quarta-feira, 12 de setembro de 2018

RETORNO AO BLOG

Após um longo tempo ausente estou de volta!! Mais do que nunca preciso alimentar minha alma. Vivemos momentos tensos, momentos de discórdia e agressividade principalmente nas redes sociais, por isto nada melhor do que lembrar de que sempre há coisas boas na vida e que amenizam este tipo de situação. 

Durante o tempo que estive afastada acabei mudando de casa para uma outra que tem um espaço maior para meu atelier e também para guardar as peças de cerâmica e gesso em branco. 

Mudanças são sempre caóticas e cansativas, mas por outro lado possibilitam uma renovação e isto é bom. É um momento de fazer uma limpeza e verificarmos como juntamos coisas que não precisamos. Também é muito bom poder decorar uma casa nova, ver onde vai cada objeto, olhar as paredes nuas e pensar no que colocar ali. Um novo jardim para fazer, uma nova horta para plantar. É o momento de criar seu novo cantinho, seu aconchego, seu novo lar. 

Você olha todo aquele espaço vazio e já começa a imaginar como vai ser, este é o momento que defino como o da decisão, é esta a casa que quero, quando já a vejo com meus móveis e objetos. Aí vem a parte chata, correria com documentação, seja para comprar ou alugar, depois a mudança, embalar e desembalar. Sempre há sobressaltos, sempre há coisas que quebram, e é o momento em que descobrimos que não tem tomada onde deveria ter uma, que a parede é menor do que pensamos, que o fogão não cabe ou não fica bom onde pensamos em colocar, que os novos armários da cozinha não comportam tudo e por aí vai. Mas tudo isto é para nos ensinar a remanejar, encontrar outras possibilidades, e também para desapegar de mais coisas. 

O gostoso é ver a casa já em ordem e então começar a pensar em coisas novas para esta casa, e como gosto de fazer eu mesma é exatamente isto que estou fazendo no momento e vou compartilhar aqui com vocês na sequências das postagens. 


quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O MERCADO COMO COERÇÃO SOCIAL


imagem retirada do Google.


Nos últimos dias refleti sobre várias coisas que me chamaram a atenção em relação ao que vivo e sinto. Talvez o que vou escrever seja polêmico, mas trata-se de uma análise muito pessoal e que vou publicar porque talvez possa ajudar outras pessoas. 

Tenho me sentido muito sozinha, mas encontrei uma forma de lidar com isto que é o atelier. Mas só falo da solidão aqui por estar relacionada ao que pude perceber no mundo. 

Dias atrás ouvi uma declaração do Pe. Fábio de Melo sobre a crise de pânico e ansiedade que ele está vivenciando. Enquanto ouvia me veio - mas, afinal, o problema dele é algo interno nele? ou a causa é o Outro. Coloco com maiúscula mesmo, para diferenciar do outro - outra pessoa. Ele ia falando e dizendo que gostaria de estudar, mas não conseguia, que gostava muito de fazer academia, mas que não podia porque as pessoas dizem que academia não é lugar para padre, e assim foi. E tudo isto foi me chamando a atenção. 

Alguns dias depois vejo uma postagem da Martha Medeiros sobre as mulheres onde ela faz uma crítica feroz a como a mulher precisa ser para ser amada. Ela se refere aos homens, mas no fundo como várias disseram nos comentários, é a mulher mesmo que cobra isto das outras ou impõe isto. E principalmente a competição entre as mulheres. E o mais triste foi ler nos comentários muitas defesas sobre fazer cirurgias dos mais variados tipos para estar sempre jovem alegando que são livres e donas de si, será? 

A sociedade sempre foi coerciva, sempre impôs regras e normas de conduta e comportamento. Mas o que venho notando é que antes estas regras e normas vinham da família, da religião, da comunidade, do Estado, da escola. Estas eram o Outro. E quando alguém destoava, havia espaço para acolhimento, entre as chamadas ovelhas negras, grupos alternativos. Quando se seguia a imposição, você era aceito e acolhido. Quando não seguia, ainda assim não desistiam de você, pegavam no pé para te trazer de volta. 

Hoje o que estou vendo é uma coerção vindo do mercado, do consumismo, do financeiro, ou seja, do capitalismo. Só que estas instituições não acolhem, não aceitam, apenas impõe. Antes o que se buscava era a possibilidade de convivência pacífica, de organizar a sociedade, hoje é lucro, sucesso e felicidade, e acima de tudo, consumo. 

Será que as mulheres que alegam liberdade para optar por querer parecer ter 20 anos quando já tem 40 se dão conta que no fundo o que está ocorrendo é uma perda de identidade? Sim, porque antes tínhamos altas e baixas, gordas, magras, roliças, seio pequeno, seio médio, seios grandes, bunda achatada, bunda grande e assim vai. Hoje a tendência é ser tudo igual - seios melões, bundas grandes, tudo siliconado, pele esticada sem rugas, mas também sem identidade. E vai muito além, porque até a vagina passa por isto para parecer de menina, para apagar os traços de um parto. 

