sexta-feira, 30 de junho de 2017

VIRTUAL X PRESENÇA

Confesso que não me acostumo ao mundo virtual de hoje. Concordo que as redes sociais dependendo de seu uso são uma ferramenta fantástica. Permitem encontrar pessoas que há anos não vemos, permitem manter contato com pessoas que estão longe, além de muitas outras coisas, como informações, transmissão de conhecimentos, cursos on-line e assim por diante. Porém, não gosto da falta de presença que o este mundo acaba gerando. 

O Whats é outra ferramenta que se por um lado facilita e não tem custo, por outro nos tira o prazer de uma boa conversa que ao telefone é possível. Mesmo chamando pelo whats não é a mesma coisa, há cortes e ecos. 

Fico me perguntando o que acontece? porque as pessoas estão optando por escrever, tudo resumido e usando códigos de internet ao invés de ligar, de ir até a pessoa? Todas estas ferramentas de tecnologia, que não deixam de ser fantásticas e de oferecer muitas possibilidades que não tínhamos antes, acabam virando a forma de contato e comunicação mais usada. E isto é lamentável. 

Tenho observado isto há tempos. Alguns exemplos

- Eu fiz a faculdade de Filosofia através do virtual, mas havia uma vez a cada 45 dias onde tínhamos que ir fazer uma avaliação presencial. Chegava lá e o que via? todos que estavam aguardando trocando mensagens pelo celular. Por que não aproveitavam para conhecer os colegas do curso? falar sobre o que achavam? Trocar informações? 

- Tenho amigos que antes me ligavam ao telefone e agora só usam o whats para falar comigo. Fico profundamente triste com isto. Quero ouvir a voz da pessoa, a entonação, ouvir a emoção do que se diz. 

- Moro em um condomínio, e quando há algum problema com um morador ao invés de usar o interfone para comunicar a reclamação ou solicitação, colocam no grupo, e isto dá margem para muitos palpites e comentários que não eram necessários, gerando algumas vezes até mesmo um clima hostil entre os moradores. Por que fazer assim? 

- Antes quando íamos a um médico, dentista, ou qualquer outro lugar onde havia uma sala de espera podíamos conversar com as pessoas. Hoje, a maioria está no celular, no facebook ou no whatss. 

- Se por um lado é prático enviar um whats, por outro lado tira o contato com a pessoa. Porque sinceramente, eu não consigo aceitar alguém que me diga que está em contato comigo porque me manda mensagens todos os dias, aliás, a maioria são aquelas que só se compartilha. 

- E o pior, as pessoas tornaram-se dependentes do Curti!! e agora querem o Amei!! Que para mim pode ser sincero sim, mas na maioria das vezes as pessoas nem leem o que está escrito, só curtem porque conhecem a pessoa. 

Que a tecnologia seja utilizada como ferramenta no trabalho, nas trocas de informações rápidas, acho excelente, mas mesmo assim.... a possibilidade de se manter este "contato" permanente só aumenta a pressão e as cobranças. Além do que as pessoas perdem o senso de horário, mandando mensagens de trabalho à noite ou no fim de semana. E se você não for uma pessoa que consegue se desligar disto, vai gerar ansiedade e você vai ficar se cobrando, que deve atender, ou responder. E não deve, do contrário fica ligado 24 horas no trabalho e isto é ruim, além do que sua saúde vai ser afetada. 

Agora, a pior cena de todas que canso de ver: você vai a um restaurante para almoçar ou jantar com a família ou amigos, e o que acontece? o celular que não para de enviar mensagens e a pessoa respondendo a todas. Você olha em volta e nota muitas pessoas com os olhos fixos no celular, e uma ou outra triste, olhando para aquelas pessoas com vontade de gritar: Pare!! eu estou aqui sabia? 

Assisti recentemente uma reportagem no Globo News sobre o Japão, onde os jovens não conseguem mais se relacionar com o sexo oposto. Pior, não sentem desejo sexual nem vontade de fazer sexo com outro ser humano. Tudo é virtual ou bonecas. Contratam pessoas para passear e pegar na mão delas, e tem uma imensa dificuldade para fazer isto.

Por mais que eu seja uma pessoa inovadora e gosto sim de mudanças e novidades, também mantenho um lado preservado que chamam de conservador e eu de valores e princípios, e pense que realmente teremos um mundo diferente do que conheço, com outra linguagem, que os jovens estão criando, não consigo gostar do que vi no Japão.

Eu não sei se as pessoas tem medo de se relacionar, medo de afetos, ou de ter sua vida pessoal invadida, ou se acostumaram tanto com o virtual que já nem se dão conta do que fazem. Mas vejo muitos se queixando de solidão, de que estão deprimidos, ansiosos, então acho que é hora de se questionar por que? 

Antes sim tínhamos que preservar nosso espaço, porque eram tantos convites, vizinhos indo e vindo, amigos chegando, chamando, que chegava um momento que tínhamos que dizer me dá um tempo, preciso ficar sozinha um pouco. Hoje é o contrário, temos que fazer um imenso esforço para conseguir bater um papo com o vizinho, ver os amigos, estar com os outros mas em contato com estes outros. A cada dia fica mais difícil criar laços e amizades. Ok, amigos sempre serão poucos, os verdadeiros, mas pelo menos conhecidos e colegas com os quais interagir. 

Acho que vale a pena uma reflexão, e uma tentativa de abrir um pouco mais de espaço aos relacionamentos presenciais. Estar presente!!! Ter foco, vivemos dispersos. 

imagem retirada do google. 


terça-feira, 27 de junho de 2017

UM LUGAR SAGRADO PARA VOCÊ EM SUA CASA

Diante do dia a dia corrido, trânsito, pressões, cobranças todos nós precisamos de um momento de paz, de poder respirar, meditar, parar de pensar, e recarregar suas energias. 

