projetarmos neles, e sentirmos a vivência ou até mesmo ler na entrelinhas do filme. Além da arte que está ali para apreciarmos. 

Muitos não gostam de ler, mas dias atrás vi uma entrevista com o Antonio Fagundes no Conversa com Bial onde ele falava como se aprender a gostar de ler, e ele fez o mesmo percurso que eu fiz, tudo começou com gibis. Eu tinha uma caixa cheia de gibis. Adorava ler gibis. Disto é um pulo para outras leituras. 

Ler é um alimento para a alma, e deixo uma dica aqui de um livro: "Hambre del alma - Escritoras e o banquete de palavras" da Carla Cristina Garcia. Vamos matar a fome de nossa alma! 


OS ANIMAIS EM NOSSAS VIDAS




Desde minha infância sempre houve animais por perto. Principalmente cachorros e gatos. Mas também os que viviam na natureza.

Em Jacareí, onde eu morei além de inúmeros passarinhos e borboletas, havia os lagartos. Eles viviam num amontoado de madeira que havia no fundo do quintal e andavam por ali chegando até a porta da cozinha. 

Os animais são companheiros, principalmente no mundo atual onde a solidão muitas vezes está presente, ter um animal de estimação faz muita diferença. Mas devemos ter em mente que ter um animal requer que cuidemos dele, requer tempo, dedicação ao bichinho, seja um gato, um cachorro, um passarinho, uma tartaruga, peixes, não importa. 

Pessoalmente sou contra passarinhos em gaiolas, eles foram feitos para viver livres. Mas às vezes temos um que nos foi dado, ou um papagaio que encontramos e obtemos a autorização do Ibama para cuidar dele, uma calopsita que vive livre em nossas casas. Eu prefiro colocar alimento para os que voam livres em volta de minha casa. Já cuidei de filhotes de rolinha, protegendo-os até aprenderem a voar. Eles ficaram um bom tempo aqui, sempre por perto, no telhado, no murro, no fio elétrico. Depois se foram. 

Uma vez a noite escutei um barulho forte de asas. Abri a janela e fui premiada com uma linda coruja branca em cima do meu murro. Nunca havia visto uma em liberdade. Também tem um gavião que sobrevoa aqui, é lindo ver seu voo. 

Mas o que é mais importante em minha vida é a Nala e a Cacau. A Nala é uma labradora, tem 9 anos agora. E Cacau suponho ter 04 anos, eu a encontrei na rua em frente a casa de minha filha, era um filhotão. Foi no Carnaval, ela cheirava bem, então pensei, ou ela fugiu ou alguém a abandonou, o que infelizmente é muito comum nas férias e feriados. Coloquei sua foto em todos os Pet da região e nada. Então a adotei, comprei uma coleira e disse - você agora é um cão com dono. Dei o nome de Cacau porque ela é ruiva. E este pequeno ser foi fundamental para mim que passava por um período depressivo, logo após a morte de minha mãe. Era tão levada que não me deixava muito tempo para ficar recolhida a um canto. Na época minha casa era de madeira, pois então, ela chegou a roer a parede de madeira da casa. Comeu amostras de remédios - anticoncepcionais, e era extremamente gulosa, fazendo com que eu tivesse que ficar de guarda para ela não comer a comida da Nala, que como boa labradora, não se defendia. Aos poucos ela aprendeu que não iria mais passar fome.

Nala é minha companheira, vive perto de mim, dorme aos meus pés enquanto pinto as peças que vendo. Ela tem um olhar de puro amor, e adora carinhos. Já Cacau quer pintar também. 

Claro, sofro restrições. Tenho dificuldade de encontrar pessoas que cuidem delas para eu viajar. No Ano Novo Nala se apavora com as bombas, então fico em casa. Mas quando isto acontece sempre penso - e se eu não as tivesse? bom seria quase o ano todo sem elas. Não vale a pena. 

A alegria delas quando chego em casa, estão me esperando. Quando levanto de manhã, quando vou brincar com elas. E ainda preenchem a casa de sons, desde latidos até roncos. Cacau até tenta falar rsrsrs. 

Os animais são seres vivos, sentem, sofrem, precisam de atenção no caso dos domésticos e dos feridos ou sem mãe quando filhotes. E eles sabem retribuir, mesmo os animais selvagens. Cansamos de ver exemplos. Então me pergunto muitas vezes - o que leva um ser humano a maltratar um animal? a matá-lo? dar veneno? Será que esta pessoa não sabe que este animal vai sofrer? sentir a mesma dor que um ser humano? e mais, alguém que pode inclusive ser uma criança vai sofrer em muitos casos? 