Antes você ao se opor seria um rebelde que precisa ser trazido de volta ao rebanho. Hoje se você aceita as imposições de fora, ninguém liga, tá tudo certo, você está consumindo, mas não há acolhimento nem aceitação, até porque o mercado precisa continuar funcionando, então serão sempre mais cobranças e críticas. E se você é um rebelde, então a coisa fica séria, porque não há uma tentativa como antes de que você se emende, mas ao contrário, a resposta ou é a indiferença e a exclusão ou o discurso de ódio que não aceita diferenças. 

Agora volto a solidão e me pergunto se ainda é possível não estar só neste mundo. Se você anda com o rebanho, ainda assim não é uma conexão íntima, uma relação forte, mas apenas um agrupamento para se divertir, ter sucesso e felicidade, mas, ao contrário, se não anda, é excluída e não aceita, além de ser agredida por ser diferente. 

Claro, nem tudo é tão negro assim, ainda temos a família que consegue se manter um pouco fora disto, mas nem tanto, porque já estão com o mercado regendo também e exigem dos filhos que sejam aceitos, e para isto lhes impõe padrões que nem sempre são os que os filhos desejam.

Não se trata de uma crítica à vaidade feminina, esta sempre existiu e vai existir, mas na falta de consciência ao defender algo como sendo liberdade que não é, pois é uma imposição que vem de fora, uma exigência mercadológica e competitiva que tem causado a massificação dos seres. E também impedido que as pessoas aprendam a lidar com frustrações e com aquilo de que não aprecia.

Antes quando os seios eram pequenos, podíamos até não gostar e desejar que fossem grandes, mas ao final iríamos achar uma forma de lidar com isto e valorizá-los. Claro, é muito bom para quem sofre muito com isto ter uma maneira de resolver a questão. Mas o que me assusta é que hoje se modifica o corpo como antes íamos da saia curta para a longa. E o pior é ver muitas consequências ruins disto tudo, pessoas que fizeram cirurgias e que depois sofrem efeitos colaterais que afetam sua saúde, ou pior, não tem condições financeiras de ir a um bom médico e acabam nas mãos de pessoas inescrupulosas  podendo até morrer.

E toda esta insatisfação e a impossibilidade de fazer o que se deseja, seja pessoal ou imposto de fora, acaba gerando muita ansiedade, inseguranças e medos. Este controle imposto com suas exigências de aparência, comportamentos que visam muito mais ao mercado do que ao ser humano acaba nos levando a uma crise interna que por não ser conhecida e falada gera pânico, ansiedade generalizada ou depressão, ou tudo isto junto, como eu vivi há um tempo atrás.

E para resolver tudo isto, o mercado tem outro produto - anti-depressivos e ansiolíticos. Ao invés de nos perguntarmos o que causou nosso sofrimento, corremos ao psiquiatra para ter uma receita destes remédios e continuar correndo atrás do que nos é imposto.

O que precisamos é nos analisar, nos perguntar o que causa o sofrimento, por que sofremos, por que desejamos algo, será que isto é tão importante assim? por que não faço o que desejo? o que me retém? Por que preciso de seios e bunda grandes? por que tenho que ser magérrima?

A resposta não é simples nem fácil. Não está ali acessível, é preciso ir fundo e descer nas camadas do inconsciente para descobrir o que realmente nos move ou nos bloqueia. Mas vale a pena!!


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MUDANÇAS - A transição no trabalho e o medo que isto gera


                                              foto retirada da net - google imagens. 



Como é difícil mudar, assusta, temos medo, receios, e com isto vamos tocando uma vida que muitas vezes já não é prazerosa ou nos satisfaz. 

Quando eu era menina e adolescente eu amava desenhar e pintar. Depois quando tinha em torno de 20 anos cheguei a abrir uma loja para vender peças que eu pintava que acabei fechando pouco tempo depois, pois não tinha como cuidar da loja e ao mesmo tempo fazer as peças. 

Fiz faculdade, formei-me em Administração e comecei na hotelaria através de um estágio. Foram 18 anos. Virei uma executiva, viajava muito, negociava, era estrategista. Trabalhei para grandes hotéis do Brasil em Minas, Nordeste, São Paulo e até Buenos Aires e Santiago de uma grande rede de Hotéis mexicana. Até o dia que sofri um ataque de pânico. Acordei sem respirar. Ou achei que não respirava, até hoje não sei. Fiz um check up completo e nada apareceu. Fui parar num médico psicossomático que me medicou naquele momento, mas deixou claro que não estava curando a causa e indicou a terapia. 