Muitos de nós chegam em casa após o trabalho e muitos ainda cursam uma  faculdade ou outro curso e ainda enfrentam mais uma jornada. São os filhos que precisam de atenção e amor, o companheiro (a), sem falar que é necessário dar acompanhamento aos deveres da escola dos filhos, fazer algo para comer, arrumar a cozinha após o jantar ou lanche, muitas vezes é preciso colocar a roupa para lavar e estender, colocar o lixo para fora, levar o cachorro dar uma volta e assim vai. E no dia seguinte começa tudo de novo. Chega o final de semana e muitos tem compromissos com amigos, isto quando não você quem vai receber os amigos em sua casa e tem que preparar tudo e limpar antes e depois. Claro que este momento é muito prazeroso, mas não te deixa um tempo para si mesmo. 

Quantos minutos por semana tiramos somente para nós? aquele momento onde se pode relaxar? Às vezes nem mesmo no banho isto é possível, tem alguém perguntando onde está isto ou aquilo, o telefone ou celular está tocando, ou você está ali tomando seu banho preocupado com tudo que te espera ou com problemas. 

Será que aguentamos isto? até onde nosso corpo vai? e nossa mente? 

Todos nós precisamos de pelo menos, no mínimo de 10 minutos para parar, respirar, e não pensar em nada. Então minha sugestão é ter um lugar para isto para que quando você se sentar neste local, realmente se dedique a este momento que chamo de entre-atos, como ocorre numa peça de teatro, a parada no meio da peça. 

Você pode optar por ter um lugar para ir que considera como seu local de descanso, mas será que consegue ir todos os dias? Penso que um lugar assim é muito válido, mas é para um momento especial. Eu mesma tenho um lugar assim, é o Santuário Mariano Schoenstatt, um lugar que tem muito verde e uma pequena capela. 

Mas para o dia a dia este lugar precisa estar à mão, fácil, e visível para que nos lembre que precisamos dar um momentinho para nós mesmos. Então que tal criar este lugar? 

Pode ser um canto de sua sala, pode ser na varanda, em seu quarto, no jardim. Coloque ali coisas das quais você gosta, que te trazem boas lembranças, que tem uma história boa. Faça um altar ou coloque um oratório com seus Santos de preferência ou seus Orixás protetores. Use cores que te fazem bem, te animam, coloque flores, plantas. Coloque uma pequena fonte, o barulho da água é algo que acalma. Coloque uma música muito suave que você gosta. 

Se quiser faça um quadro com fotos, com colagens, com imagens para colocar ali. Uma colcha bordada ou com detalhes em tecidos costurados, mas que tenha algum significado para você. Coloque uma poltrona ou cadeira confortável, uma rede ou uma esteira onde você pode se sentar e relaxar, fechar os olhos, se deixar levar. Coloque animais em gesso, cerâmica ou porcelana, aqueles dos quais você gosta. São inúmeras as opções do que você pode colocar neste cantinho sagrado. Deixe ele bem bonito e que te chame, atraia. 

E pare ali todos os dias, pelo menos 10 minutos, de manhã, durante o dia ou à noite, conforme você pode ou sente que precisa. Isto nos renova, elimina as toxinas do dia, o estress, o cansaço, Após este momento tudo fica mais claro, até mesmo mais simples e fácil. 

Ainda estou pensando em como fazer meu canto sagrado. Eu gostaria que fosse no jardim, mas aqui chove muito e faz frio. Também posso fazer dois cantinhos, porque não? O importante é ter este lugar. 



 O Santuário 
Esta pequena capela fica na casa de uma amiga. 


segunda-feira, 26 de junho de 2017

A CULPA QUANDO PODEMOS FINALMENTE FAZER O QUE QUEREMOS

Minha mãe foi um grande exemplo que eu luto para seguir. Engraçado isto, mas é fato que tento e nem sempre é tão fácil assim. Ela soube muito bem lidar com a solidão. Claro, eu e meu filho morávamos com ela, mas vivíamos ocupados com nossos trabalhos e nossos pensamentos. Ela por seu lado soube muito bem ocupar seu tempo e nunca em momento algum a vi se queixar de solidão ou mesmo dar sinais de solidão. Vivia contente com seus pequenos afazeres. 

Me dei conta disto um dia após sua morte em que estava olhando suas revistas de tricô e tinha uma caixa de camisa repleta de recortes de comidas que ela recortava das revistas para depois ir colando em seus cadernos de receitas. Este era um de seus passatempos. Ela gostava de copiar receitas, anotar as que aparecem nos programas de culinária na TV, recortava receitas de revistas. E depois ia experimentando. Eu e meu filho algumas vezes fomos cobaias rsrsrs. E tínhamos que aguentar a cara feia caso não nos apetecesse o prato. 

Ela também fazia tricô, crochê, assistia muitos filmes, lia, gostava de passear, ir a restaurantes, gostava de plantas, de olhar lojas, de ir ao supermercado e não perdia nunca o tour de France na TV, para ver as paisagens. Gostava de assistir futebol, principalmente a Copa. Ela já não costurava, devido os olhos. Nunca quis operar a catarata, tinha medo. 

Eu aprendi com ela estas artes manuais. O que é difícil para mim é me dar o direito de passar as tardes fazendo isto, puro lazer, ócio, divertimento. Então me dou conta de como somos manipulados pelo sistema de produção - produzir, produzir, dinheiro. Isto é ser útil, isto é fazer algo que preste. Estou num momento em que passei a trabalhar meio período e tentando elaborar este direito, esta liberdade de ter as tardes livres para não fazer "nada". Aí é que está, nada! como assim, nada? Tricotar, cuidar do jardim, da horta, sair passear, ver um filme, ler um livro, pintar, desenhar, costurar é não fazer nada? Só porque isto é feito para si mesmo? não é trabalho? Só porque não é rentável? 

Minha mãe não trabalhou fora, ela era do lar. Talvez isto tenha ajudado a ser mais fácil lidar com a solidão. Ela continuo fazendo o que sempre fez. Eu estou tendo que mudar meu ritmo, minha forma de passar o dia. E fico me cobrando coisas como independência financeira, liberdade, ser produtiva. Eu ganho a vida trabalhando meio período de segunda à sexta. Então qual é o problema? Como posso me cobrar desta forma? como me libertar disto? 

