quarta-feira, 19 de julho de 2017

PINTURA EM TELA x VIVER



As vezes pensamos que não temos capacidade para tanto, mas quando colocamos a mão na massa com amor e dedicação vai saindo algo e quando olhamos nem acreditamos no que fizemos. 

Muitos anos atrás eu fiz um curso rápido de pintura em tela. Eu tinha em torno de 13/14 anos e pintei 03 telas. Depois o curso acabou e confesso que nunca me senti segura para pintar telas apesar de um enorme desejo. 

Então este ano procurei algum lugar que tivesse um curso e encontrei aqui mesmo onde moro no Atelier da Ariane com a artista Angela Moreira Costa. E lá fui eu. Este quadro acima é o primeiro que estou tentando fazer, a Angela tem dando suas pinceladas nele para me ajudar e mostrar como fazer e estou adorando. Não está finalizado ainda, mas em breve estará. E vou continuar por ali para ir aprendendo cada vez mais e me aperfeiçoando nesta arte. 

É muito diferente de pintar gesso, cerâmica e MDF que já faço. E isto nos ensina sobre viver também. Nas peças que faço há limites bem definidos, e mesmo no Bauer você está dentro de um espaço definido e pinta em formato de gotas puxando a tinta por cima da outra. Já a pintura em tela te ensina a mesclar, esfumaçar, salpicar, sombrear. As tintas entram uma na outra, os limites nem sempre são definidos, há um esboço que nos guia, mas tirando as paredes da casa e da ponte o restante ocupa um espaço sim, mas não é definido de forma exata. 

E isto te dá uma liberdade muito maior, libera sua mão. É interessante eu perceber o quanto é difícil liberar a mão, deixá-la ir, arriscar nas misturas e ver o efeito. E aí fico pensando no quanto na vida também acabamos andando em espaços delimitados, agindo de maneira conhecida e sem sair muito destes riscos ou espaços que criamos e temos. Também arriscamos pouco em mesclar as coisas, misturar, esparramar, salpicar na vida. Sempre ouvimos que temos que ser mais objetivos, seguir uma linha, um mestre, uma rota, um caminho traçado e atingir a meta lá no final. 

Ainda ontem ouvi que quero fazer muito, mesclar muito. Sim, exato, estou aprendendo a mesclar, a soltar, a liberar, a sair fora de linhas demarcadas. Somos tão automáticos. Sempre fazemos o mesmo caminho para casa, nunca mudamos de rua, sempre vamos na mesma padaria, que até pode ter um pão gostoso, mas porque não experimentar outra para ver o que tem, vestimos sempre um mesmo estilo, mas porque não experimentar, nem que seja no provador, outro estilo ou cores? receitas novas de culinária, outro jeito de fazer, assistir um tipo de filme ao qual não estamos acostumados, como no meu caso ver uma ficção científica. 

O sombrear nos ensina que há sombras sim na vida, que nem tudo é claro e brilhante. Mas também percebemos que as sombras são necessárias e acabam dando mais vida. Esfumaçar as coisas que pesam demais, deixar as cores se misturarem em nossas vidas também, e o mais legal, a tinta a óleo é muito fácil de misturar para criar outras cores, então vamos criar coisas novas em nossas vidas com o que já temos a disposição. 

O ato de pintar uma tela liberta nosso cérebro, nossa mão, e é aí que percebemos o endurecimento, o automático, ao invés do fluir, do soltar. 

Além disto é interessante porque temos que primeiro fazer o fundo da tela, então pintamos o azul e o branco do céu com nuvens, para somente depois dar forma a isto com pinceladas, salpicadas, chapiscando, espatulando. E isto nos ensina que algo que pode parecer sem graça, básico pode se transformar em algo muito bonito e interessante. 

Conheci uma artista que tinha imensa dificuldade em dar vida a um rosto, ela mesma comentava que não conseguia deixar o rosto leve, fluido. Quando penso nas características desta pessoa, de como ela levava sua vida, na forma como pensava e agia, percebo que ela não vai conseguir enquanto não se soltar, aceitar que as coisas podem se mesclar, sair da linha. Ela é muito sistemática, mas pinta flores maravilhosamente bem, talvez por amar a natureza e compreendê-la melhor que ao ser humano. 

Estas aulas de pintura estão me fazendo um bem enorme, e além disto tudo é muito prazeroso passar um tempo em meio a mulheres que falam, conversam, choram e morrem de rir. 


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