Lá fui eu fazer análise com um psicanalista. Já faz 10 anos agora. A análise realmente leva tempo, mas aprendi que o grande benefício é que ela realmente muda as coisas, e não apenas desloca para outro lugar. Quando mexe em algo é pra valer. Não é fácil mudar coisas que estão encalacradas na gente, que vem de anos atrás, que se cristalizaram, que viraram uma espécie de ordem e lei. 

Durante a análise me voltei para o intelectual, fui fazer a faculdade de Filosofia que desejava, e estudei antropologia em um grupo por 03 anos. Aprendi muito. Eu sempre me sentia meio burra quando lia artigos com aqueles temas filosóficos, ou palavras que eu não conseguia interpretar. Então valeu a pena. A antropologia me ensinou muito mais sobre a vida e como viver do que sobre a ciência em si. 

Mas continuava um buraco dentro de mim. Eu ficava rodopiando em volta e nada o preenchia, satisfazia. Foi um processo longo, difícil, mas que é possível de travessar. Eu já havia voltado a pintar, comecei como um lazer, uma diversão. Então começou a vender. Abri uma loja no ELO7 e foi vendendo. Mas o que me faltava era coragem de acreditar que se pode viver disto, que se pode trabalhar com arte e artesanato e conseguir com isto uma autonomia financeira. 

Percebi o quanto eu estava presa a um sistema que dizia que tudo tem que ser produção = lucro, e quando comecei a produzir somente peças que vendiam eu literalmente murchei, e fiquei bloqueada. Eu vi diante de mim uma linha de montagem e não mais de criação. E ouvia comentários dizendo que tinha que ser assim, para dar lucro. Eu também sentia medo de não dar certo e ser cobrada por isto. Ter que pedir ajuda aos outros. E acabou acontecendo. Foram dois meses que fiquei parada e entrei num processo depressivo, de solidão. Fiquei triste, e sentia uma dor profunda dentro de mim. 

Como é difícil assumir seu desejo e mudar. Fazer o que realmente queremos. E o mais difícil, acreditar nisto e confiar de que o resultado vem e é possível sim ganhar seu sustento com este trabalho. O momento é difícil, é de crise, a venda de artesanato é algo mais supérfluo, mas as pessoas continuam comprando uma peça ou outra. Há formas de oferecer produtos que sempre vão ser desejados porque atendem também a algo muito importante para a pessoa, como seu casamento, o nascimento de uma criança, ou uma peça bonita que vai decorar sua casa e também não é algo que custe uma exorbitância, está dentro das possibilidades financeiras das pessoas.

Nesta segunda retomada consegui fazer uma divisão no meu trabalho. Hoje mantenho o que chamei de linha de montagem, apesar de que cada peça é única, e sempre feita com muito amor e dedicação, não é algo massificado. Só que não preciso mais criar em cima dela, já sei o que tem que ser feito e como. Por outro lado abri mais ainda o espaço para a criação. E o grande passo foi abrir o espaço interno, ou seja, deixar a mente fluir e a criatividade vir, sem medo do que os outros irão achar ou se vai vender. E o incrível é que cada vez que faço algo assim é justamente a peça que vai receber mais elogios e comentários. Aí ela se torna uma peça de "linha de montagem" rsrsrs.

E a arte, a criatividade, a criação autoral é algo gratificante e libertador acima de tudo. E reflete em nossas vidas. Vamos nos sentindo mais livres, menos presos ao sistema ou a certas regras que nem sei porque inventaram, porque não trazem benefícios, apenas controlam os outros para que nada mude, nada se crie de novo.

Saí do mundo executivo onde o que imperava era a estratégia, a competição, o resultado e os lucros para um mundo criativo, enriquecedor, mais livre, e que também gera lucro. E traz prazer, contato com pessoas mais leves, com ideias ótimas, também criativas. Só posso dizer que valeu a pena  apesar do medo que senti na travessia neste modo de viver e de ganhar a vida. Aprendi a acreditar no meu trabalho e a valorizá-lo, coisa que antes eu não consegui devido à competição existente. Sempre tinha que ser O melhor, vencer, competir e ganhar. Como valorizar algo num mundo assim? Na arte cada peça é uma, ela não compete com a outra. E há vários gostos, sempre há alguém que vai querer uma peça roxa ou magenta, e tem aquela que gosta do azul clarinho, do branco. Então não há como dizer que a azul clara é mais bonita que a roxa.