Nunca adote um animal se você não tiver tempo ou paciência. Nunca adote um animal se você quer uma casa impecável, um carro limpíssimo, um jardim maravilhoso. se você passa mais tempo fora de casa do que nela, viaja muito, se tem horror a ter que limpar fezes e xixi.  É só para fazer o bichinho sofrer. Para que? por que? 

Mas se você aceita tudo isto, então prepare-se para ter o melhor amigo do mundo. Mesmo os gatos que são muito independentes são excelentes companheiros. Eles ronronam, dormem com você, esquentam, fazem companhia, adoram um teclado de computador, adoram ficar no seu colo ou pescoço quando você está lendo ou estudando. E sentem nossa falta quando viajamos. Ficam felizes quando voltamos para casa. 

Cada vez que vejo um animal abandonado tenho vontade de recolher. Infelizmente não posso e tenho consciência disto. Ainda bem que tem ONGs que o fazem, então quando posso dou uma ajuda para eles. Gostaria muito que as pessoas se conscientizassem, e castrassem seus animais no serviço público quando não podem ter e não querem filhotes, ou então cuidassem para que o animal não emprenhe para depois abandonar os filhotes em algum terreno, parque ou mato. 

Um animal custa, precisa além da ração de ser vacinado todos os anos, tomar vermífugo, ser tratado como deve. Precisam de banho, seja no PET ou em casa, mas precisam. Alguns precisam ser tosados. 

Mas ter um animal em casa é algo maravilhoso para quem gosta deles e tem condições de tê-lo. São os melhores amigos, nos entendem quando estamos tristes, aliás, eles o sentem e te rodeiam, te dão carinho, ficam tristes juntos. E quando você está alegre eles festam junto. Eu sempre digo, só faltam falar mesmo. Por sinal, eles "falam" do jeito deles, com gestos, olhares, e claro, latidos, miados, rom rom, pios, uivos. 

É um filho(a) e que ainda cuida de você. Não estou dizendo que são humanos, pelo contrário, eu sou a favor de tratar um animal como animal. Nada de sapatinhos, meias, e roupas fru fru, mas uma roupa para o frio sim. As pessoas às vezes humanizam o animal, mas eles são animais, e precisam ser tratados de acordo com o que são, os cachorros gostam de ter um território, um lugar para correr, cavar, se esfregar na grama. Podemos tê-los dentro de casa, mas não podemos deixar de levá-lo dar sua volta, deixar ele cheirar tudo, fazer xixi em tudo, e não esquecer de limpar quando ele faz suas fezes.

Para ter um animal é preciso gostar dele, amá-lo. Não apenas ter um porque é o cachorro da moda no momento, ou pensando apenas nos momentos bons. Animais também adoecem e envelhecem. O ato mais cruel é abandonar um animal porque está velho, e provavelmente ficando cego e surdo. O animal confia em seu dono, não desmereça esta confiança tão pura que ele tem. Muitos deles morrem por seus donos, defendendo-os, salvando-os de situações de risco.

Um animal é a alegria das crianças, mas estas normalmente não cuidam dele, só brincam com ele. E é a companhia dos que estão solitários e dos idosos. Muitos só tem o seu bichinho com que se preocupar e para cuidar. Até mesmo para conversar e ganhar um carinho.

São seres vivos, sentem como nós, seja emocionalmente ou no físico. Precisam de amor também, mas dão muito amor. Não colocam condições para amar, não dizem que estamos magros demais ou gordos, que roncamos, que somos feios ou bonitos. Eles amam incondicionalmente. Devemos apenas retribuir e nos deixar amar.



sexta-feira, 30 de junho de 2017

VIRTUAL X PRESENÇA

Confesso que não me acostumo ao mundo virtual de hoje. Concordo que as redes sociais dependendo de seu uso são uma ferramenta fantástica. Permitem encontrar pessoas que há anos não vemos, permitem manter contato com pessoas que estão longe, além de muitas outras coisas, como informações, transmissão de conhecimentos, cursos on-line e assim por diante. Porém, não gosto da falta de presença que o este mundo acaba gerando. 

O Whats é outra ferramenta que se por um lado facilita e não tem custo, por outro nos tira o prazer de uma boa conversa que ao telefone é possível. Mesmo chamando pelo whats não é a mesma coisa, há cortes e ecos. 

Fico me perguntando o que acontece? porque as pessoas estão optando por escrever, tudo resumido e usando códigos de internet ao invés de ligar, de ir até a pessoa? Todas estas ferramentas de tecnologia, que não deixam de ser fantásticas e de oferecer muitas possibilidades que não tínhamos antes, acabam virando a forma de contato e comunicação mais usada. E isto é lamentável. 

