quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O MERCADO COMO COERÇÃO SOCIAL


imagem retirada do Google.


Nos últimos dias refleti sobre várias coisas que me chamaram a atenção em relação ao que vivo e sinto. Talvez o que vou escrever seja polêmico, mas trata-se de uma análise muito pessoal e que vou publicar porque talvez possa ajudar outras pessoas. 

Tenho me sentido muito sozinha, mas encontrei uma forma de lidar com isto que é o atelier. Mas só falo da solidão aqui por estar relacionada ao que pude perceber no mundo. 

Dias atrás ouvi uma declaração do Pe. Fábio de Melo sobre a crise de pânico e ansiedade que ele está vivenciando. Enquanto ouvia me veio - mas, afinal, o problema dele é algo interno nele? ou a causa é o Outro. Coloco com maiúscula mesmo, para diferenciar do outro - outra pessoa. Ele ia falando e dizendo que gostaria de estudar, mas não conseguia, que gostava muito de fazer academia, mas que não podia porque as pessoas dizem que academia não é lugar para padre, e assim foi. E tudo isto foi me chamando a atenção. 

Alguns dias depois vejo uma postagem da Martha Medeiros sobre as mulheres onde ela faz uma crítica feroz a como a mulher precisa ser para ser amada. Ela se refere aos homens, mas no fundo como várias disseram nos comentários, é a mulher mesmo que cobra isto das outras ou impõe isto. E principalmente a competição entre as mulheres. E o mais triste foi ler nos comentários muitas defesas sobre fazer cirurgias dos mais variados tipos para estar sempre jovem alegando que são livres e donas de si, será? 

A sociedade sempre foi coerciva, sempre impôs regras e normas de conduta e comportamento. Mas o que venho notando é que antes estas regras e normas vinham da família, da religião, da comunidade, do Estado, da escola. Estas eram o Outro. E quando alguém destoava, havia espaço para acolhimento, entre as chamadas ovelhas negras, grupos alternativos. Quando se seguia a imposição, você era aceito e acolhido. Quando não seguia, ainda assim não desistiam de você, pegavam no pé para te trazer de volta. 

Hoje o que estou vendo é uma coerção vindo do mercado, do consumismo, do financeiro, ou seja, do capitalismo. Só que estas instituições não acolhem, não aceitam, apenas impõe. Antes o que se buscava era a possibilidade de convivência pacífica, de organizar a sociedade, hoje é lucro, sucesso e felicidade, e acima de tudo, consumo. 

Será que as mulheres que alegam liberdade para optar por querer parecer ter 20 anos quando já tem 40 se dão conta que no fundo o que está ocorrendo é uma perda de identidade? Sim, porque antes tínhamos altas e baixas, gordas, magras, roliças, seio pequeno, seio médio, seios grandes, bunda achatada, bunda grande e assim vai. Hoje a tendência é ser tudo igual - seios melões, bundas grandes, tudo siliconado, pele esticada sem rugas, mas também sem identidade. E vai muito além, porque até a vagina passa por isto para parecer de menina, para apagar os traços de um parto. 

Antes você ao se opor seria um rebelde que precisa ser trazido de volta ao rebanho. Hoje se você aceita as imposições de fora, ninguém liga, tá tudo certo, você está consumindo, mas não há acolhimento nem aceitação, até porque o mercado precisa continuar funcionando, então serão sempre mais cobranças e críticas. E se você é um rebelde, então a coisa fica séria, porque não há uma tentativa como antes de que você se emende, mas ao contrário, a resposta ou é a indiferença e a exclusão ou o discurso de ódio que não aceita diferenças. 

Agora volto a solidão e me pergunto se ainda é possível não estar só neste mundo. Se você anda com o rebanho, ainda assim não é uma conexão íntima, uma relação forte, mas apenas um agrupamento para se divertir, ter sucesso e felicidade, mas, ao contrário, se não anda, é excluída e não aceita, além de ser agredida por ser diferente. 

Claro, nem tudo é tão negro assim, ainda temos a família que consegue se manter um pouco fora disto, mas nem tanto, porque já estão com o mercado regendo também e exigem dos filhos que sejam aceitos, e para isto lhes impõe padrões que nem sempre são os que os filhos desejam.

Não se trata de uma crítica à vaidade feminina, esta sempre existiu e vai existir, mas na falta de consciência ao defender algo como sendo liberdade que não é, pois é uma imposição que vem de fora, uma exigência mercadológica e competitiva que tem causado a massificação dos seres. E também impedido que as pessoas aprendam a lidar com frustrações e com aquilo de que não aprecia.

Antes quando os seios eram pequenos, podíamos até não gostar e desejar que fossem grandes, mas ao final iríamos achar uma forma de lidar com isto e valorizá-los. Claro, é muito bom para quem sofre muito com isto ter uma maneira de resolver a questão. Mas o que me assusta é que hoje se modifica o corpo como antes íamos da saia curta para a longa. E o pior é ver muitas consequências ruins disto tudo, pessoas que fizeram cirurgias e que depois sofrem efeitos colaterais que afetam sua saúde, ou pior, não tem condições financeiras de ir a um bom médico e acabam nas mãos de pessoas inescrupulosas  podendo até morrer.

E toda esta insatisfação e a impossibilidade de fazer o que se deseja, seja pessoal ou imposto de fora, acaba gerando muita ansiedade, inseguranças e medos. Este controle imposto com suas exigências de aparência, comportamentos que visam muito mais ao mercado do que ao ser humano acaba nos levando a uma crise interna que por não ser conhecida e falada gera pânico, ansiedade generalizada ou depressão, ou tudo isto junto, como eu vivi há um tempo atrás.

E para resolver tudo isto, o mercado tem outro produto - anti-depressivos e ansiolíticos. Ao invés de nos perguntarmos o que causou nosso sofrimento, corremos ao psiquiatra para ter uma receita destes remédios e continuar correndo atrás do que nos é imposto.

O que precisamos é nos analisar, nos perguntar o que causa o sofrimento, por que sofremos, por que desejamos algo, será que isto é tão importante assim? por que não faço o que desejo? o que me retém? Por que preciso de seios e bunda grandes? por que tenho que ser magérrima?

A resposta não é simples nem fácil. Não está ali acessível, é preciso ir fundo e descer nas camadas do inconsciente para descobrir o que realmente nos move ou nos bloqueia. Mas vale a pena!!


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