Alguns irão gostar de algo simétrico e outros do assimétrico. Alguns querem peças bem formadas com curvas redondas e outros preferem uma moldagem em barro torta, sem muitas definições. E neste leque você tem espaço e liberdade para ir criando. Tenho meu gosto pessoal, mas posso também libertar minha criatividade para fazer coisas diferentes disto, e aprender a apreciar outras coisas. Já me aconteceu de um cliente me pedir algo que de início pensei - que estranho vai ficar e quando pronto fiquei encantada com a peça.

Por isto, apesar do medo, da insegurança é preciso enfrentar e ir em busca daquilo de que realmente gostamos e nos faz bem. 


A VIDA EM UM JARDIM



Ontem coloquei um prato de cerâmica novo para alimentar os passarinhos aqui em casa. Já estrearam hoje de manhã. Agora no inverno eles vem em maior número, há menos frutas nos pomares e por isto eles buscam alimentos em outros lugares. Já notei que na maioria das vezes são os mesmos que vem. 

Estes pequeno seres "penudos" como os chamo são interessantes de observar. Há rivalidade entre eles, mas também tem os casais que vem sempre juntos. Mas ao final tem para todos. Sou péssima quando se trata de nomes de passarinhos, mal sei identificá-los. Tem dois amarelinhos que não são canários que formam um casal e todos os dias ficam aguardando e quando coloco as sementes e quirera eles vem. Tem várias rolinhas, estas conheço. 

Mas quero aumentar este jardim vivo. Alguns comem no chão, mas tem outros que precisa ser no alto. Para estes ainda não tenho nada. Já o João de Barro está sempre aqui, mas nunca o vi comer do que dou, ele está sempre ciscando a grama. 

Eu amo acordar e ouvir o canto dos pássaros. Mas eles tem que estar livres. Foram feitos para voar e enfeitar o mundo. Nada mais triste do que um pássaro em uma gaiola. E eles voltam sempre, não são pássaros diferentes todos os dias, pelo contrário, eles se acostumam e vem. Eles ficam por perto sempre. Eu noto inclusive que eles engordaram. E este é um ponto muito importante, quando se começa a alimentar os passarinhos não se deve parar. Então me pergunto, para que mantê-los em gaiolas? tirar a liberdade destes pequenos seres apenas para garantir que fiquem ali. Não precisa, eles estão sempre por perto de quem os trata bem. Chega ao ponto de um dia virem na mão. 

Tem também o beija-flor que está sempre por aqui, ele vai direto nas flores que tenho. O bem-te-vi e o sabiá. 

Para tê-los no jardim não é apenas colocando sementes e água para eles, mas certas flores e árvores frutíferas os atraem. Eu também vejo alguns se alimentando em minha horta, eles adoram uma folha de alface e couve. 

Mas um jardim não é apenas pássaros, ali temos vários insetos que são benéficos para as plantas e para nós. As joaninhas, por exemplo. Eu tenho um pé de alfavaca que é o paraíso das abelhas. Chego perto e ouço elas trabalhando. E nunca me atacaram, mesmo quando vou lá e mexo na planta. Ando no meio delas, e não me fazem nada. E faço questão de mantê-las. Estão em extinção e são elas que polinizam meu jardim. 

Tenho outro morador, este pode ser o verdadeiro horror de algumas pessoas, mas eu gosto muito dele, é um sapo. Só uma vez ele me causou um problema quando resolveu transformar o pote de água das cachorras em piscina. Minha labradora ficou extremamente indignada e ficou latindo sentada ao lado do pote e olhando para aquele ser dentro de seu pote até eu ir lá e retirá-lo. Tive que passar álcool no pote para tirar o cheiro do sapo. Mas até ela com o tempo se acostumou com o sapo, e teve dias que ela dormia ao lado do pote e o sapo se banhava tranquilamente. Tive então que colocar outro pote com água para as cachorras e deixar a piscina do sapo. 

O sapo come insetos que não são desejáveis ter por perto. E não faz nada para ninguém. Ele pode ser feio, principalmente o comum que é marrom e bege, mas é muito útil. Acho interessante que algumas pessoas colocam sapos em cerâmica no jardim, mas se tem um vivo saem gritando. Além de comer insetos o meu avisa quando vai chover, ele começa a coaxar e eu digo que ele está chamando chuva. 

Tive o privilégio de crescer no interior. Então formigas, aranhas, sapos não me assustam. Só tenho pavor de cobras, apesar de terem tentado me ensinar que as cobras se deve falar com elas, eu saio correndo e peço socorro. 

Atualmente a vida nas grandes cidades nos tira estes pequenos prazeres. Mas estes pequenos seres vivem nas cidades também. Basta uma sacada com plantas, flores e lá estão alguns deles. Coloque um pratinho com sementes na varanda ou sacada e os passarinhos irão vir. Nos parques e nas árvores nas ruas eles estão lá. Nós é que não temos mais tempo para perceber isto. 