É tão difícil que muitas vezes tenho crises de ansiedade por isto. Quero fazer, me culpo, me cobro, e não faço nada. E então me cobro mais ainda. Este é o preço por vivermos numa sociedade do consumo, onde comprar é a suposta satisfação por ter que trabalhar como loucos, produzir e produzir. Então no final de semana nos recompensamos indo ao Shopping e comprando. E ainda pensamos que isto nos faz feliz, e a sensação de felicidade acaba no dia seguinte. E voltamos ao Shopping. 

Mas o que é mais grave, podemos ter consciência disto tudo, e inclusive ser contra tudo isto, mas de repente nos damos conta que o sistema está no nosso inconsciente e rege nossa vida. Temos que ser produtivos até morrer. Não estou dizendo aqui que não devemos ser produtivos até morrer, admiro Oscar Niemeyer, Lévi-Strauss e todos os outros que continuaram trabalhando até a morte, desde que estivessem felizes fazendo isto, e felizes consigo mesmos. 

Mas o que digo é que não somos preparados para curtir uma merecida aposentadoria, ou um tempo de ócio criativo. A sociedade mesmo despreza este período da vida, considera os velhos inúteis, um peso, sem capacidade de fazer escolhas, um alto custo para a sociedade seja na saúde ou na previdência. Agora quando se é mais novo e se tem a oportunidade de viver com menos e ter mais tempo  a culpa se apresenta. 

Elaborar esta passagem não é fácil. É fato que é um ciclo de nossas vidas que está se encerrando, um ciclo que no fundo devíamos até ficar felizes de que acabou, quantas vezes quando estamos trabalhando sonhamos com o momento em que poderemos fazer o que queremos? ter tempo? E quando ele chega, eis que não sabemos o que fazer, nos sentimos culpados por ter tempo, nos sentimos sendo criticados, estamos fora do círculo produtivo. Mas será que estamos mesmo? ou apenas iremos produzir e criar outras coisas? 

O conceito que pesa é que produzir significa dinheiro e lucro. Mas produzir não se trata apenas disto. Quando preparamos um almoço para a família isto é produzir. Quando fazemos uma manta em tricô, é produzir, quando pintamos um quadro, é produzir, quando plantamos uma horta, é produzir. Quando ouvimos os filhos e netos, os amigos, estamos criando laços, afetos, possibilidades. Quando lemos um livro ou vemos um filme criamos novas ideias e possibilidades e podemos com isto ajudar ao outro ou a si mesmo. Tudo é movimento e criação. 

Mas o mais importante é pensar que trabalho não precisa ser o que o sistema nos diz que é. Trabalhar é muito bom, é saúde, é troca, é convivência, são relações. Apesar de que no mundo de hoje tudo isto está difícil de ocorrer, ou pelo menos não é mais como antes. Cada vez mais estamos ocupados, estressados, ansiosos e ligados no mundo virtual. Então tudo isto torna difícil ver o trabalho de outra forma. Não queremos voltar a este sistema, mas não conseguimos ficar em paz e usufruir do tempo com prazer e satisfação, e acabamos deprimidos. 

Precisamos elaborar dentro de nós um novo conceito de trabalho. O trabalho é algo prazeroso, não precisa ser ditado pelo sistema, pode ser feito em casa também, pode ser criativo, pode ser manual, pode ser longe de um computador. O trabalho pode ser criar algo com prazer. O trabalho pode ser feito com amor e dedicação. O trabalho pode ser compartilhado, coletivo e não competitivo. Não precisa ser ditado por horários e resultados, não precisa ser sob pressão. O trabalho deve gerar algo, mas acima de tudo deve nos manter saudáveis. 

E devemos aprender a nos permitir sermos felizes, nos permitir fazer o que desejamos com o tempo que precisamos para fazê-lo, sem estress, sem pressões. Sair do que nos foi imposto desde Descartes, Bacon, com a metodologia científica e cartesiana. Prazos, metas, resultados, avaliações. 

Eu recentemente criei ou recriei a Cravo e Canela artesanatos. De repente me dei conta que a transformei numa empresa igual ao sistema e isto me afetou muito. Quando comecei era uma forma de lazer, prazer, de criação, de expressão que poderia ser rentável. Mas o que ocorreu foi que comecei a me cobrar prazos, me estressar para ir correndo encontrar a peça solicitada, querer ter estoque, querer produzir sem parar para ter peças, ter que ficar fazendo controles financeiros o que no fundo sou péssima em fazer. Eu tinha prazos para resposta na loja, prazos para entrega, e tudo isto foi me consumindo e acabou com meu lado criativo, lá estava eu produzindo em série as mesmas peças sempre, pois eram as que vendiam. Preocupada com as avaliações que deviam ser positivas para que a loja prosperasse, preocupada com as críticas dos outros.  Eu queria que ela se transformasse em independência financeira, mas acabei foi tolhendo minha liberdade e criatividade. E sofri um bloqueio. Não conseguia mais pintar. Perdi o prazer, a expressão, a liberdade. Não era isto que eu queria. Como sou uma eterna rebelde a forma que esta se expressou desta vez, talvez pela idade rsrs, foi um estado depressivo, um bloqueio ao invés dos gritos e revoltas da juventude. Eu sempre gostei da maneira francesa de falar da depressão - ao invés de dizerem sofreu ou teve ou tem depressão, eles dizem - fez uma depressão. Sim, muitas vezes a depressão é uma forma de revolta, de dizer não a alguma coisa da qual não nos damos conta. É uma forma de parar. E aí mais uma vez pesa a culpa e a cobrança externa. Com uma depressão temos a desculpa para parar. E a fazemos inconscientemente. Paramos o tempo. 

