quarta-feira, 31 de maio de 2017

ASSUMINDO OS CABELOS BRANCOS

Até os 40 anos eu nunca havia pintado meu cabelo. Foi quando um dia após tirar fotos 3x4 eu olhei para elas e me vi envelhecida com cabelos brancos. No mesmo dia tratei de ir a um salão e pela primeira vez pintei os cabelos.

A partir daí tive que manter a tintura, mas sou uma pessoa que não gosta de salões, eu não gosto de ficar lá por duas horas para pintar um cabelo e cortá-lo. Detesto o barulho de secadores de cabelo, todo o blá blá blá a minha volta. Sempre levava um livro, mas com todo o vai e vem e as conversas e barulho eu não conseguia ler. Durante um tempo tive uma cabeleireira que tinha seu salão na casa dela, e trabalhava somente ela e uma manicure. Ali até que eu ia, mas não posso dizer que totalmente feliz, mesmo gostando muito dela. 

Nos últimos anos eu já estava com vontade de abandonar tudo isto, mas cadê a coragem? 

- Vai ficar parecendo uma velha
- Vai dar aparência de desleixo
- Que feio
- Você é muito nova para ter cabelos brancos
- E a vaidade? 

Estas eram algumas das frases que eu ouvia. Mas o pior era como eu me sentia dentro de mim. Eu queria e não queria. Vai ficar feio. Assim que parei de trabalhar fora eu comecei a esticar o tempo entre uma tintura e outra, mas bastava ter que ir a algum evento social ou fazer uma viagem, corria ao salão e pintava de novo. Além disto meu cabelo era comprido e para tirar a tinta dele era preciso cortar.  

Sempre gostei do meu cabelo comprido, e mais, nas poucas vezes que o cortei parecia que eu perdia minha sensualidade. 

Até que consegui ficar um ano sem pintar e com isto, claro, deixar meu cabelo horroroso. Era uma tarde de verão, muito calor e eu estava dirigindo quando parei num semáforo e olhei no retrovisor. A decisão foi imediata. Chega, vou cortar este cabelo curto hoje, e vou deixar na cor que ele está. Fui na mesma hora atrás da minha cabeleireira e parece que tudo conspirava, pois uma cliente tinha acabado de cancelar e ela tinha o horário. 

Ela me perguntou - no ombro? - não mais curto. 

E quando ela terminou e olhei no espelho achei lindo. E ela também achou que ficou muito bom. Sai de lá, paradoxalmente com cabelos brancos e saltitante como uma criança. 

Todos elogiaram, gostaram. Meu cabelo ainda não está totalmente branco, ele tem mechas cinza, com branco e um resto de loiro. Mas é natural agora. 

Eu não me senti velha, pelo contrário, parecia que tinha tirado um peso de minha cabeça. E a liberdade foi deliciosa. Me achei mais bonita que antes. Talvez eu estivesse refletindo isto também em meu rosto, feliz. 

Quanto tempo levei para isto? e porque? somos condicionadas pela opinião do outro e do que a sociedade pensa a respeito. Posso ter 56 anos, mas penso sim no que um homem vai achar. Queremos estar bonitas, ainda queremos atrair olhares. Mas o pior é que ficamos pensando que as outras mulheres estão pintando seus cabelos e vão estar mais bonitas, elas vão me achar velha. Que tortura!!! Durante 05 anos eu não consegui fazer o que eu queria. Precisou de 5 minutos de ataque para ver um resultado que me agradou muito mais do que o antes e me deu muito mais liberdade. 


VÊNUS DE WILLENDORFT



Assim que retomei o atelie a primeira coisa que fiz foi uma Vênus de Willendorft em argila. 

Queria que ela fosse simbólica no atelie pela fertilidade, ou seja, o criar, produzir, dar à luz, e por ser um simbolo da mulher. 

Foi um processo interessante, após anos sem fazer nada que se relacionasse com arte, pintar, desenhar ou modelar a argila confesso que gostei do resultado. Agora ela fica pendurada na parede do atelie. 

E gosto muito dela por ser um simbolo de uma mulher que não responde aos estereótipos de beleza que são impostos hoje à mulher. Ela é cheia, gorda, não é um corpo magro e escultural, é um corpo para criar, para gerar, não para obter o olhar do outro mas para dar luz ao outro. 

A que foi encontrada em 1908 na Áustria tem datação de 25.000 a 20.000 a.C. Ela representa a imagem feminina, com a vulva, os seios e a barriga volumosa. Esta escultura não tem pés. o que leva a pensar que se trata de um amuleto. 