Mas um jardim vivo com plantas que nascem, crescem, dão flores ou frutos,  morrem, é o ciclo da vida e nos ensina muito. Pequenos animais, insetos, pássaros, tudo isto está ali, vivendo pertinho de você. Se aprendemos a observá-los vamos conhecer a natureza, vamos saber quando vai chover, quando há perigo no ar, quando tudo está bem. 

Criar um jardim vivo, deixá-lo colorido e acolhedor é uma arte e um imenso prazer. Uma terapia estar em contato com a terra, e eu não uso luvas para isto, pois gosto de sentir a terra nas mãos. Podar, cortar os galhos mortos, tirar as folhas secas, e que você pode ainda utilizar para fazer compostagem. E o prazer de ver as flores se abrindo, colorindo tudo. Não consigo me imaginar em uma casa sem flores.

Tenho pés de lavanda, que deixo secar para fazer sachês e perfumar a casa, as roupas. Plantas medicinais e temperos que colho na hora que preciso. As flores sou um pouco beija-flor, gosto muito de flores vermelhas. Gosto da mistura do verde com o vermelho, deixa a casa alegre e quente.

Nada é mais gratificante para a alma do que ter um jardim vivo, com vida, sejam pássaros, insetos, pequenos animais, e as plantas. É um bálsamo. 





quarta-feira, 26 de julho de 2017

AS AVÓS

Hoje, dia dos avós, aproveito para falar destes seres tão especiais e importantes em nossas vidas.

Feliz é a criança que pode ter contato em vida com seus avós, infelizmente muitas só os conhecem de fotos, mas as histórias que contam sobre eles ficam registradas e são de vital importância. Eu só conheci meu avô materno, os outros já haviam falecido. E o vi pouco, ele morava na Bélgica e eu aqui no Brasil. Mas mesmo assim guardo lembranças dele que são muito importantes e que não vou esquecer jamais. Mas minha avó paterna tem uma história incrível e é justamente com ela que me identifico. Por aí podemos ver como as histórias contadas sobre eles são de suma importância. 

Quando falamos de avôs sempre nos vem uma imagem de velhinhos de cabelos brancos. De um avô que ensina a pescar, cuidar do jardim, que faz um balanço no quintal para nós e de uma avó que faz quitutes deliciosos, nosso bolo preferido, tricota blusas, e nos dá presentes além daquele colo maravilhoso de avó. 

Mas atualmente os avôs mudaram, muitos ainda são bem jovens, estão em pleno vigor de suas vidas, trabalham, viajam. Alguns estão separados e se casaram novamente, outros namoram. Meu neto costumava apontar para os aviões e dizer - vovó. Quando ele era pequeno eu ainda trabalhava na hotelaria e viajava muito. Quando ele nasceu eu tinha 41 anos. Fui mãe muito jovem. 

Esta situação muda um pouco a relação com os avós que já não estão disponíveis o tempo todo e levam uma vida ativa, mas por outro lado enriquece a relação por estarmos no mundo vivenciando o mesmo que eles. O importante é conseguir aquele tempinho para os netos, por mais difícil que seja. 

Costuma-se dizer que avós estragam a criança. Delícia isto, não precisar ficar educando e poder curtir os netos, brincar, e até protegê-los da bronca dos pais. Mas existe um outro lado muito comum atualmente, onde se vê os avós no papel de pais. Muitos filhos trabalham e são os avós quem cuidam do neto e acabam educando-o. Isto acaba tirando os avós de seu papel fundamental na vida das crianças para transformá-los em pais, e estas acabam tendo duas mães ou dois pais, quando não elegem a avó ou avô como pais e olham para seus pais como irmãos inconscientemente. 

Por outro lado os pais também acabam tendo uma tendência em transformar seus pais nos pais de seu filho. Vivem na correria, mal tem tempo de cuidar da criança, e só estão presentes, quando estão, nos fins de semana. Ou então moram todos juntos, e aí é que o papel de irmãos acaba se consolidando mais, porque os avós já não estão em seu papel normal, mas são eles os donos da casa, os que regem o lar. 

Agora o mais triste são os avós que são deixados de lado, por falta de tempo, por preconceito com a velhice, por darem trabalho. E quando os pais agem assim, a criança também aprende a achar a velhice algo que incomoda e é chato. E todos se esquecem que irão envelhecer também. 

Os avós são fundamentais em nossas vidas, seja pela presença deles ou pelas histórias sobre eles. Nos marcam, nos constituem, são referência, são identificação. Os avós personificam a sabedoria, o amor, o acolhimento, a paz. Nada como um avô ou uma avó quando algo de ruim nos acontece. 