Passaram-se dois meses, diminui meu ritmo, dei um stand by na loja atendendo apenas vendas com as peças que tinha prontas. Durante este tempo refleti, me avaliei e analisei. Me dei conta que gosto do trabalho que chamo "orgânico" sem pressões, corridas contra o tempo, stress. Mas isto eu posso coordenar. Aprendi a dizer não em algumas situações ao invés de querer abraçar o mundo de uma vez só. Aprendi a ter prazos maiores quando necessário para fazer o trabalho. Aprendi a não me deixar levar pela ansiedade do outro. Sempre defendi e tinha por princípio o atendimento excelente. E agora vejo que apesar de ter mudado a forma de trabalho continuo tendo um atendimento excelente.

Aos poucos fui aprendendo e remodelando minha vida e o atelier. Vou escrever sobre este processo em outra postagem. Mas a grande lição foi ver o quanto a culpa nos adoece. Dias atrás eu estava numa roda de mulheres e ao ouvi-las me dei conta que não sou só eu. Muitas ali também sentiam esta culpa, até mesmo de dar uma parada no meio da tarde para poder tomar um café sossegada e sentir o sol na pele. Então resolvi escrever este texto. Espero que possa ajudar a outros. 


imagem retirada do Google. 

sábado, 24 de junho de 2017

VISITANDO UMA CERÂMICA

Quinta-feira eu precisava "deliciar" meus olhos, estava esgotada, triste, e então fui até a Cerâmica Jardim. Foi um deleite. 

Tenho o costume de "deliciar" meus olhos, mesmo quando estou em casa, há sites, blogs com coisas lindas para se olhar. Outras vezes vou à uma livraria ou olho o site delas. São momentos em que relaxo e fico feliz, recupero as energias. São formas baratas, claro que o melhor é poder viajar, ver coisas novas, belas paisagens, olhar o mar, as florestas, flores, ah! por falar em flores onde moro tem uma loja que também é um deleite, repleta de mudas, vasos, muitas plantas e flores e enfeites para o jardim. 

Eu não gosto de Shoppings, parecem um templo, mas de consumo. Ativam as pessoas para gastar, não para criar. Já uma Cerâmica é um lugar de arte, de criação. Ainda encontramos o artesanal, o feito à mão, mesmo as peças que são feitas através de moldes precisam ser liberadas uma a uma de sua forma, recebem um retoque. Na quarta-feira eu tinha ido à uma fábrica de gesso, de Santos e Orixás. 

Mas voltando à Cerâmica, encontrei ali peças feitas à mão por um artista, moldadas na argila. E isto me encantou e atiçou. O que comprei foi argila. Todos nós temos este dom, quem quando criança não moldou algo no barro? nossas mãos são mágicas. E o melhor, a argila é como um fio terra, nos acalma, relaxa. E depois ainda vem o prazer de ver o que se criou. 

Eu fazia cerâmica quando jovem, nunca fiz no torno, mas por tiras, eu ia construindo a peça, alisando, colando as tiras com o próprio barro. O problema é a queima. Podemos deixar secar ao natural, mas o melhor é queimar depois que está seca para ficar mais firme. Pois então, esta Cerâmica também faz a queima de peças de quem leva lá.

Moldar o barro, a argila com as mãos é algo divino, e faz muito bem. Algo vai nascendo ali, vai se formando, e ao final ver o que se fez é muito alimentador e prazeroso. Vale a pena tentar, mesmo que você nunca tenha feito nada com argila, solte sua criança que ela fará.

E mais, acabei encontrando ali um forno em cerâmico, uma peça pequena, mas que na hora me lembrou o forno que existe na aldeia onde minha mãe nasceu na Bélgica, para o lúpulo. Comprei a peça.

O que se percebe é como temos nossa imaginação, criatividade despertada de imediato nestes lugares. Queremos fazer uma peça, imaginamos uma peça já pintada, já a imaginamos em nossa casa, ou então para presentear ou vender. E ainda às vezes temos despertado em nós memórias de infância, de família. E tudo isto é muito bom e não tem preço.








segunda-feira, 19 de junho de 2017

O JARDIM COMO UMA PRÁTICA DE MEDITAÇÃO

Semear, plantar mudas, fazer enxertos, regar, cuidar, zelar, ver crescer, ver florir ou estar pronto para colher, ver morrer. O jardim nos ensina a vida-morte-vida. Nos ensina os ciclos da natureza que também são os nossos. O jardim silencia nossa mente, nos coloca em contato com a terra, o úmido, o seco, a vida e a morte. 

O jardim ou horta é uma metáfora do inconsciente, do nosso psiquismo. No jardim podemos perceber a hora de plantar, de semear algo, mas também aprendemos a hora de deixar morrer, de ir embora. Muitas plantas vivem por um período e devem ser replantadas a cada estação. Outras "hibernam", ou seja, guardamos os bulbos para o novo período de plantio. Outras são permanentes.

Fazemos a limpeza do jardim ou da horta, arrancamos, enterramos, revolvemos a terra. Todas estas são práticas que devemos aprender para fazer em nossas vidas. É preciso limpar, arejar, mexer, revolver, enterrar, semear, cuidar, regar, ver nascer e ver morrer.

A terra é um remédio natural para questões emocionais. Cada vez que sinto que estou ansiosa, tiro os sapatos e piso na terra, é como um fio terra, exatamente isto, a energia ruim se vai, o excesso de energia se vai, e meu corpo se recupera. A água também é outra fonte de cura, relaxa, revitaliza, limpa, além de se salgada, a do mar, é ótima para curar ferimentos.

Quando nos dedicamos a um jardim ou a uma horta estamos em contato com a vida, com a natureza e nos desligamos dos problemas, do estresse, do corre corre. Aprendemos a ter paciência, a esperar. Mas no final colhemos o que plantamos. E começamos novamente a semear e plantar, num ciclo constante.