Eu a vejo como uma mulher calorosa, que aconchega, mas que ao mesmo tempo é forte, plena. Por isto a escolhi para ser a primeira peça e também para estar presente no atelie. E a fiz da forma mais simples, rústica. Modelei o barro com as mãos com uso de estecas. Deixei secar naturalmente e assim ficou com uma cor de barro seco. Era isto que eu queria, algo feito à mão e naturalmente. 

O prazer de se modelar, dar forma ao barro com as mãos é algo que não tem preço. Você vê surgir aos poucos diante de você o que tem na mente. Isto é criar, gerar, isto é fertilidade. 

E não se atenham à perfeição. O que é feito à mão nunca será perfeito, não é isto que se busca, mas algo que apreciemos, que nos fale e que fale ao outro. Então qualquer um de nós pode fazer, criar algo com argila. Quando éramos crianças fazíamos isto e sem se importar com perfeição e sempre gostávamos do resultado. Infelizmente perdemos este lado infantil que nos nutre, que gera curiosidade, que no move, que nos leva a fazer coisas, quando nos tornamos adultos. Mas esta criança continua lá, vamos resgatá-la e deixar que brinque muito, que faça coisas, que descubra, que se atreva a fazer sem medo. E o maior prazer está no processo, no ato de criar. Nada como sentir o barro nas mãos, e ir moldando algo aos poucos. 








terça-feira, 30 de maio de 2017

SÓROR JUANA INÉS E SANTA TERESA D'ÁVILA


Nos últimos dias assisti uma minissérie sobre Sóror Juana Inés e um filme sobre Santa Teresa D'Ávila. Ambas me interessam e muito pelo aspecto do feminino.

São duas vozes extremamente femininas, ambas são religiosas, ambas viveram no período da Inquisição, ambas eram fortes, determinadas e feministas, mas mas ambas falavam pelo feminino. 

Juana Inés viveu no México nos anos 1650 sob a colonização Espanhola e Teresa viveu na Espanha nos anos 1500. Ambas eram letradas, liam muito, estudavam e escreveram livros. Mas há uma diferença que me chama muito a atenção. 

Juana nunca teve vocação religiosa, era uma jovem bastarda que após ser expulsa de casa pelo Tio precisou ir para a Corte do Vice Rei da Espanha para sobreviver. Devido seu amor ao saber acaba se vendo obrigada a ir para um convento para poder ler e estudar. Teresa ao contrário, tem esta vocação religiosa, e se entrega de corpo e alma à Cristo. Teresa era uma mística, Juana não. Mas ambas escreveram poemas eróticos e ambas são barrocas. Teresa em profundo êxtase com seu amor por Cristo e Juana por amor humano. 

Ambas foram brilhantes e nos deixaram poemas lindíssimos, escritos na linguagem feminina. 

Confesso que nunca fui muito chegada a ler poesia. Dias atrás li em algum lugar que foi justamente pela busca da razão, da civilização da cultura que a poesia foi relegada já que ela representa a alma, o profundo, e então isto me alertou. Somos educados e criados em uma sociedade que despreza o emocional, o feminino, o relega a coisas românticas e subjetivas, coisas aos quais não se dá muito valor. Esta constatação em mim mesma me reaproximou da poesia como algo que devemos ler e muito. Somente a poesia nos fala à alma, é capaz de dizer coisas que não conseguimos dizer. 

Muitos disseram que após Auschwitz não seria mais possível escrever poesia. Mas foi justamente pela poesia que Paul Celan conseguiu falar do horror que viveu com os nazistas e nos campos de concentração.  

Comecei a reler a biografia de Juana Inés escrita por Octávio Paz - Sóror Juana Inés de la Cruz - As armadilhas da fé. Quero ler o livro de Julia Kristeva sobre Teresa - mon amour (meu amor). Voltarei várias vezes a falar delas aqui. 






domingo, 28 de maio de 2017

EM BUSCA DO FEMININO



Pina Bausch 

Venho pensando muito no feminino. Nos anos 80 fui feminista, não daquelas radicais, porém eu apoiava os direitos iguais de cidadã, o voto, salários, o divórcio, o direito ao seu corpo, as possibilidades de profissões, a liberdade da mulher. Mas permaneci sempre com a ideia de que a mulher não é e nunca seria igual ao homem, nem almejei isto. 