Claro, existem  alguns avós que são difíceis de lidar, são pessoas rabugentas, teimosas, ou então querem ter autoridade sobre tudo e todos se valendo de sua experiência e de ser mais velho. Mas eu ainda acredito que avós assim usam tudo isto como uma defesa, um escudo para se manterem vivos e reconhecidos. Então vale a pena observar melhor a situação e tentar compreender porque estes avós são assim. Talvez tenham dificuldade em envelhecer, se sintam sozinhos ou inúteis, se sintam abandonados. Ou então se sentem sendo invadidos pelos filhos que pensam que eles não são mais capazes de cuidar de si e de tomar decisões. Filhos que acham um absurdo seu pai ou sua mãe quando sozinhos se apaixonarem por alguém nesta idade, que acham que pai e mãe são assexuados e devem ficar quietos em casa vendo TV ou tricotando. 

Também temos pais que afastam seus filhos dos avós. Não os levam para visitá-los, não os convidam, vivem falando mal deles, e isto é tremendamente prejudicial para a criança que precisa deste entorno e referências, além do amor dos avós e de amá-los. 

O nascimento de um neto é algo inexplicável. Parece que sai de nós também. É uma prolongamento, uma extensão de nós mesmos. A emoção é muito forte e aquele pequeno ser que acaba de vir ao mundo, nós o sentimos como saindo de nossas entranhas. Nos apaixonamos, amamos, e sentimos que valeu a pena viver, que ali está nossa continuidade, a herança que deixamos e que irá se perpetuando através das gerações vindouras como os bisnetos e assim por diante. 

E vale lembrar aqui agora os Bisavós, Tataravós e do quanto estas pessoas fazem parte de nós. Também nascemos deles e somos parte deles. Os carregamos em nós, temos suas histórias em nós. 

Esta foto é da minha tataravó Matchuli, referência até hoje para toda minha família materna. 

terça-feira, 25 de julho de 2017

A DIFÍCIL TRAVESSIA DA LIBERTAÇÃO DO OUTRO

Desde pequenos fazemos de tudo para ser amados, e isto nos condiciona a sempre querer agradar ao outro para ser amado. Pensamos que sendo bonzinhos, prestativos, atenciosos garantimos este amor. 

Claro que ser bom, prestativo e atencioso é importante, mas tem um limite. E este limite é o que chamo de meu território, meu espaço e o respeito ao que eu sou e desejo. Mas como é difícil colocar os limites neste território. Até os animais fazem isto, tem seu território e seus limites. E mesmo um cachorro, que ama incondicionalmente, quando algo lhe desagrada ele pode não reagir ao seu dono, mas nós percebemos que ele não está gostando. 

Mas nós estamos sempre querendo o reconhecimento, o amor do outro, queremos ser elogiados, admirados, temos medo de desagradar ao outro, temos medo que o outro nos vire as costas. Trazemos em nosso inconsciente esta dependência infantil, do bebê humano que depende do outro para sobreviver, do desejo do amor dos pais que iremos reproduzindo e projetando durante nossa vida adulta. 

E mesmo que racionalmente saibamos que o outro que nos ama, ama com todos os defeitos também, do contrário não é amor, quem disse que agimos de acordo com isto. Quanta dificuldade para se posicionar e não sentir mal estar, culpa. Mesmo fazendo isto muitas vezes voltamos atrás, damos o braço a torcer, e achamos que valeu a pena, pois o outro voltou a sorrir para nós. 

Mas nestas relações há um gozo de ambos os lados. É o famoso sadomasoquismo. O que goza por ter autoridade sobre o outro e o que goza ao sofrer com isto. E o mais interessante é que buscamos relações assim sem o perceber. 

O caminho para a libertação disto e de poder suportar que uma relação de gozo se rompa no momento em que nos libertamos é longo. Sim, porque o mais provável é que realmente o outro vai deixar de "gostar" de nós, porque ele também precisa desta relação neurótica de estar por cima, de achar que é amado porque sabe tudo, porque é a autoridade, ou seja, o pai ou a mãe. 

Muitas mulheres buscam amigas que eu chamo de "grandes mães". É aquela que sabe tudo melhor que você, que sempre tem razão, que te critica sem parar, que dificilmente te fará um elogio, e que quer acima de tudo que os desejos dela sejam realizados e não os seus. Uso o termo mãe porque falo de uma mãe imaginária que criamos dentro de nós. Aquela mãe que achamos que nunca conseguimos conquistar o amor como queremos. Aquela mãe que achamos que nunca está satisfeita com o que fazemos e vive nos cobrando mais. 

Mas você vai percorrendo o caminho da libertação e chega um dia que consegue. Neste momento é quase 100% certo que esta amiga irá se afastar. Não fará mais sentido para ela ter sua amizade, porque ela também vive a relação neurótica com você. E isto acontece em muitas relações, casamentos, com chefes etc. 