Arrancar ervas daninhas, colocar um adubo orgânico (dou a receita que uso abaixo), tirar os caracóis (não precisa matá-los, basta retirá-los e levar para outro lugar), ver se não tem fungos e pragas, regar conforme é necessário, cuidar para ver qual é o melhor lugar para uma planta, de onde ela gosta. É um tempo de dedicação à vida.

Receita de adubo orgânico:

Bater no liquidificador: 03 cascas de banana, 01 borra de café, 4 a 5 cascas de ovo  e 1 litro de água. Deixe de 2 a 3 dias num recipiente aberto para fermentar. Depois eu costumo guardar uma garrafa pet e faço furos na tampa e vou colocando pouco nos vasos ou nos pés da planta.






quarta-feira, 14 de junho de 2017

CONSELHO DAS ANCIÃS DAS 13 LUAS


Ontem iniciei minha participação no Conselho das Anciãs das 13 luas.

Trata-se de um resgate da sabedoria das anciãs que preservaram através dos séculos o saber do feminino profundo que foi afastado pela entrada do mundo patriarcal e masculino fazendo com que a grande Deusa desaparecesse e levando as mulheres a serem submissas, e consideradas como seres inferiores. Mas o saber foi preservado e passado adiante e agora pode novamente vir à tona. 

São 13 encontros mensais, uma vez que nos tempos arcaicos eram treze meses, que nos permitem um encontro consigo mesmo, descobrir quem somos, qual é nossa verdade, e com isto podermos resgatar nosso profundo feminino, ligado à mãe terra e à grande Mãe Celestial, a Deusa. É uma cura interna de nossas feridas que possibilita que sejamos mais plenas e com isto poder também ajudar ao outro. 

Este movimento está presente em vários locais pelo mundo todo, em várias cidades. No meu caso pessoalmente é como encontrar minha tribo, uma linguagem que ressoa dentro de mim e que conheço intuitivamente. Com um único encontro percebi que minha alma se aconchegou, ouviu o que sabe, e me vi acolhida e entre iguais, já que muitas vezes neste mundo que vivemos atualmente não encontro eco no que sinto, no que vivencio, no que penso, e ficava isolada. 

Eu buscava algo espiritual, mas que não fosse religioso, apesar de meu maior respeito à religião. Algo profundo que falasse à alma, que fosse sabedoria, que fosse ligado à natureza, à terra, aos animais, e por isto digo que encontrei minha tribo. Sou muito ligada a tudo isto. E o melhor, em minha busca pelo feminino acabei encontrando exatamente isto. 


segunda-feira, 12 de junho de 2017

JARDINS - VASOS

Os jardins não são feitos apenas de plantas e flores. Há inúmeras outras maneiras de alegrá-los e torná-los lugares aconchegantes e bonitos de olhar. 

Uma delas são os vasos que usamos para colocar as plantas ou os cachepots. E o melhor disto é que podemos decorá-los nós mesmas e deixar nossa assinatura no jardim. 

Podemos comprar vasos em cerâmica biscoito ou em terracota e decorá-los. E ideias não irão faltar. Podem ter o nome da planta, podem ser coloridos ou de uma cor só. Podem ter desenhos geométricos ou de paisagens. 

Podem ser para colocar na parede, no chão, nas árvores, na varanda, no jardim, grandes, médios ou pequenos, e de vários formatos. 

Cuidar de um jardim é uma terapia, algo que nos alimenta a alma. Também é um passatempo, um lugar nosso, onde podemos deixar para trás problemas, tensões, estress. Vale a pena fazer um, mesmo que seja um cantinho da varanda do apartamento, ou até mesmo o beiral da janela. Vale a pena ter plantas em casa, elas alegram o ambiente. 

No momento estou pintando vasos de cerâmica biscoito para colocar no meu jardim. 




São fáceis de fazer. Primeiro temos que limpar a peça com um pano úmido para tirar o pó. Em seguida eu selo o vaso com goma laca incolor para que ele possa receber água e terra. 
Pinto o vaso com uma cor de tinta acrílica brilhante, serão necessárias várias demãos. Em seguida você pode usar um estencil, desenhar, passar um desenho com lápis para o vaso. Depois é só pintar com tinta acrílica brilhante nas cores que quiser. Para finalizar após ele estar seco eu passo mais uma mão de goma laca incolor para terminar a selagem de proteção. Deixe o vaso em ambiente aberto uns dois ou três dias para que o cheiro da tinta saia. E pronto, pode plantar nele se tiver furos no fundo ou então colocar um outro vaso dentro dele. 

Outro modelo que tenho é um porquinho em terracota que comprei. A única coisa que fiz foi fazer a selagem dele com goma laca incolor para que ao colocar a terra e molhar ele não ficasse manchado com a absorção da água pela cerâmica. 


sábado, 10 de junho de 2017

JARDINS - CASAS DE PASSARINHO

Todos os dias de manhã alimento os passarinhos. Eles ficam me esperando, alguns no sentados no fio elétrico, outros no chão. No verão vinham as andorinhas, eram lindas. Davam rasantes na minha varanda. Uma acabou entrando na minha sala e fiquei pensado que ela poderia se machucar se batendo ou voando quando eu me aproximasse. Mas ficou quietinha, cheguei a tocá-la e depois abri a janela e ela voou. 

Tenho horror a pássaros em gaiolas. Eles precisam estar livres, voando, alegrando o mundo. Não funciona a desculpa de que periquitos não sobrevivem se soltos. Pode até ser, mas se não houvesse quem os comprasse não haveria demanda deles. 

O beija-flor vem aqui em casa por causa da Grevília e do hibisco, e no natal ele costuma bicar meu papai noel na janela. As rolinhas fazem seus ninhos aqui na minha samambaia. A noite tem uma coruja branca belíssima que as vezes pousa no meu murro. Eu nunca havia visto uma destas em liberdade. Tem um falcão que costuma sobrevoar minha casa. E tem os quero quero que são bravos, mas já dei muitas risadas com eles. O João de Barro uma vez se assustou com um gesto do meu filho que jogou uma minhoca para ele, mas inacreditável, em pleno voo ele freou e voltou, praticamente deu marcha a ré. Quando corto a grama ele fica junto ciscando na grama. 