Esta fase do feminismo trouxe um alto preço para a mulher que tinha dupla ou tripla jornada, que teve que endurecer e ter uma postura masculina de não chorar, de ser fria, racional, abrir mão da maternidade quando o desejava em prol de sua profissão, de ter um companheiro ou casar. Claro, há muitas mulheres que optam por não ter filhos e não se casar, mas se isto for uma escolha dela está tudo certo, o problema é quando se trata de uma imposição que lhe vem de fora. 

Veio a fase das diferenças, das alteridades com os mesmos direitos, mas o preço foi pago e permaneceu. Muitas mulheres não se dão conta do quanto estão masculinas em suas ideias e linguagem. E aí temos um problema profundo e difícil - a linguagem. 

Sempre parti do princípio que aprendemos a pensar através dos outros, e com qual linguagem? a masculina que domina o mundo e nem nos damos conta disto. Estou lendo um livro que ganhei de uma amiga,  "A guerra não tem rosto de mulher" da ganhadora do prêmio nobel Svetlana Aleksiévitch onde ela nos diz exatamente isto - as mulheres também viveram a guerra, mas não falam e quando falam usam o cânone masculino. O que ela faz neste livro é maravilhoso, apesar do tema, ela busca a voz feminina, o olhar feminino da guerra e para isto evita inclusive mulheres mais instruídas, intelectuais devido justamente à linguagem. Ela vai atrás de mulheres camponesas, cozinheiras, enfermeiras, e aos poucos consegue que elas falem. Mas consegue porque agora elas já estão idosas, já adquiriram uma certa liberdade que a idade nos oferece e querem falar, falar do que sentiram, do que viram, de como seu corpo reagiu a tudo aquilo, do que marcou e criou traumas. Recomendo a leitura. 

Freud dizia que a mulher é um continente negro. Partindo de um homem, ainda mais no século XIX, não vejo nada de absurdo no que ele diz. Neste tempo a mulher já havia sido sufocada, relegada a um segundo plano, um ser inferior. Até mesmo Simone de Beauvoir com o "Segundo Sexo" se baseia em autores masculinos para falar da mulher. Onde está a voz da mulher??? 

Comecei a me interessar por isto faz uns cinco anos. Primeiramente me chamou a atenção as místicas e as beguinas. As beguinas eram mulheres que não desejavam se casar e tampouco entrar para um convento, numa época onde estas eram suas opções, além de ficar em casa para cuidar dos pais. Elas queriam ter uma vida, mas sem estas imposições. No meio delas surgem algumas místicas. Mas o que chama a atenção é a linguagem da mística, algo profundamente feminino. Mesmo quando se trata de São João da Cruz, é seu lado feminino que fala. Sim, porque todos nós temos os dois lados em nós. 

Iniciei uma pesquisa em busca de vozes femininas e fui encontrando várias. Não sei se elas percebem isto ou não, mas o fato é que é uma linguagem diferente, seja na escrita, na expressão através da arte na pintura, na dança, na escultura etc. Elas deixam o feminino vir a tona, e por favor, elas não são frágeis, do lar, recatadas e bonitas. Não se trata disto. 

Há um polêmica muito forte quando se trata de falar sobre o que é feminino, principalmente tenho visto isto na literatura, por exemplo. Penso que isto está baseado em esterótipos, ou seja, de que dizer que uma literatura feminina é melosa, cor de rosa, romântica. Seria como classificar esta literatura como inferior. Não estou falando disto, porém compreendo esta posição em relação ao termo, uma vez que nossa sociedade realmente vai interpretar desta forma. Ainda não alcançamos o ponto onde o feminino e o masculino são aceitos como iguais em suas diferenças. Não como complementares, nem como opostos, mas sim, como ambos pertencendo a este planeta na mesma posição do que vamos chamar de hierarquia sem haver superior ou inferior, mas sendo diferentes. Sem haver a necessidade da mulher e do homem provarem nada. Sem lutas, sem dicotomia classificatória, sem a posição onde a mulher estaria mais próxima a natureza e o homem da cultura e por isto precisa ser domada e controlada. 

O empoderamento busca trazer a mulher a tona, mas eu pessoalmente acho infeliz o termo usado. Ele me causa ojeriza, não se trata de poder, mas de Ser e Existir. Mas, talvez justamente devido à linguagem masculina dominante este termo seja necessário. Principalmente para poder trazer muitas mulheres ainda subjugadas à vida, mulheres que sequer foram levadas em consideração pelo próprio feminismo que era voltado para mulheres brancas e muitas vezes conduzidos por mulheres burguesas. Mulheres negras, indígenas, latino-americanas,asiáticas que foram deixadas de lado, sem falar nas homossexuais. O foco do feminismo foi a mulher branca ocidental e hétero. 