Quantas vezes você não conseguiu dizer não? quantas vezes se calou mesmo discordando? quantas vezes pediu desculpas mesmo achando que não devia? quantas vezes ficou de cabeça baixa diante do outro para depois se remoer de raiva? quantas vezes deixou de fazer algo que queria porque o outro criticou ou desprezou o que você desejava? quantas vezes você sentiu sarcasmo ou deboche na voz do outro e isto te incomodou profundamente? 

E nem sempre este outro o faz por inveja ou maldade. É realmente aquele lugar de grande mãe que deseja que o filho ou filha seja médico e este resolve ser bailarino. É o lugar da mãe que sonha com um casamento com alguém de alta posição social ou intelectual e você se apaixona por um hippie. Nas amizades isto também funciona assim. Sua outra grande mãe deseja que você siga por um caminho que na opinião dela seria o melhor, ela quer te moldar à imagem dela, e age desta forma. E se você "escorregar" pronto, vem a crítica, o deboche, o sarcasmo. Você já não corresponde mais ao ideal dela. 

E penso que realmente buscamos estas grandes mães para poder fazer a libertação. Projetamos nestas pessoas aquilo que está dentro de nós, em nosso imaginário. Claro que sempre as encontramos e quase sempre serão assim, até o dia em que você se libertar e perceber que existem outras pessoas que já se libertaram disto também e serão capazes de respeitar as diferenças, o desejo do outro, e te apoiar em vez de criticar. 

Acontece também de no momento que você rompe isto o outro também sofra uma mudança, afinal a projeção dele também sobre um abalo, e com isto a relação ser possível de ser mantida. Mas o mais comum é que se rompa neste momento. Dificilmente os dois estarão traçando o mesmo percurso em busca de uma libertação. Por que ser a grande mãe também é uma prisão, é não ser capaz de respeitar o outro como um ser único com suas singularidades e diferenças. É querer que o outro atenda aos seus desejos e com isto invadindo o outro, se transformando em uma grande sombra em cima do outro. 

A satisfação e o bem estar que gera poder finalmente ser quem você é, fazer o que deseja, suportando as críticas ou desaprovações do outro, suportando afastamentos que isto irá provocar, mas ao mesmo tempo abrindo novas oportunidades e novas relações, de finalmente poder ter um gozo saudável, de algo que lhe traz prazer e satisfação, tudo isto não tem preço. 

Quando estamos libertos o reconhecimento e o elogio tem outro sentido, é a valorização do que você é ou fez, não um prêmio de amor ou consolo, do tipo mamãe gostou, que bom, ela me ama e mamãe fica feliz porque você fez algo que ela gostou ou queria que fizesse. Quando estamos libertos já não precisamos brigar com unhas e dentes para fazer o que desejamos, podemos fazer, e no máximo rosnamos para afastar quem quer invadir ou ocupar este espaço dentro de nós, como um alerta, pode parar, não vou fazer o que você acha que devo fazer. 

Agora esta libertação requer maturidade e responsabilidade. Requer a capacidade de arcar com as consequências do que você faz ou é. E este é o ponto crucial a ser atravessado. Ter a coragem para isto. Nada de correr para o colo do outro se der errado, esperando que o outro resolva para você o que fez. Buscar uma palavra amiga ou apoio é uma coisa, mas querer que o outro assuma seu erro é que não pode. Você tem que ser capaz de rir inclusive de seus erros ao invés de chorar. Aceitar que erramos, que não deu certo, avaliar e analisar o que foi que aconteceu ao invés de se culpar ou querer receber um consolo do outro. Se for preciso fique quieto alguns dias, até pode chorar para aliviar a frustração. Depois respire e aja, faça algo, mude, esqueça, transforme, desista, mas não antes de analisar tudo. 

Esta libertação requer que não desejemos envolver o outro conosco para dividir com ele a responsabilidade, ou pior, fazer com que ele arque com isto. Precisamos ter a coragem de fazer e assumir, de ser e assumir. 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O PRAZER DE MORAR EM CIDADES PEQUENAS


Esta é a vista que tenho de minha varanda. Isto é uma benção. As árvores, as araucárias, ao fundo a serra. O balão, em dias claros nos fins de semana sempre tem balões passando. É um passeio que sai dos Campos Gerais. 

O por do sol é algo maravilhoso visto de minha casa. As noites de luar, sem falar nos pássaros, até mesmo uma coruja branca já vi no meu murro. 

No inverno é mais frio, não tem prédios que segurem o vento, e ele "canta" aqui. Quando tem temporais o trovão é mais forte. A geada deixa tudo branco. Quando tem arco iris é lindo. Podemos respirar, e encher os olhos com esta vista. 