Tenho casas de passarinho que eu mesma pinto. Compro elas prontas em MDF e solto a criatividade para deixá-las alegres e coloridas. 

Em todo este processo eu alimento minha alma. Cuidar, zelar, alimentar, pintar, observar, e sou premiada com os cantos deles, a beleza deles, e a companhia. 












FOTOGRAFANDO A NATUREZA - VERDE E TERRA

Já falei aqui sobre como gosto de sair fotografando pequenos detalhes, coisas inusitadas, diferentes, e como isto me dá prazer além de ser uma fonte inesgotável para a criatividade. 

Ao nos tornarmos observadoras ampliamos nossa capacidade de percepção e aprendemos a olhar. Somente quando fazemos isto é que percebemos o quanto passamos batido por tudo, olhamos um conjunto, um total, e rapidamente, e isto quando olhamos, porque somos capazes de passar todos os dias por um lugar e não ver nada. 

A introspecção, o mergulho dentro de si é ótimo, mas vivemos num lugar, num contexto, em uma situação, e este externo também nos afeta, e olhar para este externo com mais atenção pode mudar muitas coisas em nosso interior. 

Antes eu sempre andava com a máquina fotográfica na bolsa, hoje com o celular já não preciso fazer isto. Apesar de ainda sou daquelas que gosta muito de revelar as fotos e manter álbuns de fotografias para poder olhar calmamente e mais, algo que a cada dia diminuiu mais, os encontros com amigos onde mostramos as fotos. Hoje postamos no facebook e as pessoas curtem, muitas vezes sem olhar as fotos. E não tem as histórias daquelas fotos, de quando e como foi tirada, quem são aquelas pessoas e o que significam para nós. E já reparou que quando mostramos uma única foto o quanto de história ela gera para ser contada? 

A tecnologia é algo muito bom, mas devemos usá-la com critérios. Claro que facilita um único pequeno aparelho que permite muitas coisas e inclusive tirar fotos. Mas depois passe-as para um computador, mande revelar as que você escolher. 

Mas voltando ao que desejo falar hoje - fotografar a natureza. Por isto seguem algumas fotos minhas.

Esta árvore fica em Bombinhas - SC . Encantei-me com o emaranhado de troncos e galhos. Quantas possibilidades temos de uma única raiz? Para onde podemos crescer? 

Esta foi tirada em Santa Branca - SP no estacionamento de um restaurante. A delicadeza de seus cachos e as diferenças entre elas, algumas lisas, outras com pequenos nódulos. 

 A Pedra do Baú ao fundo, as montanhas, um terreno, a porteira de madeira. São Bento do Supucaí -SP
"Mato" na Colônia Witmarsum - a delicadeza destas flores vermelhas. É lindo. 

 É uma? são duas? embaixo é apenas um tronco. Campo Largo - PR 
 Olhem isto. A variação de tons. E lembra os bosques dos contos de fada. Campo Largo - PR
 Os nós neste tronco, a riqueza dos detalhes 
E esta árvore. Uma cidade de plantas? vejam a quantidade de hospedeiras. Estrada da Graciosa - PR 
Lúpulo na Bélgica. Aumentando a foto vemos a quantidade de teias de aranhas. 

Repararam na quantidade de tons de verde? na riqueza ecológica que este planeta tem? e os formatos, desenhos? Uma foto de um detalhe num quadro maior é tão rico em outros detalhes que podemos ficar horas observando e não conseguimos captar tudo. Agora pense se conseguimos captar numa visão que olha para o todo sem distinguir nada? 

A natureza é muito boa para refletir, observar, aumentar a compreensão e a percepção do mundo e de nós mesmos. 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

TRABALHOS MANUAIS - CRIANDO COM SUAS MÃOS

Neste mundo atual perdemos muito deste saber fazer. Encontramos em lojas o prêt-a-porter, blusas feitas em máquinas com lã sintética, o made in china, e assim vai. Tudo ali, pronto para comprar e usar. Quando muito conseguimos encontrar o trabalho feito à mão, mas infelizmente muito desvalorizado em termos financeiros, uma vez que é um trabalho que não se compara ao industrializado e tem que ter um valor maior. As pessoas acham caro, até querem, mas a um preço que é inviável para quem faz. 

Eu ainda tive a benção de aprender com minha mãe a costurar, tricotar, bordar, fazer crochê. Me ative mais ao tricô e a costura. Mas andava frustrada. Meu pai trabalhou em um lanifício, e eu gosto da lã natural, aquela que tem cheirinho de carneiro e que esquenta mesmo. Qual não foi minha alegria ao descobrir em Campos de Jordão a  Mãostiqueiras. 

Elas desenvolvem um trabalho maravilhoso com a preservação e ajuda aos criadores de ovelhas da região da Serra da Mantiqueira. A lã é feita na roca, é fiada, e depois elas trabalham ou no tear ou no tricô com agulhas. Fico muito feliz que esta recuperação uma vez que nas últimas vezes que fui à Campos do Jordão já não encontrei as malharias típicas da região do tempo da minha adolescência. 

Comprei a lã pura e natural, mas tem colorida também. Tive o privilégio de conhecer a Juliana que cuida disto tudo. E meu sonho é aprender o tear. Já procurei muito aqui onde moro, mas não encontrei ninguém que ensinasse a fiar e tecer. 

A arte de fazer com as mãos é algo que nos faz bem, é uma terapia, acalma, e revitaliza nossas almas. Aos poucos vai surgindo uma blusa, uma manta, um tapete, uma tapeçaria, uma almofada, não importa, o que se deseja fazer. Ao invés de comprar tudo pronto, podemos fazer. Esta valorização do fazer está se perdendo, e estamos nos acostumando a comprar tudo pronto, e feito de material sintético, industrial, muitas vezes importado de fora. Se você não tem tempo para fazer, ou realmente não gosta, então opte pelas artesãs que ainda mantém vivo este processo manual, mas valorize o trabalho e o tempo delas, este tempo que você não tem e elas dedicam ao fazer. 