Mas meu intuito não são as questões sociais ou políticas, mas a linguagem. Qual é a linguagem feminina? qual é a voz da mulher? como ela vê o mundo? o que pensa sobre ele? Como o define? o que diz sobre ele? e sobre si mesma?. 

Algumas mulheres já estão em evidência neste percurso, mas eu gostaria de encontrar outras. Por enquanto foco em Sóror Juana Inés de la Cruz, uma mulher que precisou entrar para um convento para poder escrever no México do séc. XVI, filha natural de um pai basco e mãe mexicana, era uma mente brilhante e escrevia poemas esplêndidos. Octávio Paz nos brindou com um belíssimo livro sobre ela, e atualmente a Netflix colocou no ar uma minissérie sobre sua vida. 
Louise de Bourgeois me atrai com sua arte onde ela expressa seu inconsciente. Pina Bausch com sua dança que para mim é extremamente feminino na dor, na submissão, no sofrimento, em todos seus gestos, no seu corpo. 
Penso em Maria Gabriela Llansol como escritora, Laura Esquivel também, Marguerite Duras nos oferece textos maravilhosos e com uma linguagem absolutamente feminina, foi a mais bela descrição de angústia que li até hoje em seus "Cadernos da Guerra",  Clarice Lispector já é mais conhecida, assim como toda a arte de Frida Kahlo, Camille Claudel, e várias outras. Hoje encontrei uma pintora - Lena Gal dos Açores que me interessou. Continuo minha busca, desejo escrever sobre elas e aprender com elas para também me libertar este domínio da linguagem masculina. 


 Lena Gal - "Dor Silenciosa"

 Louise Bourgeois 
Sóror Juna Inés 

PEQUENAS CAPELAS E LOCAIS SAGRADOS QUE SEJAM SEUS

Falando das Capelas de beira de estrada não posso esquecer dos nichos que muitas casas possuem em cima da porta de entrada ou no segundo andar sempre centralizadas na casa onde colocam uma Santa de devoção. Aqui onde moro, falando de Curitiba, isto é muito comum em Santa Felicidade. 

Mas também vemos pequenas capelas nos jardins das casas. No condomínio em que moro há uma casa que tem uma com a N Sra Aparecida e a Pietá ou N Sra da Piedade que é a padroeira de Campo Largo. 

Clarissa Pinkola Estés, uma escritora que gosto muito, analista junguiana, em seu livro "Libertem a mulher forte" tem uma história sobre a construção de um santuário em seu jardim para a N Sra de Guadalupe, seu lugar sagrado no jardim. É uma história muito bonita que acaba se revelando como uma cura para ambos, ela e a pessoa que ela contrata para fazer o santuário. 

Não se trata apenas do religioso, mas do sagrado, que nem sempre é ligado à religião, pois uma cachoeira pode ser um lugar sagrado. Este contato com nossa parte mais profunda é vital para a alma, para nosso bem estar. A antropologia nos fala muito do sagrado e penso que todos nós devemos ter um lugar, um recanto, um canto sagrado onde podemos nos recompor, recuperar as energias, 

Pode ser um canto no jardim com flores ou plantas, uma árvore, um cantinho em casa, um lugar escolhido que conhecemos e que nos faz bem, um oratório, um nicho com um Santo que nos dá consolo e confiança, ou uma gruta ou pequena capela no jardim ou dentro de casa. Precisamos daquele lugar que metaforicamente pode até ser chamado de útero, que significa repouso, mas também vida, onde nos recuperamos, ou nos acalmamos. Algo que nos toque profundamente. 

Nossa sociedade está voltada para a produção, para o sucesso, e uma felicidade prometida que não se alcança pelo consumismo, status ou poder, conforme se prega. Mas vivemos nesta sociedade que tanto nos cobra, nos acelera, nos impõe, e por isto mesmo este lugar sagrado é vital. Um local onde se pode estar consigo mesmo, onde podemos esquecer um pouco toda esta aceleração, excessos de informações, cobranças, pressões do dia a dia. 

Se puder ter neste local plantas e água melhor ainda. O cheiro do mato, das plantas e o barulho da água são um bálsamo para nossas almas, para nosso corpo, para nossa mente. Deite na grama, cheire o ar, olhe, ou feche os olhos e escute. 