Tenho observado isto há tempos. Alguns exemplos

- Eu fiz a faculdade de Filosofia através do virtual, mas havia uma vez a cada 45 dias onde tínhamos que ir fazer uma avaliação presencial. Chegava lá e o que via? todos que estavam aguardando trocando mensagens pelo celular. Por que não aproveitavam para conhecer os colegas do curso? falar sobre o que achavam? Trocar informações? 

- Tenho amigos que antes me ligavam ao telefone e agora só usam o whats para falar comigo. Fico profundamente triste com isto. Quero ouvir a voz da pessoa, a entonação, ouvir a emoção do que se diz. 

- Moro em um condomínio, e quando há algum problema com um morador ao invés de usar o interfone para comunicar a reclamação ou solicitação, colocam no grupo, e isto dá margem para muitos palpites e comentários que não eram necessários, gerando algumas vezes até mesmo um clima hostil entre os moradores. Por que fazer assim? 

- Antes quando íamos a um médico, dentista, ou qualquer outro lugar onde havia uma sala de espera podíamos conversar com as pessoas. Hoje, a maioria está no celular, no facebook ou no whatss. 

- Se por um lado é prático enviar um whats, por outro lado tira o contato com a pessoa. Porque sinceramente, eu não consigo aceitar alguém que me diga que está em contato comigo porque me manda mensagens todos os dias, aliás, a maioria são aquelas que só se compartilha. 

- E o pior, as pessoas tornaram-se dependentes do Curti!! e agora querem o Amei!! Que para mim pode ser sincero sim, mas na maioria das vezes as pessoas nem leem o que está escrito, só curtem porque conhecem a pessoa. 

Que a tecnologia seja utilizada como ferramenta no trabalho, nas trocas de informações rápidas, acho excelente, mas mesmo assim.... a possibilidade de se manter este "contato" permanente só aumenta a pressão e as cobranças. Além do que as pessoas perdem o senso de horário, mandando mensagens de trabalho à noite ou no fim de semana. E se você não for uma pessoa que consegue se desligar disto, vai gerar ansiedade e você vai ficar se cobrando, que deve atender, ou responder. E não deve, do contrário fica ligado 24 horas no trabalho e isto é ruim, além do que sua saúde vai ser afetada. 

Agora, a pior cena de todas que canso de ver: você vai a um restaurante para almoçar ou jantar com a família ou amigos, e o que acontece? o celular que não para de enviar mensagens e a pessoa respondendo a todas. Você olha em volta e nota muitas pessoas com os olhos fixos no celular, e uma ou outra triste, olhando para aquelas pessoas com vontade de gritar: Pare!! eu estou aqui sabia? 

Assisti recentemente uma reportagem no Globo News sobre o Japão, onde os jovens não conseguem mais se relacionar com o sexo oposto. Pior, não sentem desejo sexual nem vontade de fazer sexo com outro ser humano. Tudo é virtual ou bonecas. Contratam pessoas para passear e pegar na mão delas, e tem uma imensa dificuldade para fazer isto.

Por mais que eu seja uma pessoa inovadora e gosto sim de mudanças e novidades, também mantenho um lado preservado que chamam de conservador e eu de valores e princípios, e pense que realmente teremos um mundo diferente do que conheço, com outra linguagem, que os jovens estão criando, não consigo gostar do que vi no Japão.

Eu não sei se as pessoas tem medo de se relacionar, medo de afetos, ou de ter sua vida pessoal invadida, ou se acostumaram tanto com o virtual que já nem se dão conta do que fazem. Mas vejo muitos se queixando de solidão, de que estão deprimidos, ansiosos, então acho que é hora de se questionar por que? 

Antes sim tínhamos que preservar nosso espaço, porque eram tantos convites, vizinhos indo e vindo, amigos chegando, chamando, que chegava um momento que tínhamos que dizer me dá um tempo, preciso ficar sozinha um pouco. Hoje é o contrário, temos que fazer um imenso esforço para conseguir bater um papo com o vizinho, ver os amigos, estar com os outros mas em contato com estes outros. A cada dia fica mais difícil criar laços e amizades. Ok, amigos sempre serão poucos, os verdadeiros, mas pelo menos conhecidos e colegas com os quais interagir. 

Acho que vale a pena uma reflexão, e uma tentativa de abrir um pouco mais de espaço aos relacionamentos presenciais. Estar presente!!! Ter foco, vivemos dispersos. 

imagem retirada do google.