Há uma imagem pejorativa sobre mulheres prendadas, que seriam mulheres submissas, do lar. Imagem esta que interessa ao consumo, e as empresas. Não se deixe levar por isto, nada é mais gratificante que criar com suas mãos. 

Estou falando de mulheres, mas muitos homens também fazem belas peças com suas mãos. E porque não um homem costurar, tricotar? Por que a sociedade verá isto como algo afeminado. Isto é uma questão cultural, mas que não deixa de ser alimentada também pelo consumo e pelas empresas. Um homem talvez não se interesse por tecer uma manta, mas quando ele tece uma rede de pesca? Também está fazendo com as mãos. Temos escultores, talhadores de madeira, cozinheiros, ceramistas, e também tapeceiros. 

Quantas opções temos, quantas coisas podemos fazer. Pensem nisto, em tudo que você mesma pode produzir e aos mesmo tempo isto te fará bem, alivia o estresse diário, acalma, te coloca em contato consigo mesma, e é uma relação de sua mente com seu corpo. 

Eu gosto de tricotar ou de fazer uma tapeçaria à noite, aconchegada no sofá vou fazendo. Isto retira todo o excesso de energia do dia, toda aquela adrenalina que acumulamos ao longo do dia, seja no trânsito, seja na correria, seja com prazos, com excessos de tarefas a serem cumpridas. É um momento de calma, de lazer e que não permite que sua mente fique remoendo coisas ruins. Porque se começamos a remoer acabamos errando o que estamos fazendo. É preciso um certo grau de concentração, mesmo que a prática permita que você até escute uma TV enquanto trabalha. 

Temos o tricô, o crochê, o macramê, o tear, a costura, os bordados, para falar de alguns trabalhos manuais. Você pode fazer desde roupas e acessórios até coisas para casa, presentes, etc. E com as sobras de lã, linha, tecidos criar outras coisas. 

Pense em quantas coisas lindas podemos fazer para nós, para a família, para os amigos e para nossa casa. E no quanto isto nos fará bem mentalmente. 




terça-feira, 6 de junho de 2017

FEMININO NATUREZA X CULTURA



Em minha busca por leituras, filmes e estudos sobre o feminino com a pretensão de um dia escrever um livro sobre este tema, tenho encontrado muitas coisas interessantes. 

Não se trata de forma nenhuma de algo feminista, pelo contrário, não estou em busca de igualar ou diferenciar a mulher do homem, mas de encontrar o feminino por si mesmo, como sujeito, como ser e existir, ou seja, como equivalentes sem ser iguais. 

Nestas andanças comecei a questionar a questão da passagem da natureza para a cultura com a proibição do incesto,  que segundo antropólogos, principalmente Claude Lévi-Strauss, seria o momento da passagem para a linguagem, deixando para trás o aspecto da natureza carnal, selvagem, natural, e a entrada no social. Sem discutir a validade desta questão para a antropologia e também para a psicanálise,  tenho notado que talvez esta visão acabou levando a uma posição do homem como superior, principalmente quando se estuda a história da mulher no mundo e a sua opressão, submissão, e colocação como o outro, o segundo sexo como disse Simone de Beauvoir, levando a mulher a ter que lutar por direitos, para poder estudar, até mesmo para poder ler e escrever, como foi com Sóror Juana Inés de la Cruz. Com este ato muitos a consideram masculinizada, o que ela não foi,  mas foi no social e na cultura da época, pois livros era o mundo dos homens. 

Vejam o que diz Serge Moscovici sobre a passagem da natureza para a cultura:

"O universo masculino e o universo feminino deslocam-se ao longo de duas órbitas distintas, em direções opostas. Os homens vivem num mundo de símbolos, as mulheres num mundo de valores; aqueles conhecem o casamento através da aliança, estas a aliança através do casamento; para eles o parentesco é um meio, para elas é um fim. A proibição do incesto marca a passagem da natureza para a cultura, mas ela é também a passagem de um estado em que o mundo feminino e o mundo masculino eram equivalentes a um estado em que este tem precedência sobre aquele (grifo meu), e que marca com um sinal positivo tudo o que nele se inclui e com um sinal negativo tudo o que dele está excluído." (in Elogio da diferença o feminino emergente - Rosiska Darcy de Oliveira). 

A questão é que quais seriam os modelos, as referências para uma mulher ser equivalente ao homem, e não superior ou inferior ou igual? 

A mitologia pode nos ajudar, é o que encontrei no livro de Joseph Campbell - "Deusas Os mistérios do Divino Feminino", e também as lendas e contos podem nos ajudar, o que vamos encontrar no livro de Clarissa Pinkola Estés - "Mulheres que correm com os lobos". Sempre é bom lembrar também que os Contos de Grimm foram alterados, mas já temos uma edição que recuperou os originais destas histórias. Estés também escreveu um livro sobre estes contos. 

Antes da religião temos a mitologia, os deuses, que serviam para guiar nosso psiquismo, davam respostas ao caos e ao que não se compreendia. Todas estas histórias não devem ser levadas ao pé da letra, mas segundo seu significado simbólico. São instrutivas, e alimentam nossa alma, nosso psiquismo. 

Campbell nos diz em seu livro sobre as Deusas - "Muitas das dificuldades que as mulheres enfrentam nos dias atuais decorrem do fato de estarem adentrando um campo de ação no mundo que antes estava reservado aos homens, e para o qual não há modelos mitológicos femininos. Em consequência, a mulher se vê num relacionamento competitivo com o homem e nele pode perder o senso de sua própria natureza. A mulher é algo por direito próprio..." (pg. 17). E ele continua - "O desafio do momento - e há muitas que o estão enfrentando, aceitando e reagindo de modo feminino e não masculino - é o desafio de florescer como indivíduo; nem arquétipos biológicos nem personalidades que emulam o masculino." 