Mesmo que você more em um apartamento em uma metrópole isto é possível. Tenha um cantinho com plantas, talvez uma daquelas fontes pequenas que se vendem, ou use a imaginação e criatividade para criar uma. Coloque pedras de preferência que tenha encontrado em lugares que visitou, flores, se for preciso coloque um CD com sons de pássaros, água, ou uma música que te alimente, ou então faça um oratório, um altar com os Santos de sua devoção, ou uma única ou um único Santo, um Espírito Santo, o que preferir. 

O importante é ter este local para recarregar a bateria, para encontrar paz, para ter um momento a sós consigo mesmo, para poder colocar as ideias em ordem, mas acima de tudo para encontrar um pouco de silêncio do outro e encontrar-se consigo mesmo e sentir a vida pulsando. 



quinta-feira, 25 de maio de 2017

PEQUENAS CAPELAS NA BEIRA DA ESTRADA - FOTOGRAFIA


Uma coisa que gosto muito é de fotografar pequenas capelas em beira de estradas. 

Esta da foto fica em São Bento do Sapucaí - SP. Fiquei encantada com a riqueza de detalhes e como ela foi feita. Com pequenas imagens de Santos, anjos e ladrilhos de azulejo criando algo muito artístico e expressivo e muita criatividade. 




Estas duas abaixo é na estrada que liga Campo Largo à Balsa Nova - PR. Infelizmente a mais antiga foi demolida o que me entristeceu muito. 



Gosto de pegar o carro e rodar por estradas de terra pelo interior da região onde moro. São estradas belíssimas, a natureza, os detalhes, os sítios, animais, e claro que continuo encontrando capelas. Estas também são na região de Campo Largo-Balsa Nova. 



Há vários motivos que levam as pessoas a construírem estas pequenas capelas, por devoção, agradecimento e também em homenagem a alguém que faleceu no local. E olhem esta abaixo:



Esta é a placa que está na parte de cima da parede da capela. 

A fotografia é algo apaixonante. Gosto muito, mas de fotografar detalhes, coisas diferentes, a natureza, os animais, a história, a arte. Desvia nosso olhar do total, do geral para o pequeno, para o detalhe. Fotos de família e pessoas são muito importantes, são lembranças e recordações, mas as fotos desta imensa riqueza que encontramos no dia a dia, nos passeios, nos abre os olhos para algo muito maior que nos rodeia. 

São estas fotos que me fazem perceber o quanto somos desatentos. Andamos ou dirigimos pelo mesmo local anos a fio, sem sequer notar o que há ali. Não olhamos os detalhes do prédio, da sacada, da porta, não olhamos o jardim em suas minúcias, olhamos um jardim total, olhamos a paisagem e sequer notamos a quantidade de tons de verdes há em uma árvore que dirá em várias. O olhar de um pintor capta justamente isto. Quantos tons de verdes existem afinal? quantos tons tem o céu? de cor é o mar? o rio? e as pedras? Quando passamos a perceber tudo isto mudamos nossa forma de olhar o mundo. A fotografia é uma das formas para fazermos isto. Eu gosto de registrar estes detalhes. 

Quando fico parada na estrada devido alguma obra aproveito para olhar com atenção o que tem ali, e quantas coisas acabo descobrindo, desde uma flor na beira da estrada, uma árvore até coisas maiores que nem percebemos, como dias atrás me dei conta de um pátio enorme de contêineres na estrada que eu nunca havia notado. Certo, quando dirigimos estamos absorvidos em atenção e no que estamos fazendo, mas hoje todos querem chegar rápido, correm como loucos nas estradas. Se você dirigir devagar seu olhar poderá, mesmo estando atento na estrada, abarcar algo muito maior. E por que não parar então? ou pedir que outra pessoa dirija uma vez? As estradas de terra do interior são ótimas para isto, você pode parar, olhar, escutar. Mas não é apenas as estradas, aproveite para fazer isto sempre que possível onde estiver, seja em plena metrópole cercado de prédios, seja no campo ou na praia. Curitiba tem a Rua XV de Novembro, é um calçadão, e a riqueza que há na arquitetura é imensa. Mas quem olha? 

Quando nova eu tinha um projeto de desenhar estes detalhes, desejo que nasceu na cidade de Ouro Preto - MG diante de tantos detalhes nas casas e igrejas. Na falta de tempo para pegar um bloco e sentar para desenhar há o recurso da fotografia. E hoje você pode fazer isto com seu celular. Ao invés de tirar selfies a todo momento para postar no facebook ou instagram, experimente fotografar o que há a sua volta. Os registros de onde estivemos são muito importantes em nossa vida, são nossa história, mas estes são momentos importantes e aqui estou falando do cotidiano, do passeio nos lugares que sempre vamos, da rua que sempre usamos, de sua cidade, de sua casa. Claro que eu mesmo em viagens e momentos importantes não resisto aos detalhes também. 

