segunda-feira, 22 de maio de 2017

SOLIDÃO - SOLITUDE


Há uma diferença entre Solidão e Solitude. Em ambos os casos se está sozinho, porém na solitude estamos bem, em paz, é saber gozar de sua própria companhia. A solidão é um vazio e pode nos levar ao estado depressivo. A solitude é um encontro consigo mesmo, saber se amar e gostar de si mesmo como companhia. 

A solidão nos leva a sermos vorazes com o outro, cobrar companhia, e a despejar sobre o outro nossas mágoas e dificuldades. A solitude nos leva a saber conviver e aproveitar a companhia do outro, mesmo falando de nossas mágoas e dificuldades não iremos engoli-lo. 

Isto é importante, o que vemos no mundo hoje são pessoas que buscam a felicidade, o sucesso, o entretenimento e não sabem mais ouvir o outro, e nem querem ouvir sobre dificuldades, tristezas e fogem de qualquer tipo de luto. Quando minha mãe morreu ouvi de muitos - foi ela quem morreu, não você! a vida continua, você precisa se distrair, divertir. Ora! eu acabava de passar por uma perda imensa e precisava de luto. O luto não é patológico, muito pelo contrário, é saudável, é nossa forma de lidarmos com as perdas, seja uma perda pela morte, seja a perda de um emprego, seja o fim de um relacionamento amoroso ou de amizade, seja uma mudança de endereço ou cidade, enfim, qualquer coisa que represente uma perda. A sabedoria nos ensina que um luto leva em torno de um ano, por isto mesmo antigamente as pessoas usavam preto neste período, o período que a pessoa precisa para trabalhar dentro de si esta perda e então sim, ir em frente, tocar a vida. Sem isto é que corremos o risco de um luto que se torna patológico, não elaborado, onde a separação não ocorre. 

Quando uma pessoa está se sentindo sozinha, triste, abandonada, sem rumo, os outros fogem. Justamente quando mais precisamos, ou então nos propõem sair, ir a baladas, a locais com muito agito ou movimento, justo num momento onde só queremos colo, atenção especial. Não percebem que fazer isto é justamente outra forma de fuga, de não enfrentamento da dor e da tristeza, de uma reflexão, de um contato consigo mesmo. 

Não é necessário se isolar, é bom sair, mas nestes momentos é melhor um lugar calmo, que seja bonito, como um parque, contato com a natureza. Lembro que quando eu estava passando pelo luto de minha mãe um dos melhores momentos foi ir a um parque onde as pessoas levam seus cachorros e os soltam. Sentar ali na grama e ficar olhando os peludos correndo, brincando, se provocando, sim porque é cômico, geralmente é um pequeno que resolve latir para um grandão, foi algo que me renovou. É nas coisas mais simples que nos renovamos. Mas percebo que muitos perderam a capacidade de se encantar com as coisas mais simples. Nem as vêem. Andam pela rua sem notar nada, vão a um parque e não notam nada a não ser o burburinho. Aprender a olhar uma árvore com seus detalhes, aprender a observar uma flor, aprender a respirar o ar ao redor, ouvir os pequenos sons da natureza, 

A solitude é uma conquista pessoal. É preciso se voltar para dentro e não buscar fora o que possa nos suprir na solidão. Mesmo a companhia dos outros só pode ser totalmente usufruída quando estamos bem consigo mesmo, do contrário não tem efeito, assim que a pessoa se afasta sentimos o mesmo vazio ao invés de nos renovar com este contato. É muitas vezes difícil fazer isto, é preciso tentar se compreender, ver o que nos dá prazer ao invés de nos entreter somente. Esta é um diferença fundamental, o prazer é diferente do entretenimento. Nos entreter é superficial, o prazer é que nutre, nos renova, resulta em satisfação. Quando realmente sentimos prazer em fazer algo isto nos alimenta. O entretenimento nos ocupa por um momento fazendo com que não tenhamos de nos confrontar. Já o prazer requer uma escolha, saber o que nos agrada realmente. Uma coisa é preencher o tempo com algo, outra é usufruir o tempo com algo. 




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