Agora retomo meu  post anterior com a Vênus que fiz em argila. A Vênus é a representação do feminino no Paleolítico. Há lendas antigas onde os homens assassinam as mulheres por serem detentoras do poder mágico ( vida e morte) para se apropriarem deste conhecimento. Esta magia é da natureza, dar a vida e nutri-la. 

Agora vejam este trecho do livro de Campbell - "Na visão antiga a deusa Universo estava viva, ela mesma constituía organicamente a Terra, o horizonte e os céus. Agora ela está morta, e o universo não é mais um organismo, mas uma construção na qual os deuses repousam cercados de luxo, não como personificações das energias pelo seu modo de agir, mas como inquilinos de elite, que precisam ser servidos. E o Homem, portanto, não é uma criança nascida para florescer em conhecimento de sua própria porção eterna, mas um robô concebido para servir. " (grifos meus). 

Mais adiante no livro de Campbell vamos encontrar - "É esse o principal papel mitológico do princípio feminino. A mulher nos dá à luz fisicamente, mas é também a Mãe de nosso segundo nascimento - nosso surgimento como entidades espirituais". Eis a passagem da natureza para o espiritual que é muito mais plena e sem submeter a ninguém - A mulher nos dá a vida, nascemos de forma natural, mas haverá um momento onde haverá o despertar do espiritual, "... e não aquela que apenas imita o mundo das necessidades animais, dos impulsos eróticos, de poder e do sono". Uma vida acima do nível "do alimento, do sexo, da economia, da política e da sociologia", 

A mulher representa o despertar. E Campbell vai além, falamos muito da separação da mãe, principalmente em psicanálise, e mesmo na linguagem popular - cortar o cordão umbilical, agora vejam isto - havia rituais muito antigos, como se pode ver na Caverna nos Pireneus - Les trois frères - onde há um longo canal que chega a um grande recinto " os meninos deviam passar por este canal do parto simbólico - nascendo não de suas mães pessoais, mas da Mãe Universal transpessoal, que leva cada um de nós a maturidade". Ou seja, novamente a mulher é o despertar e quem separa os filhos da mãe físicas e os transforma em filhos da Mãe cósmica. Isto, apesar do processo ser o mesmo, é muito diferente do corte feito pelo pai com a Lei. 

O princípio masculino está ligado à sociedade, o feminino opera como si mesma, a partir de si. E aqui é importante ressaltar que não se trata de subjugar o masculino desta vez, pelo contrário, mas que ambos os princípios precisam estar presentes. O pai é o iniciador do social, e neste aspecto a passagem da natureza para a cultura está correta, mas a mãe representa a própria vida, ela revela, é o aspecto espiritual, é a passagem da natureza para o espiritual. Aqui temos equivalência em suas diferenças. O masculino é a aliança no social, o feminino é o elo entre dois mundos. 

Quando ficamos apenas no princípio masculino há falta, há desequilíbrio. O mundo de hoje que estamos vendo, percebemos que algo não deu certo, é muito claro isto. Há a falta do princípio feminino, que está presente, mas ainda é insuficiente. 

sexta-feira, 2 de junho de 2017

DANÇAR


foto retirada do google. 


Não sou uma pessoa que gosta de academias ou de esportes, porém o corpo precisa de movimento. Gosto muito de caminhar, mas confesso que só faço isto quando estou em algum lugar num passeio. Não consigo sair diariamente para fazer uma caminhada, há sempre uma desculpa ou é preguiça mesmo. 

Dias atrás eu assistia "Aquarius" e encantada diante da força daquela mulher - Clara - interpretada por Sônia Braga, que passou por um câncer onde teve que retirar um seio, o que acabou mutilando não só seu corpo, mas sua feminilidade e diante de todas as outras questões pelas quais ela passa, em determinado momento eis que ela coloca um disco de vinil com uma música de Roberto Carlos e começa a dançar na sala de sua casa. Na hora percebi a sintonia entre ela e seu corpo, entre sua mente e corpo. 

A dança sempre foi utilizada em muitos rituais, para expressar algo que não se consegue falar, para sentir o corpo. Os Derviches dançam uma dança-meditação, encontram o espiritual através da dança. Os índios dançam, na América Latina se dança para cultuar Nossa Senhora. Há inúmeros exemplos. 

Comecei então a pensar que dançar e cantar são libertadores, acalmam a alma, nos recompõem, é uma maneira de apaziguar as angústias, de relaxar, de meditar, de ir ao encontro de si mesma. Libera o que há de pesado em nós, de ruim, a raiva, o medo, o ódio. Claro, há danças para a guerra, mas mesmo assim, é talvez uma forma de adquirir maior concentração, de controlar os impulsos de ódio e raiva. A dança e a música sempre foram formas de expressão, de culto, de comemorar, de agradecer, de sinalizar algo, de festejar, de chorar. 

Foi quando me deparei com Pina Bausch, que apesar de não ser totalmente desconhecida, eu nunca havia procurado saber mais sobre ela e principalmente, nunca a havia visto dançar. E eis o que ela mesma diz: "Amo dançar porque sempre tive medo de falar". 

Aqui não vou me reter a falar desta magnifica mulher, mas o que gostaria de dizer é que dançar é algo que pode nos ajudar e muito. Não precisamos ir para uma academia de dança de salão, nem estou falando de bailes ou locais para dançar, mas de dançar em casa, de soltar o corpo, de deixá-lo bailar. Ao invés de nos retesarmos num canto, encolhermos, dancemos, rodopiemos, deixemos o corpo falar, seja de uma dor ou de uma alegria. Seja de raiva ou de alegria. 

Se encontre com seu corpo, sinta-o, deixe-o fluir. Tudo que retemos, que não falamos somatiza no corpo. Então se não conseguimos falar, ou a emoção é forte demais a ponto de fazer o corpo tremer, solte-o, comece a girar, a dançar, até ficar suave. Abrace seu corpo e dance com ele.