Isto aguça nossa percepção, nossa curiosidade, e aumenta nossos conhecimentos, além de proporcionar bons momentos prazerosos. Vale a pena experimentar. Comece pelo jardim, pelo quintal, pela sua casa, por aquela vaso de flor, olhe a flor de perto e tire uma foto. Aliás adoro tirar fotos de casas por dentro, uma casa é o reflexo de quem mora nela. Mesmo que tenha contratado um decorador e um designer de interiores, isto também fala da pessoa que ali habita. 





COMO DRIBLAR A SOLIDÃO




Sei que a solidão é algo que afeta a muitos atualmente. Estou sempre ás voltas com ela. Fico muitas vezes pasma ao ver quantos ao meu redor estão nesta situação, bem próximos, mas como é difícil quebrar a barreira e se aproximar. Penso às vezes que estou diante de uma montanha feita de ferro e gostaria que fosse apenas de calcário ou terra, seria mais fácil abrir uma brecha. Diante desta dificuldade optei por encontrar outros meios de preencher minha vida, mas atenção, não devemos nunca abandonar o convívio com os outros. Mas, na falta de alguém, temos meios de preencher nosso dia, nossa noite. Por isto resolvi falar um pouco de como faço isto.

- O Silêncio: muitas pessoas que conheço e eu mesma ligam a TV para preencher a casa com barulho, mesmo que não assistam. É uma forma. Mas há outras, como a música. A música alimenta a alma. E dependendo do estado de espírito que estejamos há sempre uma música para o momento. Ouvir música e ainda para os que gostam ou resolverem experimentar, podemos aproveitar para soltar o corpo e dançar sozinho e até cantar. Minha mãe cantava, minha tia dança e canta enquanto cozinha. Mas se prestarmos atenção, estivermos presente iremos notar que não há silêncio. Sempre tem um ruído, um som. Um passarinho cantando, piando, um latido de cachorro ao longe, um choro de bebê em algum lugar, o vento, a chuva, grilos, um zumbido, um avião passando, uma furadeira, e  inúmeros outros pequenos sons. Até mesmo o som de nossa respiração. Prestar atenção é um grande aprendizado, pois nos habitua a prestar atenção ao outro. 

- Aproveitando o silêncio:  aproveitar o silêncio para ler. Eu adoro ler e também estudar. Mas fiquemos na leitura por prazer. Ler nos leva para outro lugar, nos ensina e preenche o silêncio quando ouvimos nossa própria voz lendo. Alguns gostam de meditar, também é muito bom. Nos ensina a concentração, estar no presente e desligar nossos pensamentos, principalmente aqueles que nos trazem sofrimento, muitas vezes por antecipação. 

- Filmes, documentários e outros vídeos: o Youtube tem muitas opções, inclusive de música. Também para os que tem TV a cabo, sites na internet com filmes ou a velha locadora. O problema é que a frustração após ver o filme por não ter com quem comentar. Por isto acabei criando um Blog: http://cantodaleitur.blogspot.com.br/ onde pelo menos posso colocar o que penso e senti sobre o filme. Também está no facebook - https://www.facebook.com/cantodaleituraecinema/ . Demora um pouco, mas eis que de repente surgem pessoas fazendo comentários. Leio as críticas sobre o filme, procuro outros blogs que falem do filme. O melhor seria ter alguém presente, mas ameniza a frustração e cria outras alternativas de trocas. 

- Horta: fazer uma horta é algo que preenche o dia todo se quisermos e nos ensina muito. Já falei sobre minha horta em outra postagem. E além disto temos à mão temperos, verduras, legumes etc. conforme o que plantamos e livre de agrotóxicos, pelo menos não tanto quanto no que está a venda por aí. Mas o mais importante é que temos que cuidar dela. Confesso que houve um momento onde abandonei a minha, mas ela sobreviveu e estou retomando. A natureza sabe o que faz. E não precisa ter quintal, pode ser em jardineiras, canos de PVC cerrados ao meio, potes, vasos etc. 