Faz 04 anos que optei sair de uma capital e retornar para uma vida mais interiorana. Não me arrependo em nenhum momento. E esta cidade que escolhi fica a apenas meia hora da capital. Muitas pessoas que moram aqui trabalham em Curitiba e vice versa. Continuo tendo acesso a tudo que uma cidade menor não ofereceria, como teatro, shows, museus, exposições e cinema com filmes mais cults, apesar de termos aqui também um bom teatro e até um festival e escola de teatro, temos um museu e exposições, e feiras da mulher e da porcelana. 

Eu sempre amei a vida no campo, o rústico, os sítios, as fazendas, os bosques, as florestas. E como fizeram falta, apesar de que Curitiba tem uma grande diversidade de parques e ainda mantém imensas áreas verdes. 

Campo Largo é a terra das cerâmicas, brancas ou de terracota. Também é a terra da porcelana. As cerâmicas não são industrializadas, são sítios, barracões com um ou dois fornos. Geralmente é a família quem trabalha ali. Você tem contato direto com o dono. A porcelana já é industrializada. 

Há muitas colônias em volta, sítios e chácaras. Você pode ir e comprar ali mesmo, e mais, pode colher o que quer. Queijos feitos em casa, leite de vaca puro, pães pretos, manteiga e nata. Todo sábado tem uma feira no centro da cidade dos colonos. 

Você vê pessoas à cavalo na cidade. Tem muitas festas de Santos nas diversas igrejas das colônias em volta da cidade. 

Mas é uma cidade que oferece coisas sofisticadas também. Tem excelentes confeitarias, restaurantes, lojas muito boas e em breve terá um shopping, o que eu pessoalmente não faço questão, mas enfim.... E possui uma dos maiores hospitais da região. Muitos vem da capital para este hospital. É moderno e muito bem equipado. Temos excelentes médicos aqui e todo mês passam na minha casa as moças do SUS para ver se estou bem. 

A cidade oferece algo que aprecio muito. Não tem características da cidade grande, mas também não é tão provinciana onde o povo controla tudo, sua vida e a vida social. É um meio termo, talvez por estar bem próxima de uma capital.

Fica a 25 km de Curitiba e como é triste ouvir pessoas dizendo que moro no mato. O desprezo pela opção por uma vida mais calma, menos estressada, sem aquele trânsito da capital, sem a correria, as filas, sem o estresse dos outros. Aqui vou ao Detran na hora do almoço e resolvo tudo em 10 minutos. Vou ao Banco do Brasil pagar o licenciamento do carro e tem duas ou três pessoas na frente. Vou ao INSS e sou atendida no horário agendado. Quanto tempo ganho em minha vida com isto?

No supermercado ainda há garotos que levam a compra até o carro. E o que mais me surpreendeu, a caderneta para marcar o que você comprou. Nada de fichas, documentos, aprovação de crédito. Existe uma confiança no outro que já não há em grandes centros urbanos. Foi logo quando cheguei que vi isto a primeira vez, precisava de uma antena para a TV e fui num sábado olhar e disse que iria voltar durante a semana depois que recebesse. O que? e vai ficar sem TV no fim de semana? não, to mandando o técnico daqui a pouco na sua casa para instalar, depois você passa aqui e me paga. Não tive que assinar nada. Há várias lojas que funcionam ainda com a caderneta, anotam no caderno o que você levou. Só pedem teu telefone. E eu aprendi a confiar novamente nas pessoas.

Hoje faço Santas e as deixo no local combinado, passo lá depois para pegar o dinheiro que a pessoa deixa. Às vezes levam as Santas, e depois deixam o dinheiro. Não conheço os clientes, apenas de falar no telefone. Pego ração para as cachorras e eles anotam num papel, depois passo e pago. Claro, há calotes aqui também, mas as pessoas primeiro confiam.

Tem pessoas que não vem me visitar aqui, querem que eu vá para a "civilização". Este preconceito que várias pessoas tem em relação às pessoas do interior é algo triste e eles não sabem o quanto é muito melhor viver longe das cidades grandes. A qualidade de vida é muito superior. É muito mais saudável tanto para o físico como para a mente e o psiquismo.

Acordo com passarinhos cantando e aliás, me aguardando, porque todos os dias de manhã eu os alimento. Chegam a pousar na minha janela e me olham quando acontece de eu demorar. Ficam pousados no fio elétrico me aguardando. O sol bate na casa toda, não há sobrados ou prédios grudados. O cheiro do ar é do mato, da natureza. O único barulho estridente que temos aqui são os quero-quero, que vivem dando seus gritos, inclusive no meio da noite, principalmente se estiverem com filhotes.

Sou muito mais feliz morando aqui, olhando esta natureza a minha volta que me enche os olhos, me traz paz. A natureza é algo que nos renova, dá energia, disposição e ao mesmo tempo acalma. Valeu a pena mudar para cá.