- Jardim - este é uma arte, uma forma de expressar-se, de descobrir-se. Ao imaginarmos o jardim, escolhermos as flores que queremos, que gostamos, as plantas que nos agradam, as cores e a disposição estamos criando uma obra de arte e ao mesmo tempo nos refletindo. Mesmo que não tenha um jardim, fazer isto com vasos e jardineiras é o mesmo processo. Ao escolhermos a disposição, se gostamos de algo bem ordenado e geométrico ou se preferimos um jardim "bagunçado" onde se mistura tudo, inclusive a horta, isto fala de nós mesmos. 

Hoje paro por aqui. Voltarei com outras ideias e também irei falando mais sobre estas que acabei de citar. O que importa é termos uma vida melhor, mais plena e que nos deixe satisfeitos. 


segunda-feira, 22 de maio de 2017

MONTANDO UM ATELIE ATÉ CHEGAR A LOJA VIRTUAL



Hoje venho falar do Atelie Cravo e Canela Artesanatos.

Desde criança sempre gostei de desenhar, tudo começou com um quadro negro e giz colorido. Meu pai foi um grande incentivador. Lembro bem, eu desenhava casas de taipa com árvores em volta, sol, flores e pássaros. Depois fui me aprimorando, passei ao desenho de bico de pena e crayon. Mas aos poucos fui expandindo e fui participar de alguns cursos; pintura em tecido, pintura em telas e fiz um curso com uma artista plástica de desenho e cerâmica. Mais tarde aprendi a pintar gesso sozinha. Abri uma loja que chamava Cravo e Canela que depois fechei.

Muitos anos se passaram. Formei-me em administração e fui trabalhar na hotelaria onde permaneci por 18 anos. Quando deixei a hotelaria em 2012, após a morte de minha mãe, foi um momento muito difícil. Passei a morar sozinha pela primeira vez, passei momentos extremamente depressivos. Finalmente resolvi me mudar para uma cidade menor perto de Curitiba onde moro hoje. Então começou a renascer o desejo de voltar a pintar. 

O processo foi muito lento. Comecei devagar com um lugar na varanda de trás de minha casa (foto). Fui comprando o material aos poucos. Abandonei novamente. Até que em 2016 no meio do ano retomei com força total. Foi com os presépios. Tive muita vontade de pintar os presépios barrocos que eu fazia quando jovem. E lá fui eu. E as pessoas começaram a elogiar. Fui em frente, com outras peças visando decorar minha casa. Me dei conta que ia encher a casa e que iria chegar um momento que seria demais. Foi quando pensei em vender. 


Minha filha organizou um bazar na casa dela e chamou as amigas. Deu certo. Acabei tendo várias encomendas para o final do ano vindas de lá e também aqui onde moro. Foi quando comecei a estudar o ELO7, ler tudo que eles oferecem, como funciona, as regras e gostei. Em janeiro ativei a loja e tem dado certo. Também participei de alguns bazares para divulgar meu trabalho. Logo eu que sempre me enroscava em usar facebook, instagram, e outros, fui aprendendo e logo eu estava com tudo vinculado à loja. Entrei para grupos de mulheres empreendedoras e outros de vendas. O resultado tem vindo. Ainda não é suficiente para me sustentar, mas já ajuda. 

Mas o mais importante é o prazer que sinto pintando, criando as peças para depois vê-las partir e deixar alguém feliz, contente com a mesma. Isto não tem preço. 

A arte é uma forma de manter meu feminino com a possibilidade de criar algo. As mulheres são geradoras e não apenas de filhos, mas também de ideias, produtos, arte, culinária e uma infinidade de outras coisas. Os homens também criam e na arte encontram a beleza deste ato. Todos nós temos um lado feminino e outro masculino, não se trata aqui de gêneros, mas de aspectos do ser humano. 

A arte também me devolveu um aspecto que tinha sido sufocado com a correria do dia a dia, o stress cotidiano, o cansaço que isto gera, que é a espiritualidade. Não falo aqui de religião, mas de um encontro com nosso eu profundo, nosso inconsciente e com o universo e a energia cósmica. As inúmeras possibilidades e potencialidades que temos e não fazemos uso. A expressão do que sentimos, e o prazer de fazer algo de que gostamos. Mesmo vendendo as peças há uma dádiva, pois é algo que circula, que vai embora e nos ensina o desapego, o deixar ir, tudo que criamos não nos pertence, é preciso dar e retribuir, é preciso deixar circular, não como algo obrigatório visando ser reconhecido e recompensado, mas doando algo de si ao mundo. Tenha certeza, a retribuição e o reconhecimento vem, e muitas vezes vem de outro lugar. 

Dar vida a uma peça em gesso em branco, uma cerâmica em branco, uma peça em MDF é algo que enriquece, que dá prazer. É necessário soltar a criatividade, deixar fluir, vir as ideias. Qualquer um consegue, mesmo aquele que diz que não tem jeito com a arte, com pincéis, basta o desejo que aos poucos se consegue. Alguns realmente tem o dom, mas isto não impede que todos experimentem e façam. 




SOLIDÃO - SOLITUDE


Há uma diferença entre Solidão e Solitude. Em ambos os casos se está sozinho, porém na solitude estamos bem, em paz, é saber gozar de sua própria companhia. A solidão é um vazio e pode nos levar ao estado depressivo. A solitude é um encontro consigo mesmo, saber se amar e gostar de si mesmo como companhia. 

A solidão nos leva a sermos vorazes com o outro, cobrar companhia, e a despejar sobre o outro nossas mágoas e dificuldades. A solitude nos leva a saber conviver e aproveitar a companhia do outro, mesmo falando de nossas mágoas e dificuldades não iremos engoli-lo. 

Isto é importante, o que vemos no mundo hoje são pessoas que buscam a felicidade, o sucesso, o entretenimento e não sabem mais ouvir o outro, e nem querem ouvir sobre dificuldades, tristezas e fogem de qualquer tipo de luto. Quando minha mãe morreu ouvi de muitos - foi ela quem morreu, não você! a vida continua, você precisa se distrair, divertir. Ora! eu acabava de passar por uma perda imensa e precisava de luto. O luto não é patológico, muito pelo contrário, é saudável, é nossa forma de lidarmos com as perdas, seja uma perda pela morte, seja a perda de um emprego, seja o fim de um relacionamento amoroso ou de amizade, seja uma mudança de endereço ou cidade, enfim, qualquer coisa que represente uma perda. A sabedoria nos ensina que um luto leva em torno de um ano, por isto mesmo antigamente as pessoas usavam preto neste período, o período que a pessoa precisa para trabalhar dentro de si esta perda e então sim, ir em frente, tocar a vida. Sem isto é que corremos o risco de um luto que se torna patológico, não elaborado, onde a separação não ocorre. 

Quando uma pessoa está se sentindo sozinha, triste, abandonada, sem rumo, os outros fogem. Justamente quando mais precisamos, ou então nos propõem sair, ir a baladas, a locais com muito agito ou movimento, justo num momento onde só queremos colo, atenção especial. Não percebem que fazer isto é justamente outra forma de fuga, de não enfrentamento da dor e da tristeza, de uma reflexão, de um contato consigo mesmo. 

Não é necessário se isolar, é bom sair, mas nestes momentos é melhor um lugar calmo, que seja bonito, como um parque, contato com a natureza. Lembro que quando eu estava passando pelo luto de minha mãe um dos melhores momentos foi ir a um parque onde as pessoas levam seus cachorros e os soltam. Sentar ali na grama e ficar olhando os peludos correndo, brincando, se provocando, sim porque é cômico, geralmente é um pequeno que resolve latir para um grandão, foi algo que me renovou. É nas coisas mais simples que nos renovamos. Mas percebo que muitos perderam a capacidade de se encantar com as coisas mais simples. Nem as vêem. Andam pela rua sem notar nada, vão a um parque e não notam nada a não ser o burburinho. Aprender a olhar uma árvore com seus detalhes, aprender a observar uma flor, aprender a respirar o ar ao redor, ouvir os pequenos sons da natureza, 

A solitude é uma conquista pessoal. É preciso se voltar para dentro e não buscar fora o que possa nos suprir na solidão. Mesmo a companhia dos outros só pode ser totalmente usufruída quando estamos bem consigo mesmo, do contrário não tem efeito, assim que a pessoa se afasta sentimos o mesmo vazio ao invés de nos renovar com este contato. É muitas vezes difícil fazer isto, é preciso tentar se compreender, ver o que nos dá prazer ao invés de nos entreter somente. Esta é um diferença fundamental, o prazer é diferente do entretenimento. Nos entreter é superficial, o prazer é que nutre, nos renova, resulta em satisfação. Quando realmente sentimos prazer em fazer algo isto nos alimenta. O entretenimento nos ocupa por um momento fazendo com que não tenhamos de nos confrontar. Já o prazer requer uma escolha, saber o que nos agrada realmente. Uma coisa é preencher o tempo com algo, outra é usufruir o tempo com algo.